Capítulo 13

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Da mesma forma que eu dormi, eu acordei. Na verdade, tudo ao meu redor estava exatamente igual. Ou melhor, quase tudo: Faltava a garota com quem eu havia dormido.

Eu estava sozinha na cama, totalmente nua entre os lençóis. Assim que eu me dei conta de que o Sol já havia nascido e eu havia passado a noite inteira ali, percebi que o João notaria a minha ausência assim que acordasse. Pulei da cama no mesmo segundo e passei a caçar as peças de roupa pelo chão, me vestindo com pressa. Quando já estava decente, eu senti raiva da Clara. "Porra, custava ter me acordado?"... Bufei e foquei em tentar me livrar de qualquer indício que pudesse me incriminar do que havia acontecido ali na noite passada. Ajeitei os lençóis pra que parecessem bagunçados só pela minha noite de sono, e não pelo sexo que havia acontecido ali. Saí do quarto observando tudo ao meu redor e virei as costas pra dar toda a minha atenção à porta, tentando fechá-la sem um ruído sequer.

— Ah, acordou!? – A voz do João me fez gritar agudo e pular com o susto do flagra.

Me virei sem saber o que ele diria, mas esperei que ele começasse a falar antes de confessar meu crime. Eu gaguejaria até pra respirar ali.

— O que foi, tem um fantasma atrás de mim? – Ele gargalhou, se aproximando.

— Não... N-Não, é que...

— Eu sei, você me abandonou. Sua namorada me contou que você veio exigir sua cama depois que eu dormi. Fala sério, Larissa, eu nem ronco tão alto assim.

— Onde ela tá?

— Dormiu lá fora, né? Foi o que sobrou. Você é uma bruxa, nem eu faria isso com ela. – Ele riu, cobrindo a boca com a mão em tom de deboche.

Eu ainda estava desnorteada com tudo. Não fazia ideia de que horas eram, o que tinha acontecido comigo e muito menos o que havia acontecido com a Clara. Tudo o que eu lembrava era de ter dormido com a leveza de uma nuvem, inclusive quase flutuando, e a Clara estava do meu lado quando isso aconteceu. Era óbvio que ela havia fugido no meio da noite pra que não dormíssemos juntas. E palmas pra ela por isso, afinal, era mais sensata do que eu, não é? No meio da noite, eu deslizei até a cama dela e fiquei por lá, então ela deu um jeito de se safar.

Subimos até o lado de fora e Clara estava sentada sobre um dos sofás.

— Bom dia. – Ela me cumprimentou com uma normalidade absurda, tão absurda que eu fiquei sem reação.

— ...Bom dia. – Respondi, de cenho franzido. Por um segundo, eu me perguntei se eu não havia sonhado com a noite passada.

— Vamos beber alguma coisa. – João chamou nossa atenção para si. – O que tem no frigobar?

— Cara, são 9 da manhã. – Clara torceu o nariz, como fazia com quase tudo que saía da boca dele.

— Ah, foda-se. – Ele deu de ombros, voltando-se a mim. – O que você quer beber?

O meu raciocínio ainda estava lento demais pra entender como Clara conseguia fingir que absolutamente nada havia acontecido.

— Eu... Não quero beber nada. Acho que só um café. – As palavras saíam de mim com um tom também desnorteado.

— Argh, sinceramente...

João deu as costas e seguiu até o bar, nos deixando a sós. Alguns segundos depois, um funk começou a tocar nas caixas de som, e me certificou de que ele já estava em outro universo distante de nós. Eu fiquei em silêncio, sem saber o que dizer, sem saber pra onde olhar. Tudo o que eu conseguia pensar era na noite passada; no corpo dela em cima do meu e as nossas peles roçando, a ponta do nariz dela deslizando pelo meu pescoço e o meu rosto, os dedos dela e as sensações que eu havia sentido. Um arrepio chato e insistente teimava em tentar descer pelos meus ombros sempre que eu lembrava, mas eu recuperava a sanidade a tempo.

Sob Minhas Condições (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora