Capítulo 12

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Aqui vai uma dica: Não diga à uma mulher carente o que ela não pode fazer pra matar a carência dela. Isso só aumenta a vontade, e não importa o peso da ordem, uma hora ela vai passar por cima feito um rolo compressor.

O João me dizer que eu não podia ficar com a Clara só me deu ainda mais vontade. E chamar aquilo de "uma experiência" só tornou a cena ainda mais interessante na minha cabeça. Aliás, ele mesmo já havia me falado que sexo entre mulheres era bom. Com que base, eu não sei, já que ele era um homem que só transava com outros homens.

Eu já estava quase me rendendo ao sono quando ouvi o ronco dele ao meu lado, e aquele foi meu despertador e um indicador de que ele já estava em um sono pesado. Levantei e saí como uma adolescente, pé por pé. Antes de deixar o quarto, virei meu travesseiro na vertical e o cobri, pra simular que ainda havia um corpo ali. Eu devo ter levado um minuto inteiro só pra girar a maçaneta da porta. Caminhei em passos de pluma até a minha suíte, e quando parei em frente ao quarto, vi aquela porta ficar gigante à minha frente. Tive mil questionamentos internos; não sabia se Clara ainda estaria acordada, e se ela ao menos queria me ver depois da nossa briga e a cena superprotetora do João. Pus a mão na maçaneta, sem saber se deveria prosseguir, mas também sabia que cada segundo de indecisão seria um segundo a menos que eu teria do lado de dentro.

Então, eu simplesmente fui em frente e entrei.

Pra minha surpresa, Clara estava acordada. Acho que até demais. Estava sentada à beira da cama, com os braços apoiados sobre os joelhos, e parecia extremamente pensativa e cabisbaixa. Ela ergueu os olhos na minha direção, sem mudar a expressão que tinha no rosto. Eu fechei a porta rapidamente e recostei minhas costas sobre a madeira fria, com as mãos para trás, numa pose legítima de timidez.

— Oi. – Minha barriga gelou em dizer as duas letras. – Desculpa, eu acho... Que meu celular ficou aqui.

Os segundos em que ela me olhou em silêncio me fizeram agonizar. Ela sabia que aquilo era mentira. Merda, eu era uma bagunça na vida dela e tinha plena consciência de que ela poderia me expulsar dali à pontapés, afinal o meu contrato com ela era simples: Fingir um relacionamento, publicamente. Um convite pra dormirmos juntas, deixá-la constrangida e reaparecer no quarto no meio da noite não estava no pacote.

"Meu Deus, essa garota deve me odiar."

Ela me olhou com olhos de raiva por um segundo, mas talvez aquela raiva não fosse de mim. No segundo seguinte, ela levantou, sem falar nada, e veio na minha direção. Eu não estava preparada praquilo, foi... Totalmente inesperado. Em um segundo, eu estava olhando pra ela, totalmente incerta, e no momento seguinte, ela estava agarrando a minha cintura com uma mão e a minha nuca com a outra. E me beijou. Finalmente. Deus, eu senti fogos de artifício explodindo dentro de mim. Aquele beijo fez uma ligação direta entre as nossas bocas e a minha calcinha, o que também era uma novidade pra mim. Isso sem mencionar o fato de que aquele era um beijo por vontade própria; sem câmeras, sem flashes, sem ninguém além de nós duas e um quarto vazio. Depois de alguns segundos, que eu não faço ideia de quantos podem ter sido, ela parou, ainda colada ao meu rosto, e me olhou, como se esperasse o meu comando.

— Continua. – Eu sussurrei, fingindo uma ordem, mas o meu tom denunciava que eu estava quase implorando.

Era nítido que a gente estava fazendo uma burrada. Das grandes. E logo no início. Mas eu nunca me arrependi. Naquela hora, eu só queria aquilo; que ela continuasse. Mas, da mesma forma que ela começou, ela parou.

— Não, espera. Não dá. – Clara afastou o corpo somente o bastante para respirar. – A gente não pode.

— O quê? Por quê?

— Eu posso não ter lido todo o contrato, mas eu sei que a gente não pode fazer isso. – Ela riu, em leve tom de desespero.

Brechas. Uma mulher inteligente vive de brechas. E poder de persuasão. E da velocidade pra aplicar as duas coisas em uma situação.

Sob Minhas Condições (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora