Paz

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Eu nem ia atualizar hoje, se semana que vem não tiver nada escrito, vou tomar bronca das minhas revisoras.

E por falar em revisoras, quero agradecer a Mayara e Marina por tudo. 😘

Boa leitura.

TT: @umamabs

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POV GIZELLY

- Então, você tem alguma sugestão de quem você quer que seja a modelo? - A impaciência de Marcela com a minha mania de me meter onde eu não precisava me meter, era palpável.

- Bem... Pra falar a verdade, eu não tinha pensado nisso, mas já que você me lembrou, acho que poderia ser você. - Falei com um sorriso cínico em meus lábios. Ela me olhou com uma cara de espanto e fez sinal negativo com o dedo.

- Nem pensar, eu não sou modelo e eu não quero meu rosto em uma capa que vai rodar o país, e quem sabe o mundo. - Ela tentou argumentar.

- Veja bem, bebê. - Eu fui carinhosa com minha empresária e melhor amiga, ela sabia que eu conseguiria convencê-la, se quisesse de verdade. - A Cecília que eu criei tem seus traços, ela é loira, tem olhos castanhos, não tem pessoa melhor. Além do que, uma modelo padrão não vai representar tão bem quanto você. A beleza está na simplicidade das coisas. E é isso que eu quero, uma mulher simples, comum, mas linda, e que tenha todo o charme que eu quis dar a Cecília. Você é a pessoa perfeita pra isso. E não uma modelo montada, amarrada por um monte de cordas. - Ela revirou os olhos. Eu iria continuar argumentando por horas até que ela aceitasse, eu poderia fazer. Mas ela poupou nosso tempo.

- Gizelly, eu vou me arrepender tanto de te dar esse sim. E ok, eu vou fazer, mas só porque se eu não fizer, eu sei que você vai encontrar defeito em tudo que for feito, se não for do seu jeito, e vamos atrasar ainda mais todo o lançamento. - Ela se deu por vencida e deixou um breve sorriso se formar em seus lábios. Mas em seguida estava de cara fechada de novo. - E por favor, para de falar mal do trabalho da fotógrafa, nem você acredita no que tá dizendo. Porque a edição das fotos ficaram perfeitas. Os enquadramentos ficaram lindos e nós só tínhamos que escolher quais delas iriam fazer parte da capa e do material de divulgação do livro. Eu não sei exatamente o que te incomodou nele, mas quero saber. Você poderia me contar?

- Eu não gosto de ambientes que não podem ser controlados. Você sabe disso. Toda vez que eu olhar para aquelas fotos, vou lembrar que tinha desorganização por todo lado, pessoas correndo de lado pro outro, a fotógrafa atrasada por meia hora, fez gracinha comigo quando chegou e ainda por cima flertou com todo mundo que estava naquele lugar, principalmente com a modelo, isso é no mínimo falta de profissionalismo. - Eu falei com a voz firme, sem deixar transparecer mais do que eu queria.

- E qual o problema  da mulher flertar com alguém? Isso não diminuiu a qualidade do trabalho dela, você só está procurando motivos para implicar com ela. Se é que ela estava mesmo flertando, vai ver ela só estava sendo atenciosa com as pessoas. - Ela rebateu. - E por falar em flertar, você que devia sair um pouco desse apartamento. Ver um pouco de cor, existe um arco-íris inteiro a sua disposição. - Ela deixou uma risada baixa escapar e eu revirei os olhos mais uma vez. Eu não tinha paciência para uma Marcela me incentivando a procurar alguém para namorar.

- Eu não preciso de uma namorada.

- Eu não estou falando sobre namorar, estou falando sobre transar. - Eu corei no mesmo instante em que ela falou a palavra. - E não precisa ficar vermelha. É a coisa mais natural do mundo.

- Pra quando você acha que podemos marcar as fotos? - Mudei completamente de assunto, descaradamente fugindo do que eu não queria falar. E ela me acompanhou, sabia o quanto me deixava desconfortável quando insistia no assunto.

- Vou falar com a assistente da Kalimann e te aviso quando será. Vai querer supervisionar mesmo sendo eu a fazer as fotos? - Ela arqueou a sobrancelha curiosa.

- Vou sim.

- Ótimo, talvez Kalimann flerte com você. - Belisquei seu braço para que ela parasse de implicar comigo. - Aiiii, sua bruta, isso doeu, vai ficar roxo.

- Era pra doer e tomara que fique roxo pra você aprender e lembrar por um tempo a não me irritar. - Falei emburrada.

- Luiza vai perguntar o que foi e eu vou dizer que minha chefe/melhor amiga não aceita brincadeiras. - Ela tentou demonstrar irritação, mas eu sabia que ela estava segurando o riso. - Por isso eu acho que você devia transar, muito irritadinha. Tá precisando liberar energia.

- Vai se foder, Marcela.

- Então, vou ver o dia e a hora e te falo. - Dessa vez foi ela que mudou de assunto. Parece que cansou de implicar. - Aproveitamos e fazemos as suas fotos para orelha e contracapa. Já que vamos estar aqui no seu apartamento mesmo e você se recusa a sair daqui para ser fotografada em um estúdio.

- Tudo bem. - Eu não teria como fugir. Odiava ser fotografada. Odiava mais ainda ter pessoas desconhecidas no meu apartamento. - Mas tem uma coisa, nada daquele monte de gente que estava no dia das fotos na cobertura. Só a assistente e a fotógrafa. Ainda mais agora que tenho a informação de que também vou ser fotografada, não quero um monte de gente me olhando como se eu fosse um rato de laboratório.

- Você é uma ratinha linda e chata. Mas não se preocupe, eu vou acertar tudo com a Manu dessa vez. Vou falar para trazerem o mínimo, não vamos desorganizar a sua casinha perfeita.

Só em pensar sobre ter diversos equipamentos espalhados pela minha sala e além disso, ter diversas pessoas andando pelo meu espaço particular já me deixava aflita. Só duas pessoas tinham acesso livre a minha casa, Marcela por motivos de segurança e porque ela fazia questão de não me deixar em paz, e Sr. Felipe, que subia sempre que eu precisava de alguém pra me ajudar em algo.

Meu apartamento não era grande, não poderia ser, tinha uma sala confortável o suficiente para dias em que um filme ou meus livros me serviam de companhia. Um sofá branco ficava em um de seus cantos, virado para uma tela que descia quando eu estava disposta a me distrair com filmes. Poucos itens de decoração, nada desnecessário, um abajur ao lado do sofá com luz fria, quatro nichos com meus livros preferidos organizados por cor e tamanho. Não tinha tapete, eu preferia não correr o risco de o ter marcado com qualquer tipo de mancha. Eram poucas coisas, sem extravagâncias, fáceis de organizar, fáceis de limpar. O escritório também era minimalista, minha mesa ficava exatamente no meio dele, com meu notebook sobre ela, apenas. Uma janela tomava conta de toda parede que se voltava para a vista mais linda que eu ou qualquer ser humano já tinha presenciado, o mar. Eu precisava de paz para escrever e estar ali me proporcionava. Meu quarto também não tinham muitos móveis, a cama, uma mesa de cabeceira e diferente do escritório, persianas cortavam a luz do sol quando a claridade me incomodava durante o dia.

Ao contrário dos outros cômodos que compunham  o apartamento, minha cozinha era completa e isso não me incomodava, tinha todos os acessórios que uma cozinha deveria ter. Eu gostava de cozinhar, mesmo que só para mim, era assim que eu tinha inspiração para escrever, cozinhar, estar tranquila em casa com tudo devidamente em seu lugar, sóbrio, organizado, limpo.

Isso me dava paz, me deixava em paz.

Desarrumar - GiRafaOnde histórias criam vida. Descubra agora