Capítulo 29 [PENÚLTIMO CAPÍTULO]

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Quando lembro de Sanchéz, a primeira imagem que me vem é o olhar que ele lançava. Desprezível. Eu não consigo imaginar a série de provações que deveria ser passar um dia com ele, quem dirá estar casada com ele por tantos anos como Marjorie. Aquela mulher, apesar de estar anos-luz de ser uma santa, sem dúvidas, era uma guerreira. Acordar e dormir ao lado de um homem que tem como combustível whisky e trapaças não devia ser uma missão fácil, e acho que nem mesmo todo o luxo ao seu redor devia ser o suficiente pra tornar sua vida confortável. A quantidade de sangue que aquele homem carregava nas mãos... Não me admira que ela recorresse à outros lençóis com frequência, tendo em vista que os próprios lençóis estavam empesteados de insatisfação. 

Colocar-se daquela forma sob a mira de um revólver exigia uma coragem admirável; afinal, ela se colocava entre o próprio marido e a amante, que não apenas era uma amante, como uma das pessoas na lista de morte de Sanchéz. E depois de toda a tortura pela qual Clara havia passado, com o aval dele, eu não imaginava que algo poderia desarmá-lo com tanta facilidade quanto ouvir a voz de Marjorie interferindo seu serviço.

— O que... O que você está fazendo aqui? – Os olhos de Sanchéz finalmente se renderam à uma submissão que eu não havia visto até então.

— Roberto, chega. – Marjorie manteve o queixo erguido, sem soar como se aquilo fosse um pedido. – Chega. Deixa ela ir.

Aquela ordem deve ter doído nos ouvidos de Sanchéz como se estivesse pisando em cacos de vidro. Ele mordeu o lábio em contensão da provável – e justificável – raiva que sentia, e olhou para Clara como se matá-la fosse deliciar a sua noite, mas antes voltou os olhos à esposa novamente.

— Há quanto tempo?

Constatar aquela traição dupla também o magoou duplamente, era nítido pelo tom da pergunta. E não ter a resposta só o enfureceu mais. Ele oscilava entre tristeza e raiva, entre coração e ego feridos.

Sem dó, ele voltou a apontar a arma para Clara. Caminhou em passos firmes até ela, que não se moveu, e a tomou pela nuca como um cachorro vira-lata, ajoelhando-a sobre o asfalto frio e posicionando a arma sobre a sua cabeça. Aqueles segundos, pra mim, foram longos e curtos ao mesmo tempo, totalmente impotente, apenas mais uma espectadora, que assistia à cena final de um filme que eu já nem sabia mais se era a mocinha.

— Há quanto tempo? – Ele repetiu a pergunta com um grito que ordenava a resposta, enquanto pressionava a arma sobre a cabeça de Clara com tanta força que eu tinha certeza de que ele atiraria no segundo seguinte.

— Uma vez! – Marjorie finalmente se entregou à mentira mais rápida que surgiu em sua mente. – Foi... Só uma vez!

— Uma vez?

— ...Sim.

— ...Quer que eu acredite nisso? – Ele sorria atordoado pela nítida mentira. – Quer que eu acredite que está se colocando entre uma bala minha e ela por uma noite?

— Ela não tem nada a ver com isso.

— Nada a ver com isso?! – O nível de desorientação de Sanchéz era preocupante para alguém com uma arma em punho. – Depois de tudo o que eu fiz por você? Eu te dei uma casa, carros, joias, dinheiro, o que te faltou?

— Me faltou um marido, Roberto.

A frase o pegou desprevenido. Pegou a todos nós, na verdade. Naquele segundo, olhei Marjorie como mulher. É difícil entender o que uma mulher realmente quer, mas... Uma mulher casada quer, no mínimo, um marido, quer se sentir completa, quer a felicidade que um relacionamento proporciona... E ela não tinha isso. Não tinha o mínimo.

— Eu não sou bom o suficiente pra você? 23 anos juntos e tudo o que eu fiz pra chegar onde eu cheguei, eu não sou bom o bastante pra você?!

— Ah, Roberto... Quem dera você fosse metade do bom marido que pensa que é. – Marjorie revirou os olhos, certa da razão e sem qualquer medo de represália.

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⏰ Última atualização: Sep 04 ⏰

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Sob Minhas Condições (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora