Oito

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Passo a mão no rosto, e bufo.

Ainda não escolhi a roupa que eu vou. E também não sei se Benjamin vai, tudo ecoa dentro da minha cabeça.

Escolhi um vestido preto, curto mas de gola alta. Apertado no meu corpo, e com mangas pelos braços. Bem confortável.

Coloquei a bolsa no ombro e fui saindo de casa. Abri a porta e segurei com a corrente, tentei fechar o cadeado enferrujado e bati com força, finalmente trancou.

Mamãe já está dormindo, e não acorda nem com reza brava.

Caminhei devagar e abri o portão.

— Laysla, Laysla. —escutei e levantei a cabeça.

O meu cabelo tampa todo o meu rosto mas vi quem é.

Benjamin.

Senti o meu coração pulsar firme.

— Ah, é tu. —fingi desinteresse.

— Sim, eu mesmo. —soou irônico.

Parei e encarei ele.

— Só passei para elogiar esse vestido no seu corpo. —continuei em silêncio. — Você está muito gostosa.

Falou simplesmente e se retirou, sorrindo. Engoli seco.

Não vou mentir que tocou lá no fundo, vagabundo.

Agora ele confirmou que vai comparecer.

Passei andando pelas ruas e todas as casas e comércios estão fechados, é bem tarde. Aqui todos se recolhem cedo, porém a família da Sol só começa algo à partir das vinte horas.

São morcegos.

As pessoas daqui não são ruins, eu estudei na capital porque o governo esqueceu do interior, e aqui só tem faculdade de pedagogia. Se quer estudar outra profissão, vá estudar na capital. E foi o que eu fiz, os meus estudos nunca vão me abandonar. A minha família e amizade são tudo para mim, mas eles compreenderam e eu voltei formada.

A minha mãe por exemplo; ela é muito rebelde, teimosa mas foi essencial na hora de me segurar na faculdade quando me apaixonei pelo babaca que perdi a virgindade e sofri bastante. Eu queria ir embora, não ter que olhar todos os dias para ele. Mas a vida continuou, e eu me formei.

Por isso eu sempre vou respeitar as decisões dela, mesmo que me dói.

A distância da minha casa até a casa de dona Rosa é perto, eu sempre ia brincar com a Sol quando éramos crianças.

Cheguei e coloquei só a cabeça dentro da casa, que era direito na cozinha.

— Cheguei! —falei alegre.

Ambos sorriam, eles me adoram.

— Laysla! Entra, minha filha —disse dona Rosa, se levantou e veio até a mim, o tio continuou sentado.

Dei um abraço forte nela, eu adoro ela.

— Como senhora tá? —passei a mão no seu cabelo marrom cacheado. — Estou bem... Bem.

— Laysla vem até aqui, eu tô velho já. —fui até o tio Cabral, e dei um abraço nele.

— A Sol não chegou ainda. —logo avisou.

— Não sei o que o marido dela está aprontando... —resmungou, com um humor instável.

Eles não sabem mesmo o que estão esperando.

— É... Mas e o rango? Tem bolo, tia? —perguntei logo.

Estou com fome.

— Sim, eu fiz bolo de abacaxi... —o meu estômago até sacudiu.

Fomos até o forno, ela se abaixou e retirou o bolo na bandeja. A mãe de Sol é uma cozinheira de mão cheia.

Colocou em cima da mesa, eu peguei uma faquinha e fui cortando logo aquele delicioso bolo.

— Está cheiroso.

— Vê se ficou bom.

— Deve estar incrível!

Eu sou puxa saco com comida.

Mordi um pedaço de bolo, delicioso, quentinho, e o outro pedaço está em cima da mesa para comer depois.

— Está ótimo! —declarei, e ela sorriu com vergonha, puro a Sol.

— Eu disse para ela —rebateu o tio. — Ah, tu diz isso sempre!

Clichê demais.

Soltos e LeaisOnde histórias criam vida. Descubra agora