Na primeira vez em que eu perdi Clara de vista e a reencontrei, ela estava em pé, em frente à uma mesa repleta de bebidas, sozinha, observando cada detalhe de um lustre pendurado sobre o saguão.
— Ei! Você tá aí! – Me aproximei com certa pressa. – O que aconteceu?
— Nada, só... Não quis te atrapalhar.
A atenção dela ao lustre parecia importante demais para voltar sua atenção para mim, mas ela o fez, quase como um favor.
— Por que acha que estava me atrapalhando? – Franzi o cenho, realmente com a dúvida.
— Porque eu estava. – Clara respondeu tranquilamente, como boa sócia daquela jogada.
— Não, Clara, não tem nada a ver, essas coisas são assim, eles perguntam sobre nós e depois sobre mim, é normal, a mesma coisa acontecia com o Felipe.
—Larissa, tá tudo bem, você pode ficar a sós com o seu amigo. – O tom de voz dela deixava claro que sabia que o Flávio e eu já nos conhecíamos muito bem.
Eu não sei se houve um leve tom de ciúme naquela frase ou se eu quis que houvesse.
— Clara, ele é jornalista, um repórter. Ele está trabalhando e eu também. Vai bancar a ciumenta?
— Você entendeu os meus sinais errado. – Ela soltou uma risada nasal que quase debochava de mim. – Estou te dizendo pra ir. Eu vou ficar bem, é uma festa, já estive em centenas.
Eu não sabia se aquilo era um teste ou uma carta de alforria. Parte de mim queria estar com ela e parte realmente queria a liberdade que eu tinha antes do nosso contrato.
— Clara, nosso combinado não é esse. Eu preciso ficar perto de você.
— Mas não quer estar agora, tá tudo certo. Quando precisar de mim, pode me chamar, eu vou ficar por aqui, vai aproveitar.
Eu não deveria ter acatado àquele pedido. Ali, parecia demais que ela era minha, mas eu não era dela. Eu tinha uma permissão, que sequer era uma permissão, certo? Mas eu acatei, porque naquele momento, eu queria muito.
Devo ter perdido uma hora inteira longe da Clara e, sendo sincera, eu sequer dei falta dela, não tenho vergonha de admitir. Enquanto as pessoas me bajulavam, tudo estava bem, e se me bajulavam sem que eu precisasse estar com ela, era melhor ainda, porque ser o foco sempre foi a minha paixão. Foi só quando eu cansei dos elogios e de toda a puxação de saco, que eu lembrei da existência da Clara e decidi ir atrás dela, só pra checar como ela andava se comportando.
Apesar de não estar cometendo nenhum crime e nem infringindo o nosso contrato, eu quis avançar nela pela cena que eu presenciei.
Ela estava sentada em um sofá branco, conversando com outra mulher. O problema é que não era qualquer mulher. Amanda. A porra da Amanda Smith. A cobra mais peçonhenta do meio "jornalístico fútil". Aquela garota vivia pra coletar informações, transformá-las em merda e jogá-las no ventilador. Mais do que um emprego, ela vivia pra isso, era a garota prodígio de todos os velhos fofoqueiros de todos os meios de comunicação. E lá estava a maldita garota, com os longos cabelos pretos, deslizando a ponta dos dedos sobre os músculos da Clara, da minha Clara, rindo de algo que provavelmente nem era uma piada.
Aquilo fez meu sangue ferver, especialmente porque ela era sorrateira, e sempre conseguia o que queria. Quando deslizar os dedos pelos braços da Clara não bastaram, a mão desceu e apoiou discretamente sobre a sua coxa, como se estivessem trocando o flerte mais barato do mundo.
Eu tive que respirar fundo e controlar até os meus passos em direção à elas, mas não deixaria que ela me visse fervendo de ódio pela petulância e provável sondagem que fazia. Tomei uma taça de champagne, e estufei o peito feito um galo pra caminhar até as duas. Assim que ela me viu me aproximando, retirou a pata nojenta da coxa de Clara e me sorriu, completamente dissimulada.
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Sob Minhas Condições (Romance Lésbico)
RomansApós anos de prestígio e sucesso nas telas de TV e redes sociais, Larissa Simões presenciava o constante declínio de sua carreira. Quando um episódio constrangedor ameaçou a imagem impecável que carregava há anos, seu caminho cruza com Clara, e ela...