Capítulo 23

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Eu não soube definir de imediato se o que eu havia feito era uma traição.

Apesar de não ter nenhum tipo de relacionamento de verdade com a Clara e nunca termos conversado realmente sobre o que sentíamos uma pela outra, mesmo não tendo exposto o que eu sentia, eu sabia que havia alguma coisa dentro de mim, então eu era, no mínimo, uma pessoa desonesta comigo mesma, e uma péssima sócia, já que o nosso contrato especificava que não poderíamos nos relacionar com outras pessoas.

Além do mais, era fácil perceber que eu estava fazendo com ela o mesmo que Felipe havia feito comigo, e eu me senti traída, mesmo sem sentir nada por ele.

Ficamos em silêncio por vários minutos. Tantos minutos, tantos... O de Clara era nitidamente por opção, já o meu era de vergonha, de quem pensava em uma boa justificativa, mesmo sabendo que não havia. Pela forma como ela dirigia, eu sabia que estava possessa, e com razão. Talvez, se ela estivesse sozinha, teria dirigido ainda mais imprudente do que dirigiu comigo naquela noite. Depois de um tempo, pela rota, eu percebi que estávamos indo em direção à minha casa, e apesar de pensar que preferia que fôssemos à casa dela pra conversar, eu aceitei que ela fosse até a minha. Eu devo ter sido muito inocente em pensar que ela realmente gostaria de conversar sobre aquilo.

Vários minutos depois, chegamos na minha casa. Nos identificamos na portaria e ela seguiu para dentro da propriedade. Quando passamos pelos portões, uma chuva anunciou a presença no para-brisa, como se nos esperasse. Talvez os olhos dela tenham sido distraídos brevemente por aquelas gotas aleatórias, que o limpador logo caçou, em uma tentativa breve de aliviar a visão dos olhos. Mas assim que o motor do carro desligou em frente à porta de entrada da casa, éramos só nós novamente. O som das gotas mais grossas caindo sobre o para-brisa e a lataria do carro tornavam nosso silêncio ainda mais doloroso. Clara não me encarava e me impossibilitava de ver o que tinha nos olhos, mas eu podia ouvir na sua respiração o quanto ela estava decepcionada comigo.

— Clara, eu...

— Não tenta explicar nada, Larissa. – Ela me interrompeu, tentando não soar rude com as palavras.

Ali, e só ali, eu percebi que a ideia de eu ficar com outra pessoa também a magoava. Eu não posso mentir, eu realmente teria ido além com Alex, mas não consigo entender o porquê. Talvez eu só quisesse fugir do mais óbvio, e correr de volta pra vida fácil que eu tinha antes dela. Ela sentia a mesma dor que eu sentia quando a imaginava com outra pessoa, a única diferença ali é que ela havia, de fato, me flagrado em um ato já muito comprometedor.

Clara se manteve em silêncio, quando poderia ter me jogado na cara o fato de que eu estava descumprindo uma cláusula específica do nosso contrato, que daria à ela todos os direitos previamente estabelecidos... Mas o nosso contrato parecia ser o de menos pra ela. Enquanto ela encarava o lado de fora pelo vidro umedecido e as gotas de chuva que escorriam, tudo que eu via era ela.

— Clara...

— Vai pra dentro, Larissa, só... Vai.

O meu coração apertou. Foi ali. Quando eu ouvi o tom de voz dela, que nitidamente continha um choro magoado, foi ali que eu percebi que o nosso envolvimento já havia cruzado as linhas de qualquer relação profissional, se é que algum dia realmente havíamos tido algum laço profissional.

— Não vai me deixar explicar?

— Você... Quer mesmo tentar explicar? Eu vi, Larissa. – O tom de decepção dela me cortava como uma faca afiada. – Eu vi. Eu... Eu só... Chega.

— Me perdoa, Clara.

Clara balançou a cabeça negativamente, rindo baixo em um tom de leve desespero, mas a resposta dela foi oposta à postura que tinha.

Sob Minhas Condições (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora