Queima a minha pele

992 134 51
                                    

Para todas as girafinhas desse site, para as que pensaram que estavam mortas e ressurgiram das cinzas esses dias e para as que sempre permaneceram nesse surto doido que é ser girafa. 🦒

Mãe e mãe 🥰

Boa leitura, meus amores. ♥️

TT: @umamabs

____________________________________________

POV Rafaella

A intenção era fazer algumas fotos despretensiosas na praia, mas o sol, a areia, o mar, tudo convidava a um mergulho. Manu estava com a câmera agora e eu estava saindo da água enquanto ela registrava cada passo meu. - Maria Manoela, você pode parar de me fotografar e entrar na água, está uma delícia. Vou pedir uma caixa com algumas cervejas. - Sentei na cadeira embaixo do guarda sol que nós tínhamos alugado logo quando chegamos. Ela continuava a fotografar. Minha mão foi até a câmera e eu a abaixei devagar. - Você me ouviu?

- Claro. Eu aceito a cerveja, ainda mais com a patroa pagando. - Eu balancei minha cabeça rindo.

- Que horas são? O Sol está bem mais forte agora. – Meus olhos tentaram focar o Sol, mas o máximo que consegui foi ficar um pouco cega.

- Acho que umas 10h. - Ela pegou o celular dentro da bolsa. - Isso, 10h15m. Devo cobrar hora extra por você ter me feito acordar de madrugada em um sábado?

- O dia tá lindo, Manu, fotografar o mar devia ser considerado medicinal. - Ajustei o boné na minha cabeça e coloquei meus óculos escuros de volta. - Você reclamar demais, não tem coisa melhor do que pegar uma praia cedinho. - Acenei para o garçom do quiosque mais próximo e esperei ele chegar enquanto Manu tagarelava. Pedi minha cerveja e ela continuou falando sobre como acordar cedo era complicado, mesmo que a paisagem fizesse valer a pena e como ela merecia um aumento por me acompanhar nesses momentos, mas eu não ouvi muita coisa além. Meus olhos encontraram duas figuras conhecidas que caminhavam pela areia e uma delas também me viu, nossos olhos se encontraram e eu permaneci ali, presa naquele olhar.

- Você está me ouvindo, Rafa? - Manu chamou minha atenção, mas logo ela viu pra onde eu estava olhando e chamou atenção das duas gritando. - Marcelaaaaa. - Ela fazia sinal com as mãos. Vi Gizelly recuar quando Marcela tentou se dirigir a nós, mas o seu braço foi colocado no braço da amiga e praticamente arrastada até onde nós estávamos.

- Oiii. Que coincidência, nós estávamos falando sobre vocês. - Marcela falou quando se aproximou e nos levantamos para que pudéssemos nos cumprimentar. Gizelly fuzilou a amiga com o olhar. - Na verdade, sobre a Rafaella. - Ela se dirigiu a Manu. - A heroína. - Manu não entendeu. É claro que não entendeu, ela nem sabia que eu tinha ido até o bar que Bianca trabalha. Ela não sabia nem que eu continuava mantendo algum tipo de amizade com a Bia. Ela me olhou confusa. Mas antes que ela pudesse entender Marcela continuou. - Manu, me ajuda numa coisa ali naquele quiosque. - Ela não esperou a resposta, só largou o braço de Gizelly, que continuava muda, como se falar fosse a própria missão impossível, e saiu carregando Manoela pela mão. Eu só sorri da cara de confusão que minha amiga havia feito antes de se distanciar.

- Er... - hesitei um pouco. - Acho que ela queria que ficássemos a sós. - Eu sorri meio sem jeito.

- Ela queria. - Seu peito subiu e desceu, como se estivesse tentando controlar uma crise eminente de ansiedade. O garçom chegou com as cervejas.

- Senta, toma uma cerveja comigo, acho que elas vão demorar a voltar. - Deixei um sorriso se formar em meus lábios. Ela ia sentar, ainda sem falar muito. Eu precisava descobrir o que tinha acontecido com a mulher que estava flertando comigo por mensagens nos últimos dias. - Vocês sempre caminham na praia? - Mas antes de ela me responder um cachorrinho pouco maior que um rato surgiu correndo e ela quase me derrubou quando me colocou entre ela e o cachorro.

- Não deixa que ele encoste em mim, por favor. - Ela estava apavorada, mas suas mãos estavam firmes em meus braços e minha pele queimava com o toque. Eu abaixei pra ficar na altura do cachorro, que não estava latindo, mas estava eufórico, eu o segurei quando fiquei de joelhos na areia. - Ele é mansinho, Gizelly. Só tá muito feliz em nos ver. - Ela continuou com as mãos em mim, mas em meus ombros dessa vez, continuava queimando. Tentei continuar concentrada no cachorro até que a sua dona conseguisse prender a coleira novamente.

- Pronto, está a salvo. - Virei pra ficar de frente pra ela, mas ela estava perto demais, meu corpo se chocou com o dela e o impacto a fez dá um passo atrás, ela tropeçou na caixa de isopor que o garçom tinha deixado perto da mesa com as cervejas. Mas antes que ela caísse, meus braços foram até a sua cintura, a segurando, prendendo o seu corpo contra o meu e a salvando, dessa vez de cair de bunda na areia. - Desculpa, mas acho que vai ter que me contratar como sua segurança. - Estávamos perto, perto demais, eu conseguia sentir seu peito subindo e descendo e consegui ouvir ela contar as respirações. Talvez não fosse o momento para brincar ou flertar, ela parecia mesmo estar tendo uma crise de ansiedade, ali, entre os meus braços. Talvez ela também estivesse sentindo o mesmo, estávamos a sombra, mas parecia que o sol estava castigando a minha pele em todos os lugares em que nossas peles estavam se tocando. Seus olhos se fecharam, ela desfez o contato e sentou na cadeira que antes eu ocupava. - Você está bem?

- Eu acho que preciso da cerveja que você ofereceu. - Ela finalmente falou depois de consegui controlar a respiração.

- Tudo bem. - Sentei na outra cadeira e peguei uma latinha de cerveja pra colocar nos copos que o garçom havia trago.

- Você podia vestir uma blusa? Eu não consigo me concentrar assim. - Ela falou sem graça. Eu gargalhei. Eu estava de biquini, eu estava na praia, ela também estava. Mas ela estava com uma regata e short.

- Você não está falando sério. - Ela me olhou sério. Ela estava falando sério. - No máximo um short. É a única peça de roupa além do biquini que eu vesti antes de sair de casa.

- Tudo bem. Já é algo. - Ela falou evitando meu olhar, ela estava fazendo isso o tempo inteiro. - Eu queria perguntar uma coisa. - Ela virou a cerveja que estava em seu copo em um gole só, parecia tentar criar coragem.

- Pode perguntar. - Eu incentivei.

Ela olhava para as mãos, que estavam vermelhas, estalava os dedos, um depois do outro e voltando fazendo o mesmo movimento de antes, mesmo que não tivesse mais barulho de suas juntas estalando, repetiu os movimentos por mais algumas vezes, ela parecia continuar contando, como havia feito antes com as respirações. Ela me olhou nos olhos, os movimentos nas mãos pararam, fiquei lá presa naquele mar castanho. Tive a impressão de que aconteceu o mesmo com ela. Até que finalmente ela soltou a pergunta que estava deixando-a aflita. - Quer jantar comigo?

Desarrumar - GiRafaOnde histórias criam vida. Descubra agora