Capítulo 3

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Quando o som da música alta que rolava na casa deixou de ser uma sequência de batidas abafadas e voltou a ser nítido aos meus ouvidos, eu me dei conta de que estava retornando à cena do crime. Ali, o meu coração disparou. Eu sabia que todos que me vissem tomariam a porra do iPhone do bolso, filmando a reação da corna, chifrada dentro na própria casa. Senti minha mão começar a suar. O meu sorriso determinado começou a enfraquecer e os meus passos começaram a ser mais curtos e muito menos firmes. Senti a minha pele ficar gelada. Merda. Eu estava à beira de uma crise de pânico. Eu já conseguia ver todos rindo de mim.

E aí... A Clara apertou minha mão. Talvez tenha sentido o suor gelado, ou a minha mão trêmula, mas Clara me sentiu, perfeitamente. Eu estava vivendo um dos piores momentos da minha vida, e tudo que eu tinha era uma completa estranha. Sem família, sem amigos, sem namorado. Eu me senti abandonada e decidi me apegar à única coisa que me segurava, quase literalmente.

— Fica calma. – Ouvi sua voz pedir, e respirei fundo.

— Você sabe onde fica a saída?

— Sei, tá tudo bem. Só fica atrás de mim. 

Quando surgi novamente na festa, todos que me viram vieram imediatamente na minha direção. Eu não fazia ideia de que em algum momento da minha vida eu odiaria ser o centro das atenções.

— Merda. – Clara falou, confusa. Parecia que nós estávamos sendo cercadas por zumbis.

— Só continua andando.

Eu evitei o contato visual com todos. Eram tantas, tantas, tantas vozes ao mesmo tempo, que eu não conseguia entender nada do que as pessoas falavam ou me perguntavam. Eu só queria sair dali, de verdade. O que era irônico, afinal eu estava na minha própria casa, e todas aquelas pessoas estavam lá por um convite meu... Exceto a pessoa que me tirava de lá.

Clara caminhou até o estacionamento improvisado na entrada da propriedade e me levou até o seu carro. Eu só conseguia olhar para o chão e fugir das luzes e flashes e toda aquela gritaria desnecessária. Até onde as pessoas vão pra conseguir conteúdo? Eu só respirei aliviada quando entrei no carro dela e fechei a porta, mas ela parecia saber que aquilo não era o fim, era só o começo.

— E agora? – Clara me olhou, contendo o nervosismo.

— Agora vamos!

Merda de paparazzis. Por meses, eu esperava por eles, e eles apareceram justamente quando eu queria ficar sozinha. Mas Clara me mostrou naquela noite que sabia fugir. Ela pisou tão fundo que eu me senti num filme. Com toda certeza, eu posso garantir que ela já havia fugido de alguém antes. Aquela garota fez todo mundo comer poeira.

— Então... – Ela puxou assunto quando o único som que ouvíamos era o do motor do carro dela, parecendo até um pouco em choque. – Você é famosa mesmo, hein?

Nossa, como eu gostei do tom daquela frase.

— Achou que era mentira?

— Não, mas... Que porra foi essa?

— Com o tempo, a gente acostuma. Merda, eu não consegui pegar a bebida!

— Banco de trás. – Clara apontou, sem tirar os olhos da estrada.

Virei meu corpo e a minha vodka preferida estava deitada sobre o banco de trás

— Cereja! Como você sabia? É minha favorita!

— É cereja? – Ela riu. – Sei lá, eu só peguei o que vi na frente. 

Aquela garrafa seria a minha salvação. Virei vários goles, dessa vez com gosto. Eu lembro de Clara me avisando pra pegar leve, mas acho que ela quis respeitar o meu luto e simplesmente me deixou chutar o balde.

Sob Minhas Condições (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora