Capítulo 4

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Eu não sei se Clara quis facilitar a minha vida, ou se foi pura inocência dela, mas encontrá-la foi a missão mais fácil do mundo.

Quando fizemos o check-out, o quarto já estava pago. E como ela fez o check-in no nome dela, já que eu estava sem documentos, lá constava o nome dela e endereço, além dos documentos. Bastou me pedir a nota fiscal do serviço e o mistério estava resolvido em meio minuto. Parecia que o vento finalmente estava soprando a meu favor, e aquilo me incentivou a continuar naquele plano maluco – e estúpido – que eu ainda desenvolvia na minha cabeça.

Quando a porta de Clara abriu, a cara que ela me lançou foi compreensível; a feição era de pura estranheza.

— Ah, Deus. Isso não deve ser bom sinal. – Clara concluiu, franzindo o cenho.

— Se importa se eu entrar? – Fui direta, quase entrando sem que a permissão me fosse concedida.

— Bom... – Ela pensou alto, me vendo passar por ela, e fingiu abrir passagem. – Entra.

O apartamento de Clara era simples. Pelo tamanho, constatei que ela morava sozinha, e tudo era muito organizado. Eu reparei em tudo discretamente, e logo notei que um gato cinza me analisava do sofá, talvez sentindo minhas más intenções e a ressaca terrível. A última coisa que eu queria naquele dia era fazer negócios, especialmente com uma desconhecida e especialmente aquele tipo de negócio.

— Como você tá? – Clara perguntou, parecendo se importar genuinamente.

— Bem. – Resumi a mentira. – Confesso que não estava nos meus planos acordar sozinha em uma cama de hotel, mas... Sempre tem uma primeira vez.

A frase lhe arrancou um riso baixo.

— Eu não tinha mais o que fazer lá depois que você dormiu, achei melhor te deixar descansar. 

— Tudo bem, não tem problema.

Um silêncio constrangedor invadiu a nossa conversa nos segundos seguintes. Eu não sabia por onde começar.

— Então... Eu não sei se você sabe, mas... – Eu parei a frase sem tirar os olhos dela, com esperança de que ela a completasse, já sabendo do que se tratava, mas ela permaneceu em silêncio. – Você lembra do que aconteceu na noite passada?

— É claro, eu quase não bebi. – O riso frouxo que ela deu me fez entender que eu havia bebido o bastante por nós duas, e é claro que só eu não lembraria. 

— Certo. – Cocei a testa discretamente, um tanto desorientada. – Eu não sei como te dizer isso, mas... As pessoas estão comentando sobre o que aconteceu.

— Sobre o que aconteceu com você?

— Não... Com a gente.

— O que aconteceu com a gente?

Ela arqueou uma sobrancelha, estranhando. Nada. Nada havia acontecido. Esse era o ponto que só eu e ela sabíamos. E na verdade, ela sabia ainda mais do que eu, já que tudo que eu lembrava eram flashes desastrosos.

— Não tem um jeito simples de dizer isso, mas... As pessoas acham que a gente saiu juntas da festa, porque acham que estamos juntas.

— Ah. – A constatação saiu quase sem som. – Isso foi simples. Bom, me desculpa.

— Pelo quê?

— Por isso. As pessoas devem ter entendido errado, já que nós saímos de mãos dadas e fomos pra um hotel.

— Não, tá tudo bem. Na verdade, eu...

Eu respirei fundo e a encarei. Eu sabia que precisaria ser forte e muito firme pra falar o que havia me levado até lá.

Sob Minhas Condições (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora