Refazer

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Vou te mostrar o neném, com carinha de malvadão. Vou te mostra o neném, com carinha de malvadão... 🎶

Comenta, cute, e me dá biscoito, que eu gooooosssssto.

Boa leitura. 😘

TT: @umamabs

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POV RAFAELLA

- EU NÃO VOU REFAZER TODAS AS FOTO, MARIA MANOELA. - Poucas situações me tiravam do sério. Mas uma delas era quando questionavam a qualidade do meu trabalho. Ainda mais quando eu sabia que não existiam motivos para que isso fosse questionado.

- Rafa, a editora pediu pra refazer. - Manu falou em um tom mais ameno que o meu.

- Não, não foi a editora e a gente sabe que não foi. Aquela mulher intrigante que implicou com tudo desde o começo. - Tinha algo em mim gritando mais do que a minha voz. Algo que estava me irritando de uma forma que eu nunca tinha vivenciado.

- Não temos como saber. A ordem veio da editora. - Manu tentou conciliar, mas eu sei que ser a mediadora em uma discussão que eu estava disposta a ganhar não era algo fácil. - Eles falaram que a luz não estava boa, que queriam algo mais iluminado. - Eu bati na mesa com as duas mãos, ela se assustou.

- Nós estávamos em uma cobertura na Zona Sul, o por do sol de Ponta Negra era o cenário. Eles queriam a porra de um estúdio e cem luzes artificiais em cima da garota? - Minha paciência já não existia, mas Manu sabia que tinha que me fazer ceder. - Eu li o livro e montei toda uma estrutura pra fazer a modelo voar e mostrar a queda dela na foto. Saiu tudo como eu imaginei, estava tudo perfeito. Qual o problema com a foto além de uma mulher irritante falando do meu lado o tempo inteiro que o vento estava bagunçando os cabelos da Isa, que o vestido estava caindo pro lado errado?

Manoela prendeu os dedos entre seus cabelos, ela estava desesperada com a discussão. Pelo muito que a conhecia, ela também achava que eu tinha razão, mas não podia se dar ao luxo de perder a luta para minha teimosia. Mas meu ego está a em jogo, e admitir um erro que não existia era algo extremamente difícil, ainda mais quando se tinha certeza de que tinha feito o melhor.

- Ela começou a implicar comigo no momento que eu coloquei os pés naquela cobertura, Manu. E se você disser o contrário, eu te demito. - Apontei o dedo pra minha amiga e ela abriu a boca e fechou várias vezes. - Te deixar sem palavras é um dom, não é? - Eu suavizei as expressões do meu rosto. Mas continuava irritada. Só amenizei a maneira que falei para que ela visse que eu não estava falando sério sobre a demissão.

- Porque você chegou atrasada. Nem eu passo pano pra você nisso. - Ela arqueou uma sobrancelha e me encarou.

- Foram trinta minutos, Manoela. Trinta minutos. Trin-ta. – Eu silabei.

- Para você não é nada, para outras pessoas pode ser muita coisa.

- Sai da minha sala. Não te aguento mais regulando a minha vida, baixinha irritante. - Eu não vivia sem ela, mas ela me irritava profundamente quando tentava controlar todos os meus horários e todos meus compromissos. Ela mostrou a língua e virou as costas pra mim, me deixando sozinha.

Minha sala era grande demais, tinha uma mesa de vidro no centro da sala e minha mesa de trabalho em frente a uma janela com vista da cidade. Na lateral esquerda da sala tinha um sofá cinza, ele era extremamente confortável e convidativo. Na parede da lateral direita uma de minhas fotografias estampava ela inteira.

A história daquela foto era engraçada e ter ela lá o tempo inteiro debaixo dos meus olhos me fazia bem. Em momentos de estresse, eu olhava pra ela e me deixava inundar pelo sentimento bom que ela me trazia. Minha mãe amava esse lugar, essa cidade, as praias e tudo que uma cidade litorânea poderia trazer. Minha primeira câmera fotográfica foi dada por ela, em um dia que fomos a praia e nos perdemos em nosso mundinho enquanto caminhávamos pelas dunas de Genipabu. Nesse mesmo dia a foto foi tirada, as dunas, a vegetação típica daquele lugar, as ondas quebrando ao fundo e minha mãe, sentada na areia com as pernas cruzadas por baixo do corpo, com os cabelos inquietos por causa do vento. Antes dela eu fiz várias fotos da paisagem e deixei ela brava por não ter aparecido em nenhuma delas. A qualidade da foto era questionável, por ter sido uma das minhas primeiras, mas o sentimento que ela carregava era algo que eu não deixaria morrer mesmo que eu quisesse. E ao olhar para as cores vivas na minha parede, voltava para o momento em que minha mãe me ensinou sobre não descarregar minhas frustrações nas pessoas que eu amo, porque mesmo brava, ela me puxou para uma abraço lateral e me disse que o que importava era que as fotos tinham ficado lindas e que eu estava fazendo algo que eu amava.

...

Eu estava de frente a porta da sala de Manu, me preparando para fazer o que as lembranças da minha mãe me induziam a fazer. Levantei a mão para bater e anunciar a minha entrada, mas desisti logo em seguida, esperei mais um pouco. Porque me desfazer do meu orgulho e pedir desculpas por ter sido grossa com minha amiga estava sendo tão difícil? Normalmente eu tinha facilidade para aceitar os meus erros. Mas o problema era que eu não estava errada e com essa constatação, meu ego ia ao chão por ter que recuar e refazer o trabalho que já estava excelente.

- Se você ficar mais um pouco aqui fora, vai criar raiz, Rafaella. - A voz de Manu me fez assustar quando ela falou por trás de mim.

- Droga, Manu. Não me mata de susto. - Falei levando minha mão até o meu peito. - E para de me chamar de Rafaella, eu não gosto e você sabe disso. Parece que estou levando bronca.

- E não está? - Ela tinha um sorriso sínico nós lábios.

- Não devia. - Respirei fundo e falei de uma vez só. - Desculpa por ter sido grossa, meu problema não é com você.

- Eu sei que não. E você não está errada. Mas na vida temos que fazer concessões. Não é porque achamos seu trabalho perfeito, que todos devem achar.

- Quem não acha é burro. - Revirei os olhos. Aceitar críticas ao meu trabalho era a coisa mais difícil pra mim. Eu havia estudado demais para alcançar a perfeição e não deixaria ninguém dizer que eu fazia o contrário. - Avisa pra editora que eu vou refazer as fotos em estúdio. Marque com o estúdio. - Mas como Manu falou, a perfeição também precisa de concessões.

Desarrumar - GiRafaOnde histórias criam vida. Descubra agora