Atualização surpresa da sexta a noite.
Comenta, curta e se quiser, indica pro amiguinho. 😘
Boa leitura, bebês.
TT: @umamabs
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POV GIZELLY
Eu conseguia pensar em mil maneiras de fazer aquele ensaio funcionar enquanto eu organizaria toda aquela bagunça que levaram para o terraço de um prédio na zona sul, mas o que mais estava me incomodando era o atraso da fotógrafa. A mulher estava me fazendo entrar em um looping entre olhar para as coisas espalhadas pelo chão, algum espelho, algumas luzes que deviam fazer parte do caos que era aquele trabalho e a porta. E no momento em que ela se abriu, eu tive certeza de que não iria funcionar. Ela era um pouco mais alta que eu, morena, olhos verdes, chegou cumprimentando todos que estavam presentes, um por um. Perguntando como tinha sido o fim de semana, implicando com a baixinha que devia ser sua assistente, porque estava correndo de um lado pro outro desde que eu havia chegado, tentando manter uma organização inexistente.
- E você, quem é? - Eu pisquei e ela estava na minha frente. - Manu, já te disse que não estou contratando ninguém, muito menos pra estágio. - Ela falou com a garota sem desviar os olhos de mim. - Qual o seu nome?
- Gizelly Bicalho. - Só depois de ouvir meu nome, ela me reconheceu.
- Eu não sabia que seria supervisionada tão de perto. - Pareceu incomodada e eu não sabia se a sombra do sorriso que passou por seus lábios era por estar sem graça ou brava por eu estar ali.
Normalmente não me meto em como são feitas as capas dos meus livros, acho que nenhum autor se importa com o processo, mas no meu caso, prefiro não saber do processo, pois sei que vou acabar me incomodando com aquela capa pelo resto da vida. Mas eu dava sempre prioridade para trabalhos que eram controlados mais facilmente, sim, eu exigia que a editora me informasse todos os passos que meu livro ia percorrer até chegar ao meu público, e geralmente um designer conseguia atender aos meus pedidos na maioria das vezes. E quando precisávamos de fotos sempre foram feitas em estúdio, nunca em um ambiente sem controle de luz e vento.
- Rafa, a Isa está esperando. - Seus olhos desgrudaram do meu quando a assistente baixinha chamou sua atenção.
- Fique à vontade, Gizelly. - Ela falou antes de ir em direção a modelo.
- Manoela Gavassi. - A pequena dirigiu-se a mim, se apresentando e estendendo a mão, que eu segurei por alguns breves segundos. - Eu amo seus livros. O jeito como você faz o leitor se envolver na história, é incrível. Esperar pelo que vai acontecer no capítulo seguinte, é desesperador, porque a gente sabe que vai acontecer algo surpreendente em algum momento e... - Ela começou a tagarelar sem parar e eu deixei um sorriso se formar em meus lábios, mas logo a minha atenção foi desviada de volta para a fotógrafa. Ela se afastou de onde nós estávamos e começou a dar ordens a todos, a modelo estava presa em grilhões de segurança e só então eu notei a presença de bombeiros.
- Nada pode sair diferente do que planejamos, ok? Não vamos precisar dos nossos amigos, Isa, pode ficar tranquila. É só uma precaução. - Ela sorriu para a modelo, que retribuiu com um sorriso bobo. Elas estavam flertando? Era isso? Eu não era uma pessoa que tinha muita experiência nisso, mas eu sabia reconhecer interesse. E pelo menos de uma parte, ele existia.
- Geralmente eu não acompanho como são feitas as fotos para a capa. Mas essa eu precisava ver. - Voltei minha atenção para a pequena em minha frente e tentei ser simpática com ela.
- Eu acredito que é incomum, poucos autores se envolvem tanto no processo. Acredito que esse livro seja importante para você. - Ela estava tentando tirar alguma informação de mim.
- Ele é. Todos são, pra falar a verdade.
Mas esse era especial, era muito pessoal e eu me via muito na protagonista. Os medos dela eram os mesmo que os meus. Se encontrar sozinha em um mundo que não se encaixava, a tentativa de amenizar as dores através de uma seleção de como iria viver cada parte de sua vida. Deixei me levar pelos meus pensamentos e as vezes sentia os olhos verdes me encarando, esperando por algo, talvez. Um julgamento, ou qualquer outra coisa que sabia que faria. Mas não ali, naquele momento.
...
- Qual o problema com essas fotos, Gizelly? - Marcela era a pessoa mais paciente do mundo comigo, até ela perder a paciência. Eu tinha convocado a reunião e ela tinha espalhado todas as fotos para aprovação pela mesa, o que já me deixou irritada.
Os cabelos da modelo estavam desgrenhados pelo vento, a luz do sol que já estava indo embora refletia na pele branca e o quase despencar do seu corpo, foi eternizado naquela imagem. Eu sabia que a foto tinha sido tratada, que todos os apetrechos de segurança tinham sido apagados e que ela não tinha caído de verdade. Eu sabia de todo o processo pra chegar até ali e eu lembro do caos que foi em cada tentativa, que não foram muitas por causa da luz que estava indo embora. Mas meu peito apertava só em lembrar do movimento dela se deixando pendurar pelas cordas que a seguravam. Eu tentei me desfazer das memórias, mas não consegui. Fechei os olhos e respirei fundo antes de responder a minha amiga e agente.
- Nenhum, a não ser a memória que eu vou ter toda vez que eu olhar. - Marcella revirou os olhos e pegou o celular para fazer a ligação. - Ah, e eu não gostei da modelo. Troca.
Ela não discou o número, só me olhou e esperou pela observação que não veio. - A garota se pendurou em um parapeito por essas fotos, Gizelly. Foi genial, ela estava em busca do sol, como você descreveu no livro.
- Não importa, não quero, não gostei. - E sim, em alguns momentos eu tinha uma criança mimada gritando em mim ao ponto de me fazer bater o pé e fazer birra, só porque eu podia.
- Se você quer que troque a modelo, quem você sugere? - Dei de ombros. Ela sabia a resposta. - Eu juro que se eu não te amasse, já teria largado esse trabalho e deixado você se virar sozinha com essa sua mania de controlar tudo. - Ela falou antes de pegar na maçaneta da porta e discar o número no celular.
- Mas você me ama. - Falei um pouco mais alto que o habitual, com um sorriso nos lábios e na voz, para quebrar a tensão do que ela falou sobre me deixar sozinha.
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Desarrumar - GiRafa
FanfictionTudo estava milimetricamente organizado, nada fora do lugar. E como se a calmaria precisasse de um furacão, aquele apartamento precisava de uma bagunça. 🎶 E é difícil dizer, mais ainda explicar, pro meu quarto entender que toda vez que arrumo ele...