– Pode deixar que eu não vou sumir mais. – Alison disse, subindo as escadas, evitando mais alguma pergunta dos meus pais.
Às vezes eu tenho a impressão de que meus pais sentem mais falta da Alison do que do meu irmão que está na faculdade – e olha que já tem um tempo que ela voltou a frequentar aqui. Não sei se já contei a vocês, mas eu tenho um irmão mais velho, de 21 anos. Ele está no 5º período de engenharia e mora no campus desde que começou a estudar, mas vez ou outra vem nos visitar. Conversamos todos os dias por mensagem, porém eu estaria mentindo se dissesse que não sinto falta dele aqui em casa.
– Seus pais são um amor. – Alison disse, entrando no quarto e fechando a porta. – Mas eu juro que me jogo desse andar se eles me perguntarem mais uma vez porque eu sumi.
– Ah, não sei, senhor e senhora Drew, talvez porque sua filha não quis me beijar. – Digo, imitando a voz de Alison.
– Cala a boca! Seus pais podem escutar! – Ela disse, tentando esconder que havia achado graça.
Aos poucos tudo foi voltando ao normal. Hoje em dia eu e Alison fazemos piadas com a nossa própria desgraça. Ela continua namorando com o Nathan, mas não carrega ele para todo lado mais. No início ele achou ruim, mas depois voltou a andar com os amigos dele e agora não reclama mais.
É óbvio que Jack falou até a boca doer naquela noite. Eu escutei tudo calada e até concordei com algumas coisas, mas no fim tudo já estava resolvido. No dia seguinte eu e Alison já estávamos nos esforçando ao máximo para conseguir restaurar nossa amizade... E conseguimos! Claro que vez ou outra temos que nos afastar e contar até três, porque a vontade de nos beijarmos tenta falar mais alto. Seria cômico se não fosse trágico.
Agora, cerca de seis semanas após nossa conversa, nós estamos bem. Atualmente estamos lendo A menina que roubava livros naquele mesmo esquema: debaixo da arquibancada, eu faço carinho em Alison e ela lê em voz alta. Ela vem para a minha casa todas as quartas após as aulas e as vezes aos fins de semana – e sempre aguenta os mesmos questionamentos dos meus pais. Como eu já disse, eu não frequento muito a casa dela – e nem gosto por causa dos pais dela – mas vez ou outra eu apareço por lá apenas para ajudá-la em algum dever/trabalho ou quando os pais dela não estão presentes.
Enfim, deu tudo certo. Voltamos ao normal. Eu não a perdi, não perdi sua amizade, e no momento isso é a única coisa que importa.
– Podíamos ir ao cinema na semana que vem. – Ela sugere enquanto mexe em minhas coisas, como se já não soubesse tudo que estava ali. – Tem um filme de terror novo que parece ser horrível, mas quero ver para ter certeza.
– Depende do dia. Semana que vem é semana de prova e tem o aniversário do Jack no fim da semana. – Lembro-a.
– Hum, é verdade. Quantos anos ele vai fazer mesmo? – Ela se vira para mim, segurando um livro que me deu quando tínhamos 13 anos. – Esse livro é horrível. Não sei como eu tive a coragem de te dar isso.
– Ele vai fazer 17, eu acho. – Respondo-a. – E concordo. O livro é realmente ruim.
– Nathan gosta desse livro, fala que é uma linda história de encontros e reencontros, seja lá o que isso quer dizer. – Alison revira os olhos e guarda o livro aonde ele estava. – Às vezes eu acho que ele nem sequer leu essa porcaria inteira e fica tentando me impressionar.
– Ele não sabe que você não gosta do livro? – Questiono.
– E desde quando ele se importa com isso, Em? – Ela se vira novamente, me fuzilando com os olhos.
Provavelmente eles brigaram. Eles faziam muito isso, quase toda semana. Eu e Alison conversávamos sobre quando ela estava extremamente chateada e quase sempre ela estava chateada com algo. Na realidade, na maioria das vezes, ela se estressava por nada. Uma vez ela brigou com ele porque ele não quis comprar um sorvete de morango para ela. E, por favor, não a entendam mal, ela não é mimada, mas ela se tornava uma quando se tratava do relacionamento dela e quase ninguém entendia o porquê.
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Imagine eu e você
RomanceEmily sempre foi a garota de seus pais. Inteligente, estudiosa, educada e cegamente religiosa, a menina se deixou acreditar em tudo que escutava de seus pais e da Igreja, e parecia ser feliz desta maneira. Entretanto, na adolescência, a jovem se apa...