Três

62 1 0
                                        

Laysla Narrando:

Bati com a palma da mão na televisão, para funcionar a antena e o jornal reproduzir.

Não deu certo mas pelo menos consigo ouvir.

Sentei-me de volta ao banco do trem, e com as mãos ajeitei o meu terno pequeno, junto com o macacão no meu corpo.

— Lay... —disse, o senhor Benedito. — Layla.

— Laysla, sr. Benedito. —corrigi. — Mas me chame de Lay mesmo.

Ele sorriu abertamente.

Não é de propósito, mas ele nunca acerta o meu nome.

— Essa será a última pausa. —comentou e eu engoli seco.

Ele é o motorista do trem.

Estou ansiosa, voltar para a cidade natal é tão... Complicado.

Certo que eu passei três anos e alguns meses fora, mas não sei lidar com o meu desconforto ao pousar.

O jornal anunciou chuva, mas eu não acredito, aqui não chove.

Joguei o meu chapéu em cima da minha mochila e caminhei com as pessoas do trem, em direção à porta de saída.

Olhei o restaurante na nossa frente, e caminhei devagar até ao seu encontro e me sentei em uma mesa vazia. A dona Maria sentou-se ao meu lado, junto ao Benedito. Uma moça do restaurante, ruiva, nos atendeu e as outras garçonetes fizeram o mesmo com os outros passageiros.

Li ao cardápio, enquanto a ruiva atende a dona Maria.

— E o senhor, o que vai querer? —perguntou ao Benedito, séria.

Ela é bonita, tem um semblante delicado e um coque feito em seu cabelo.

— Bom, cê aprova esse strogonoff? —falou, atento na imagem do cardápio.

— Sim, é feito com o tempero da casa. —sorriu de lado, voltei olhar ao cardápio.

Galinhada, strogonoff, carne-seca com pirão de leite, rabada e farofa de linguiça.

— Me traga, por favor. —pediu, desconfiado. Ela anotou no caderninho.

— E as senhoritas? —disse, dona Maria riu tímida.

— Sou senhora, mia fia. —corou o seu rosto.

A menina passou a mão pelo uniforme azul, limpando delicadamente.

— Que isso, ainda tem a pele sem rungas —elogiou, e a dona Maria abaixou a cabeça.

Ela é linda mesmo.

Negros realmente mantém a juventude da aparência, mesmo com a idade avançada.

— Obrigada. —agradeceu simplesmente. — Quero uma farofa de linguiça. —avisou confiante.

Olhei para a dona Maria.

— Dona Maria, melhor não. —me intrometi. — A farofa causa azia, a senhora passará mal na viagem.

Ela me olhou, cabisbaixa. Mas sabe que é a verdade.

— É mesmo, então a galinhada. —sorriu e deu ombros. A moça anotou.

— E você, o que quer? —me olhou fixo, séria.

— Carne-seca com pirão de leite, por favor. —passei a mão no meu cabelo.

Ela acabou me intimidando, haja beleza.

— Certo... Volto logo. —anotou rápido.

Disfarcei, sem graça.

Soltos e LeaisOnde histórias criam vida. Descubra agora