Esta noite sonhei que era uma adolescente rica vivendo na década de 60. Ao que parece eu tinha muita influência por conta da minha família – algo como ser filha da rainha – e por este mesmo motivo eu mantinha toda a minha vida em segredo. Um dos meus segredos era que eu gostava de mulheres e tentava sempre saciar meus desejos com garotas das quais não fazia ideia de quem eram, com exceção de duas que tive a leve impressão de se parecer com pessoas que conheço.
Uma vez li que nosso cérebro não cria absolutamente ninguém em nossos sonhos. Todas as pessoas que lá estão já foram vistas por nós ao menos uma vez. Se isso é verdade eu não sei, mas sei que a garota que eu espiava por cima do muro de uma casa se parecia muito com Kate, e a garota que eu havia beijado logo no início do meu sonho se parecia muito com Ali.
Freud tinha sua própria concepção sobre sonhos, dizia que esta era uma das maneiras de o inconsciente se manifestar. Psicanalistas adoram ouvir sobre seus sonhos, por mais bizarros que sejam, e tiram conclusões a partir disso. Fico me perguntando o que eles achariam do meu.
Quando encontrei Ali, no 3º horário, logo após a aula de história, tive a impressão de que continuava sonhando e toda a sensação de desejo que passava pelo meu corpo no sonho, passava naquele instante. Felizmente fui surpreendida por Lilian, que também adora sonhos e queria uma companhia para ir rapidamente ao banheiro. Deixei Alison ali mesmo, sem nem sequer dizer um oi, e acompanhei Lilian, mas é claro que não contei a ela nada sobre o meu sonho.
Horas depois descobri que Ali tinha dito para Jack que eu estava mudada desde que conheci Kate quando, na realidade, eu só não estava em condições de ficar perto dela e ela não podia saber o porquê. Estes desejos repentinos têm sido constantes e as vezes penso que pode ser por conta da puberdade, hormônios e todas estas coisas, porém nem sempre faz sentido.
Voltando ao meu sonho, Freud diria que esta é a maneira que meu inconsciente está tendo de se comunicar comigo para dizer que eu sou lésbica e, quem sabe, deveria começar a ficar com Alison e prejudicar seu relacionamento com Nathan ou dar uma chance para Kate. Freud sempre foi um homem sábio e talvez eu deva escutá-lo. Claro que devemos levar em consideração que Freud sou eu mesma tentando me convencer a fazer o que eu quero sem me sentir culpada por querer isso, mas isso são apenas detalhes.
Existe uma linha tênue entre o que eu quero e o que eu posso. E eu vivo um dilema considerado por muitos – com muitos eu quero dizer o Jack – interessante. De um lado eu tenho Alison e toda a sua beleza, suas qualidades e defeitos, seu amor e, bom, seu relacionamento – sem contar que ela é filha de pastor. Do outro eu tenho Kate e sua superioridade, sua inteligência e, é claro, sua incrível facilidade em não ter drama algum na vida.
Dentre estas opções eu quero a Alison, mas ao mesmo tempo quero passar mais tempo com Kate. E o que eu posso? Nenhuma das duas, pois meus pais me matariam e eu provavelmente seria obrigada a rezar 300 "ave maria" e 500 "pai nosso" só para começar a afastar o pecado do lesbianismo de mim. Talvez eu esteja exagerando, mas acho que pode ser algo bem parecido com isso.
Por muitas vezes, nas últimas semanas, pensei em mandar mensagem para Alison pedindo para que ela fosse dormir lá em casa ou algo do tipo, mas Deus me tocou e me impediu de fazer isso. E nos dias que, mesmo sem chamá-la, ela foi, eu consegui me concentrar apenas no que estávamos fazendo como conversar ou ver filme. Para falar a verdade eu não sei por que essa vontade tem crescido tanto nos últimos dias, mas está acontecendo e até rápido demais.
Na última sexta-feira eu quase a beijei no meio do pátio. Não fiz porque fui surpreendida por Jack. O olhar dele dizia tudo. Foi um momento extremamente constrangedor e depois disso ficamos os três sem saber o que dizer ou como agir, apenas sentados, encarando o tempo e torcendo para o sinal tocar logo. Como eu disse, constrangedor.
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Imagine eu e você
RomanceEmily sempre foi a garota de seus pais. Inteligente, estudiosa, educada e cegamente religiosa, a menina se deixou acreditar em tudo que escutava de seus pais e da Igreja, e parecia ser feliz desta maneira. Entretanto, na adolescência, a jovem se apa...