Capítulo 16

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Na manhã seguinte, eu acordei com uma dor de cabeça que me culpava por cada gole da noite passada. Tudo o que eu queria era passar um dia inteiro naquela cama de hotel, até minha ressaca ir embora, mas a vida não era tão simples assim. Eu sabia que o João já estava de pé, o voo de volta já estava fretado, e por mais que a minha agenda estivesse livre, tudo ainda era feito às pressas, tudo tinha um horário, eu não podia curtir sequer um dia de preguiça.

Assim que tomei meu celular nas mãos, lembrei da minha foto com Clara. Eu havia recebido uma enxurrada de mensagens, estranhamente muito mais do que o normal, e eu percebi que algo estava errado enquanto rolava a tela e percebia que pareciam ser de apoio, e não de congratulações como eu esperava. Eu estranhei na hora, e decidi abrir e ler uma por inteiro.

Felipe havia aprontado uma das muitas babaquices que sabia fazer. 3 da manhã e uma série de stories, bêbado em uma festa, e no fim da noite o imbecil decidiu ideia de abrir a caixa de perguntas dele. É claro que choveram comentários sobre mim, e ele fez questão de responder a todos, falando absurdos sobre a minha vida pessoal e profissional. Entre as coisas citadas na lista, ele dizia que eu era péssima atriz, que eu me achava melhor que todo mundo, ousou até dizer que eu "não comparecia" como namorada e por isso ele havia me traído dado um pé-na-bunda. E como se não pudesse piorar, eu tive acesso a todos aqueles vídeos ridículos por meio de compartilhamento de páginas de fofoca, porque ele teve a coragem de fazer tudo isso e me bloquear. No WhatsApp, eu também estava bloqueada. Eu quis pagar com a mesma moeda, mas a minha melhor defesa jamais seria somente entre eu e ele, especialmente depois de ver tudo que ele fez publicamente. Me preparei psicologicamente e ativei o meu lado atriz; fazer o papel de mocinha era minha especialidade. Liguei minha câmera e gravei uma série de vídeos dizendo que eu havia acabado de assistir aos vídeos, e tranquilamente, sem citar nomes, falei sobre "como algumas pessoas eram podres e precisavam superar o passado". Pedi, com o tom mais sereno e cheia de razão, pra que as pessoas não dessem palco praquele tipo de infantilidade, garanti que eu estava bem e feliz, e agradeci o apoio e as mensagens que eu havia recebido.

 Aquele foi o meu melhor golpe: Maturidade. Uma maturidade que sequer existia, mas fingir era necessário pra vencer aquele jogo. Assim que a câmera desligou, a minha postura foi outra. Assim que João chegou à minha casa, eu voltei a ser eu mesma, quase urrando de raiva.

— Podemos processar esse animal? – Perguntei, decidida à ir pra guerra.

— Larissa, a sua postura deve ser superior, os vídeos que você postou foram cirúrgicos, ele vai sair como o ex que não te superou, você só tem a ganhar! Você é a vítima e ainda vai ganhar uns créditos por ser uma namorada insuperável. – João terminou a frase com uma gargalhada, enquanto abria o frigobar, procurando uma bebida.

Um fato verdadeiro era que eu realmente era a vítima naquela história, mas me incomodou ter de usar isso como ferramenta pra mais publicidade. Eu queria me defender e falar a verdade, ou parte dela, já que eu também mentia.
Definitivamente, João e todo aquele mecanismo às vezes me enchiam o saco. Nem por um segundo eu tinha a vida de uma pessoa normal, e saber que o meu "barraco pós-término" era visto e comentado por milhões de pessoas começava a me incomodar, mas era o preço de ser uma pessoa pública que namorava outra pessoa pública, não?

***

Depois de algumas horas de muito jogo de cintura para fugir de câmeras e perguntas indiscretas no aeroporto, eu finalmente estava em casa. Assim que pus os pés descalços no piso gelado e maravilhoso da minha casa, minha cabeça já latejava de dor, então decidi me desligar por algumas horas e só pensava em, finalmente, dormir. Aproveitei que os meus tios não estavam em casa e me fechei no quarto sem satisfações. Não consigo calcular quanto tempo consegui ter a paz que eu havia planejado, mas eu já havia conseguido cochilar, sem sucesso nenhum de um sono pesado, pela quantidade de pensamentos que passavam pela minha cabeça. Quando a porta do meu quarto tocou levemente três vezes, eu imaginei que seria minha tia, já ciente de toda a história vergonhosa que acontecia entre mim e o Felipe, ou talvez fosse um dos funcionários me dando más notícias, então eu resolvi ignorar e só fingir que estava dormindo. Alguns segundos depois, ouvi a porta se abrir, devagar. Meu quarto estava escuro e se ouvia apenas o som do ar condicionado. Eu constatei que seria minha tia, afinal, ela seria a única com a coragem de ultrapassar a barreira que era a minha indiferença às batidas que pediam permissão para entrar.

Sob Minhas Condições (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora