9. Estrada

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Sempre gostei da ideia de ter absoluto controle da minha vida. De escolher cada passo que eu tomaria, mesmo que isso significasse sacrificar algo importante.

Todos já ouviram a típica frase: a vida é feita de escolhas. E nós a tomamos e lidamos com as consequências. Costumo dizer a mim mesma, que as escolhas nada mais são do que caminhos, nos cercando o tempo todo, todo dia.

Na maior parte, esses caminhos não representam grande perigo, apenas são possibilidades que surgem de uma maneira inofensiva. No entanto, há também aqueles caminhos que exigem muita ponderação, cautela e até mesmo conhecimento para serem trilhados. São caminhos tortuosos, íngremes e cheios de obstáculos.

Achava que esses caminhos fossem evidentes, inconfundíveis, como por exemplo: optar por uma carreira, como optei ao entrar na faculdade; decidir sair de casa quando completasse dezoito anos, como Loki; se casar ainda jovem, como Kelly; ou até mesmo, escolher se tornar mãe para duas crianças orfãs, como Helena.

De um jeito ou de outro, caminhos desafiadores sempre cruzam a nossa vida, talvez não como imaginávamos, mas eles surgem. E não importa se você está preparado para escolhê-lo como seu próximo passo, se teve tempo para pensar sobre, ou se conseguiu planejar milimetricamente tudo o que o envolvia. Ainda assim, os caminhos desafiadores sempre guardam surpresas, sejam elas boas ou ruins.

Contudo, existe algo de irônico nessa situação, algo que eu não sabia até segundos atrás.

Nem sempre conseguimos identificar que caminho se estende a nossa frente. Eles apenas aparecem, sutilmente, e somos conduzidos a tomá-los sem ter ciência de onde nos levarão.

Eu não sabia, mas no momento em que optei seguir rumo ao endereço da mulher que me mostraria um novo caminho, acabei me deparando com um ainda mais difícil.

Um caminho, que me deixou de frente para morte.

- Bia! - Edward me chama em desespero, sua voz se sobressaia em meio ao apito ensurdecedor no meu ouvido, contudo, mesmo assim não fui capaz de respondê-lo.

Desde que o airbag colidiu contra o meu peito, não conseguia mais recuperar o folego. A cada segundo a escuridão dominava meus sentidos, e naquele momento, tudo o que eu conseguia compreender, era que meu caminho havia nos provocado aquele acidente.

- Bia, acorda! - escuto as palavras distantes, levemente esganiçadas pelo seu tormento ao me ver naquele estado. - Não se vá, por favor! - ele súplica.

Mas não pude atender seu pedido. A escuridão era muito mais forte, e enevoava absolutamente tudo que poderia me fazer lutar contra ela.

Não havia mais o que fazer, sentia a vida escapando de mim. A voz de Edward passou a ficar cada vez mais longe.

Até a escuridão me levar.


(Horas antes)

O notebook já estava há uns bons dez minutos, com varias abas de notícias abertas. O nome da minha mãe estampado em várias delas, acompanhado por suas incríveis descobertas espalhadas pela Amazônia.

Nunca na vida, cogitei a ideia de ter um dos meus pais em manchetes de jornais, revistas e blogs. Minha mãe, não só era importante no mundo acadêmico, como também participou em diversos movimentos a favor de reservas indígenas, o que implicava grande participação no mundo politico. O passado das terras amazônicas, foi visitado diversas vezes por suas descobertas.

E quanto a foto das duas mulheres - que agora se encontrava sobre a minha escrivaninha -, mostrava minha mãe e a sua amiga ao lado.

O nome da mulher loira surgiu em uma legenda sob as imagens das tantas reportagens que encontrei. Seu nome era Érica Indiani, uma arqueóloga bem conceituada e conhecida, mas que aparentemente se aposentou há vinte anos. Ela não só acompanhou a Escavação daTumba de Jaci, como também acompanhou todas as outras que a minha mãe estava presente.

Solstício Secreto (Em Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora