Eu estou melhor sem ela. Eu estou melhor sem ela. Eu estou melhor sem ela. E sei que se eu repetir isto diversas vezes durante toda a semana, talvez eu comece a acreditar.
Tem três meses que Alison está namorando. Três meses que nossa realidade é outra. Três meses que meus pais me perguntam por que Alison não frequenta nossa casa regularmente mais. Três meses que os pais de Alison parecem ter ganhado na loteria de tão felizes que estão com o novo "membro da família". Três meses que Jack tem certeza absoluta de que não era apenas amizade entre mim e Alison, e guarda segredo de Spencer e Lilian. Enfim, três meses do nosso novo normal.
Ao menos ela parece estar feliz. Todos os nossos encontros contam com a presença de Nathan agora. E Ali sempre sorri com ele, sempre o beija e o abraça, demonstra carinho e afeto, olha de uma forma diferente. É engraçado porque, com exceção de Jack, todos apoiam o relacionamento e falam o tanto que eles combinam, como se tivessem sido feitos um para o outro. E talvez vocês estejam se perguntando o motivo da graça... Bom, eu e Alison também parecíamos ter sido feitas uma para a outra, até nossa amizade parecia ter sido puro destino, e sabemos bem onde isso terminou.
Tento ignorar tudo de ruim que sinto, tento pensar em outras coisas, não me sentir sozinha e as vezes até oro para que isso passe, mas parece que estou falando sozinha, que ninguém está me ouvindo. E, com isso, sempre me questiono o porquê de eu continuar orando então; eu ainda não sei a resposta.
As músicas tristes fazem parte do meu cotidiano, assim como os péssimos filmes de comédia romântica. Vez ou outra me pego sonhando como seria se eu e Alison estivéssemos protagonizando nossa própria história. Patético, eu sei! Só não é mais patético do que quando me lembro de algo nosso e disparo a chorar, seja no meu quarto ou no colo de Jack que tem se mostrado mais compreensível do que nunca.
Demi Lovato estava mais do que certa quando disse que não dava para colocar band-aid no coração ou algo do tipo, que não se dá para consertar um coração. E é bizarro porque todas as feridas que estão abertas em mim, fui eu mesma quem abriu! Alison tentou até o último segundo fazer com que nossa história fosse diferente, mas infelizmente minha fé cega, meus medos e preconceitos impediram que isso acontecesse. E agora eu realmente torço para que ela seja feliz com quem está.
Claro que não é tão fácil assim, ainda mais para uma pessoa tão confusa quanto eu. Frequentemente tenho vontade de dizer aos meus pais que eu e Alison nos afastamos porque eles me ensinaram que amá-la da forma como eu amo é errado. Mas o que seria da vida deles se eu os confessasse isto? Também tenho vontade de pedir para que Alison fique comigo ao invés de ficar com o Nathan, mas quem garante que na primeira dificuldade eu não irei embora? E se eu torço para que ela seja feliz com ele, por que a desejo tanto? Por que desejo estas coisas?
Questiono tudo que sinto e que penso, mas não consigo achar respostas para nada. Apenas sei que gostar de alguém do mesmo sexo que o seu é extremamente complicado e faz com que você entre em conflito com tudo aquilo que você acredita, tudo aquilo que você, até então, é.
Eu não consigo me olhar no espelho e dizer em voz alta que gosto de garotas. Consequentemente, eu não consigo encarar os meus pais e dizer em voz alta que gosto de garotas. Na realidade, eu não consigo nem pensar nisso quando estou perto deles. Para mim, este é um dos piores crimes que eu poderia cometer contra eles. E eu sei que isso me custa algo, mas prefiro assim do que machucá-los ou contrariar tudo aquilo que eles acreditam.
Ontem fui à igreja e o padre estava falando sobre a homossexualidade. Em Levíticos 18:22 está escrito: "Não se deite com um homem como quem se deita com uma mulher; é repugnante." Já em Levíticos 20:13, "Se um homem se deitar com outro homem como quem se deita com uma mulher, ambos praticaram um ato repugnante. Terão que ser executados, pois merecem a morte." Além destes, existem outros deixando claro quão detestável este ato é. Se isso é o que eu acredito, o que os meus pais acreditam, como eu posso me deixar levar? No fim, eu irei merecer a morte, certo?!
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Imagine eu e você
Roman d'amourEmily sempre foi a garota de seus pais. Inteligente, estudiosa, educada e cegamente religiosa, a menina se deixou acreditar em tudo que escutava de seus pais e da Igreja, e parecia ser feliz desta maneira. Entretanto, na adolescência, a jovem se apa...