Capítulo 8

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Eu queria poder ser mais precisa sobre a distância entre o restaurante do meu tio e o bar de Clara, pra que toda a diferença entre aqueles dois lugares pudesse ser calculada, mesmo que mentalmente. Acho que, talvez, uns 20km separavam os dois lugares, era uma jornada de carro e os dois bairros - e as ruas, especialmente - eram dois opostos. Confesso que tive até medo de deixar meu carro sozinho e desprotegido naquele beco que ela parecia não sentir medo algum. Pode parecer preconceito meu, não é? Mas experimente pagar 220 mil reais em um carro e deixá-lo em um beco tomado por bêbados. Tudo o que eu conseguia pensar era que o seguro jamais acreditaria que um furto ali não seria planejado, porque nem de longe seria o tipo de lugar que eu frequentava.

O bar de Clara ficava em uma região onde haviam vários bares, de vários estilos. O dela, em particular, parecia abrigar um público mais voltado ao rock, e haviam casais hetero e gays também, o que poderia até ser bom na visibilidade, certo?

Precisei de quase um minuto inteiro para criar a coragem necessária para sair do carro. Eu tinha a impressão de que, antes de fechar a porta, eu já teria sido assaltada e estaria no meio da rua, seminua. Clara me acalmou, dizendo que todos ali a conheciam e nada aconteceria. Fácil pra ela dizer, não? Se alguém roubasse o carro dela, estaria fazendo um favor.

— Ei! - Chamei-a, quase ordenando, antes que ela se afastasse, e mostrei minha mão direita, sugerindo que a tomasse, para que entrássemos de mãos dadas. - Se vou entrar com você, quero que todos vejam que estamos juntas.

Aquela frase era parcialmente verdade; eu queria realmente que todos a vissem comigo, mas talvez, ali em particular, também fosse pela minha segurança.

— Está bem. - Clara deu de ombros, retornando e tomando minha mão.

— Você não costuma segurar a mão das garotas que namora? - Perguntei, em um tom provocativo, mas Clara apenas riu, sem me responder, enquanto me guiava para atravessarmos a rua vazia.

Aquele lugar era realmente um inferninho. De fora, parecia tão lotado que as pessoas já tinham que se acomodar do lado de fora, mas aparentemente beber fora do bar é algo que aquelas pessoas gostam de fazer, talvez pela sensação de liberdade... Ou pela lei que proíbe o consumo de cigarros em ambientes fechados. Haviam uns 4 ou 5 grupos com meia dúzia de pessoas, todas conversando e rindo, bebendo e fumando. Alguns cumprimentaram Clara quando chegamos, e ela parecia realmente conhecer aquelas pessoas, que provavelmente eram frequentadores habituais. Mas aqui vem a parte engraçada: Nenhum deles pareceu dar a mínima pra mim! É claro, eu não esperava ter fãs que vestem camisetas de bandas rasgadas e usam maquiagem escura; o meu público era bem oposto e aquela não era a minha plateia, nem a minha turma. Talvez fosse um troco bem dado, eu havia feito a Clara passar metade da noite com pessoas que ela não costumava estar, e na outra metade, era a minha vez. 

Clara me guiou bar adentro e, estranhamente, eu não me senti mal. Era um lugar bacana. Sabe aquele som de cem pessoas conversando ao mesmo tempo? Era diferente do som das pessoas que eu costumava ouvir nos lugares onde eu ia. Aquele som parecia de conversas reais, pessoas reais, assuntos reais, e provavelmente a maioria eram assuntos realmente interessantes. As pessoas se olhavam nos olhos, riam, dividiam a mesma garrafa de cerveja... Bem, aquele era um mundo novo pra mim. Talvez seja por isso que tantas garotas ricas se perdem nesse mundo; se eu conhecesse um motoqueiro aos 17 e ele me levasse a esse submundo, seria difícil resistir à tentação. Eu me senti entrando em uma seita secreta, algo totalmente novo do mundo que eu vivia. Acho que meus braços até arrepiaram, ou talvez fosse só o ar-condicionado.

— Quer beber alguma coisa? - A voz de Clara sussurrou ao se aproximar do meu ouvido.

— O que você for beber. - Eu não ousei fazer pedidos.

Sob Minhas Condições (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora