Capítulo 2

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O meu andar para fora da casa era firme e decidido, mas por dentro eu estava à beira de um colapso. Aquela era uma sinuca de bico: Anunciar o fim daquele namoro horroroso parecia estar fora de questão pra mim naquele momento, afinal, ele era a minha última fonte de visibilidade. Mas seria isso, ou perdoar e assumir uma fama de "corna mansa" que eu já tinha, mas sem provas concretas.

Eu tinha muitos seguidores e a pressão de ser acompanhada quase 24 horas por dia me animava mas também me levavam ao meu limite - físico e psicológico. Eu nunca havia socado uma pessoa, mas estava disposta à começar ali mesmo. As pessoas ao redor riam, gritavam, como se assistissem a um espetáculo de circo. Eu me virei, furiosa, e gritei com todos. A minha adrenalina estava tão alta naquele minuto que eu sequer lembro o que disse. Mas foram muitos palavrões. Eu só me lembro de avistar uma garrafa de vodka praticamente cheia, colocada sobre uma mesa, que eu agarrei enquanto mandava todos pro inferno. A minha casa era imensa, e a propriedade do lado de fora, então, nem se fala. E crescer em um lugar imenso, com vários pontos de fuga, tinha suas vantagens. Eu me enfiei por dentro de vários grupos, passando entre eles, me certificando de que o meu rastro sumiria entre os convidados, e me certifiquei de que mais ninguém me seguia antes de tomar o rumo até um pequeno estábulo, já mais afastado da casa, onde ficavam os nossos cavalos.

O estábulo era bem cuidado, mas nitidamente antigo; minha tia fazia questão de manter aquele lugar impecável, sem tirar o "charme" que ela via na estrutura original. Apesar de que, pensando bem, quem vai investir em uma casa pra cavalos? Afinal, eles não reclamam. Eletricidade também não era um luxo exigido por eles. Eu já trançava as pernas discretamente quando alcancei a cerca de madeira que envolvia o lugar, bebendo aquela garrafa no gargalo. Não sei se a queimação que eu sentia no peito era pelo álcool ou o ódio que me consumia, mas provavelmente era uma combinação perigosa das duas coisas. Eu só precisaria de uma faísca, uma fagulha pra explodir. E, porra, eu queria explodir. Eu queria gritar, queria descarregar a minha raiva em qualquer coisa que fosse. Jamais, em toda a minha vida, eu havia passado por uma humilhação daquela, e sequer era por alguém que valia a pena. Virei a garrafa de vodka mais uma vez, até não aguentar o ardor que descia pela minha garganta e eu gritei. Cara, eu gritei tão forte e tão alto que achei que ficaria rouca na mesma hora. Eu sabia que nenhum convidado da festa escutaria, pela distância, e cavalos não poderiam reclamar do som, apesar de alguns deles terem relinchado pelo susto. Mas foi quando tudo voltou a ser um silêncio absurdo que eu ouvi uma voz, que incrivelmente, não reclamou, apesar de ter todo o direito pelo barulho ensurdecedor e mimado que eu havia acabado de lançar aos 4 ventos.

— Tá tudo bem?

A calma naquela voz me fez soltar outro grito, dessa vez de susto. Olhei para os lados e deixei o meu instinto seguir o som da voz, e pude ver apenas uma silhueta sentada sobre a cerca do estábulo.

— Quem tá aí? – Perguntei em nítido sinal de defesa, caçando o meu celular com urgência e apontando a lanterna à silhueta.

— Ei, calma aí! – A voz se protegeu da luz, que apontava diretamente para o seu rosto. – Aponta isso pra lá!

Acatei ao pedido e abaixei a luz ao seu peito, ainda sem dar confiança.

— Quem é você!? – Perguntei, em tom autoritário.

— Alguém que não gosta de uma luz forte apontada na cara. 

Acompanhei, com a luz do celular, o leve salto que o seu corpo deu, ficando em pé e tomando nos dedos uma garrafa de cerveja que estava ao seu lado. Foi ali que eu percebi que era uma garota, e fiquei um pouco mais aliviada, de certa forma, mesmo parecendo que ela iria me assaltar a qualquer momento. Ela vestia uma calça jeans preta com um rasgo no joelho, e uma regata branca larga, que deixava os braços totalmente à mostra, e notei que ambos eram cobertos por tatuagens aleatórias que iam até o pescoço. Definitivamente, eu não a conhecia. E como aquela garota havia chegado, não somente à minha festa, mas àquele lugar específico, dentro da minha propriedade, era um mistério que eu estava decidida a resolver num estalar de dedos.

Sob Minhas Condições (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora