Eu queria encontrar as palavras que pudessem explicar o que eu sentia dentro do apartamento da Clara, mas eu afundava, inebriada no cheiro de conforto que aquele lugar tinha pra mim.
Era como um esconderijo secreto; ao mesmo tempo em que me dava a sensação de aventura, como uma casa na árvore e o lugar onde eu podia ser eu mesma, sem qualquer necessidade de luxos e poses, também me dava um conforto maior do que qualquer quarto de hotel luxuoso em que eu já havia estado. Tudo era agradável, desde a disposição dos móveis à iluminação e as cores neutras das paredes. A minha organização nem se comparava à dela, mesmo tendo como companheiro de quarto um gato que insistia em mexer em tudo que lhe parecia uma ameaça, mesmo imóvel. E assim que eu me sentei no sofá da sala, o bichano fez questão de saltar sobre o meu colo, desfilando e passando por cima de mim, sem me deixar entender e aquilo era bom ou ruim.
— Você nunca teve gatos, não é? – Clara riu ao ver a cena, enquanto se aproximava segurando duas garrafas de cerveja pelo pescoço e me entregando uma.
— Nunca. – Respondi, estranhando o vai e vem que o animal fazia ao meu redor, como se me espanasse com o rabo.
— Ele gosta de você.
— Como sabe?
— Eu sei quando meu gato gosta de alguém. – Ela disse, achando graça da minha dúvida.
— Ele costuma julgar garotas nesse sofá com frequência? – A pergunta veio com um leve arquear de sobrancelha que eu não tentei evitar.
Clara apenas riu, e deu um gole na sua cerveja, sentando ao meu lado.
— O que tem aí nessa caixa? – Ela apontou à caixa que havia carregado para dentro conosco e deixado aos pés do sofá.
— ...Um presente pra você. – Respondi tranquilamente, com certo alívio.
— Pra mim? Por quê?
— Porque você merece, tem sido uma boa namorada. – Tomei a mão livre de Clara e a puxei gentilmente para perto de mim, fazendo com que ficasse ao meu lado. – Mas você pode abrir mais tarde se quiser.
— Tudo bem. – Ela se ajeitou ao meu lado, ficando de frente pra mim e me olhando com atenção. – Como foi seu dia?
— Meu dia? – A pergunta saiu como algo que eu não costumava ouvir.
— É, seu dia. – Clara respondeu num tom calmo.
— Uau, eu... Não me lembro quando foi a última vez que alguém me perguntou isso. – Eu não pude conter uma risada nasal, de uma constatação que seria cômica se não fosse trágica. – Foi... Estressante, muito estressante. Mas eu não quero falar sobre o meu dia, estou mais interessada em saber como vai ser a minha noite.
— Tem alguma coisa em mente?
— Não. – Respondi com leve tom malicioso. – Vou deixar você improvisar.
Clara sabia que eu tinha segundas intenções, afinal, estávamos a sós no apartamento dela e eu havia a roubado e a carregado até lá pra que ficássemos sozinhas. Mas ela também gostava de jogar, e provavelmente me arrancaria outros indícios das minhas intenções antes de fazer o que ela também queria. Devagar, ela se aproximou, deixando o seu corpo por cima do meu, e me olhava tão fixamente que me arrancou uma respiração ofegante pela dúvida do que faria em seguida.
— Encosta. – Ela guiou meu corpo para trás devagar, até que eu me recostasse sobre o sofá, e sorriu, mirando minha boca e meus olhos, mas em seguida se afastou devagar, ainda sorrindo.
Ali, ela já havia me ganhado. Poderia me pedir pra tirar a roupa e eu o faria no mesmo segundo, mas ela me torturava de modo gentil. Sem tirar os olhos de mim, ela sentou-se novamente à beira do sofá e tomou minha perna direita devagar, guiando-a para si e fazendo com que eu me deitasse, tomando em seguida um dos meus pés.
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Sob Minhas Condições (Romance Lésbico)
RomantizmApós anos de prestígio e sucesso nas telas de TV e redes sociais, Larissa Simões presenciava o constante declínio de sua carreira. Quando um episódio constrangedor ameaçou a imagem impecável que carregava há anos, seu caminho cruza com Clara, e ela...