Eu não sei se Clara quis facilitar a minha vida, ou se foi pura inocência dela, mas encontrá-la foi a missão mais fácil do mundo.
Quando fizemos o check-out, o quarto já estava pago. E como ela fez o check-in no nome dela, já que eu estava sem documentos, lá constava o nome dela e endereço, além dos documentos. Bastou me pedir a nota fiscal do serviço e o mistério estava resolvido em meio minuto. Parecia que o vento finalmente estava soprando a meu favor, e aquilo me incentivou a continuar naquele plano maluco – e estúpido – que eu ainda desenvolvia na minha cabeça.
Quando a porta de Clara abriu, a cara que ela me lançou foi compreensível; a feição era de pura estranheza.
— Ah, Deus. Isso não deve ser bom sinal. – Clara concluiu, franzindo o cenho.
— Se importa se eu entrar? – Fui direta, quase entrando sem que a permissão me fosse concedida.
— Bom... – Ela pensou alto, me vendo passar por ela, e fingiu abrir passagem. – Entra.
O apartamento de Clara era simples. Pelo tamanho, constatei que ela morava sozinha, e tudo era muito organizado. Eu reparei em tudo discretamente, e logo notei que um gato cinza me analisava do sofá, talvez sentindo minhas más intenções e a ressaca terrível. A última coisa que eu queria naquele dia era fazer negócios, especialmente com uma desconhecida e especialmente aquele tipo de negócio.
— Como você tá? – Clara perguntou, parecendo se importar genuinamente.
— Bem. – Resumi a mentira. – Confesso que não estava nos meus planos acordar sozinha em uma cama de hotel, mas... Sempre tem uma primeira vez.
A frase lhe arrancou um riso baixo.
— Eu não tinha mais o que fazer lá depois que você dormiu, achei melhor te deixar descansar.
— Tudo bem, não tem problema.
Um silêncio constrangedor invadiu a nossa conversa nos segundos seguintes. Eu não sabia por onde começar.
— Então... Eu não sei se você sabe, mas... – Eu parei a frase sem tirar os olhos dela, com esperança de que ela a completasse, já sabendo do que se tratava, mas ela permaneceu em silêncio. – Você lembra do que aconteceu na noite passada?
— É claro, eu quase não bebi. – O riso frouxo que ela deu me fez entender que eu havia bebido o bastante por nós duas, e é claro que só eu não lembraria.
— Certo. – Cocei a testa discretamente, um tanto desorientada. – Eu não sei como te dizer isso, mas... As pessoas estão comentando sobre o que aconteceu.
— Sobre o que aconteceu com você?
— Não... Com a gente.
— O que aconteceu com a gente?
Ela arqueou uma sobrancelha, estranhando. Nada. Nada havia acontecido. Esse era o ponto que só eu e ela sabíamos. E na verdade, ela sabia ainda mais do que eu, já que tudo que eu lembrava eram flashes desastrosos.
— Não tem um jeito simples de dizer isso, mas... As pessoas acham que a gente saiu juntas da festa, porque acham que estamos juntas.
— Ah. – A constatação saiu quase sem som. – Isso foi simples. Bom, me desculpa.
— Pelo quê?
— Por isso. As pessoas devem ter entendido errado, já que nós saímos de mãos dadas e fomos pra um hotel.
— Não, tá tudo bem. Na verdade, eu...
Eu respirei fundo e a encarei. Eu sabia que precisaria ser forte e muito firme pra falar o que havia me levado até lá.
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Sob Minhas Condições (Romance Lésbico)
RomansApós anos de prestígio e sucesso nas telas de TV e redes sociais, Larissa Simões presenciava o constante declínio de sua carreira. Quando um episódio constrangedor ameaçou a imagem impecável que carregava há anos, seu caminho cruza com Clara, e ela...