22. Entendendo

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Jade sorriu, enrugando seus olhos cristalinos, e então, se sentou ao meu lado vago.

— Bem, como eu dizia, o que Edward é, não existe no nosso mundo. Normalmente, seres que não existem em um determinado mundo tendem a encontrar a sua forma mais natural quando estão presos nele.

— No caso de Edward, ele seria transformado em humano. — Concluí.

— Perfeitamente. — Jade sorriu.

— Então aqueles sintomas, eram frutos de uma transformação?

— Podemos pensar que o corpo dele estava em conflito com o novo ambiente.

— Isso pode significar que existia um antigo ambiente? Um lugar que ele realmente viveu?

— Muito perspicaz, Bianca. — Ela ergue as sobrancelhas, impressionada. — Lembra-se do que eu disse? O seu Vínculo provém de um lugar que desconhecíamos completamente no passado, mas através de muita observação, pude descobrir que o Mundo dos Sonhos não é um lugar que você governa, mas sim, um caminho para outros lugares. Lugares que julgamos por muito tempo serem inexistentes.

— Um caminho? Como um... portal? — Perguntei, recordando-me da cartomante que há muito tempo visitei.

— Sim.

— E o que são esses lugares?

— É uma boa pergunta, mas pelo que pude notar, está ligado aos nossos sonhos. Aparentemente todos os seres vivos podem vislumbrar aspectos destes universos. Que são, nada mais, nada menos, que mundos regidos por regras diferentes das quais vivemos. — Ela estende a mão na direção de Edward. — Como ele, por exemplo, seu local de origem é um lugar onde existem as espécies que se encontram no livro de Stephanie Meyer escrevey.

Eu levo vários segundos para conseguir recuperar minha voz.

— Está me dizendo que os nossos sonhos não nascem da nossa mente, mas que são vislumbres de outros universos que... existem? — Meus olhos caíram em direção a grama, enquanto eu processava.

— Minha teoria vai muito além disso, creio que não só nossos sonhos, mas toda nossa capacidade de imaginação está entrelaçada a esses universos. Algo intrínseco à nossa vasta capacidade de imaginar. — Explica ela com um olhar fascinado.

— Como sabe sobre tudo isso?

— Tive muito tempo para estudar sobre seu poder. A cada vida e a cada morte.

— Mas Clara me disse que não eram capazes de me reconhecer. Isso fazia parte da maldição, certo?

— Correto. Mas até Tupã não conseguia impedir certas evidências. Por onde você vivia, deixava um rastro de lendas e superstições. Como acha que o nosso folclore nasceu? Ou as lendas sobre tesouros escondidos e cidades inteiras feitas de ouro? Depois de um tempo, Anhangá e eu passamos a interpretar melhor as pistas que você nos deixava.

Anhangá... meu desconhecido pai.

— Anhangá, onde ele está agora? — Questionei.

Instantaneamente, Jade levou seu olhar para longe.

— Bem, é uma história triste. — Ela engole em seco, — Ele não está mais entre nós. — Estendi minha mão e afaguei suas costas quando notei a dor em seus olhos. — Não é justo com você, mas não consigo contar o que houve com ele. Não agora.

— Não se preocupe.Eu entendo. — murmuro, lembrando da minha perda mais recente. Eu nunca mais gostaria de falar sobre o que aconteceu.

— Mas se quiser perguntar sobre outro assunto, pode ficar à vontade, vou lhe responder tudo o que eu souber. — Ela propõe tentando amenizar a tristeza em sua voz.

Rapidamente acolho a sua ideia e faço a primeira pergunta que me vem à mente.

— Tupã ainda está vivo?

— Ninguém sabe, foi visto pela última vez durante seu último confronto com Anhangá, dizem que não possui mais a mesma aparência de antes e que decidiu viver entre os homens. Muitos decidiram fazer o mesmo, depois que a civilização humana avançou em conhecimento. Vivemos entre as pessoas e não costumamos fazer mal para os mais fracos, apenas entre nós mesmos. É por isso que não é fácil de nos encontrar.

— Você disse que tiveram tantos nomes, mas há algum que vocês costumam usar?

— Bem — ela pensa por um segundo —, costumo nos chamar de entidade, acho que define bem minhas características. Amo estar com a natureza, controlo a energia que cada ser vivo utiliza para estar vivo e de vez em quando, gosto de interferir na vida de outras pessoas.

Sorrio com o nome.

— Por que agora você consegue me reconhecer? A maldição não deveria estar vigente.

— Deveria, mas sua linhagem sanguínea interferiu nisso.

— E que linhagem seria essa?

— Das bruxas. O sangue delas está além de qualquer maldição lançada por nós. Uma maldição ou uma benção de qualquer bruxa, superaria qualquer uma nossa. Embora sua maldição não tenha ido completamente, pois infelizmente houve o... acidente com sua família humana, algumas características dela foram perdendo a força com o passar do tempo. Se aprender a usar o poder que se encontra em seu sangue, você se tornaria invencível.

— Isso está certo? Vocês, entidades,são como deuses, certo? Como uma bruxa conseguiria interferir em algo que um deus fez?

A risada de Jade escapa dentre seus lábios, e soa como o farfalhar das árvores ao nosso redor.

— Você está muito habituada com a hierarquia mitológica dos humanos. Digamos que nós, entidades, conseguimos desenvolver e criar com os nossos poderes, a partir disso, criamos as regras. — Ela conta, enquanto estende seu braço para trás das costas e coloca suas mãos no chão para se apoiar. — Porém, já as bruxas, não conseguem criar como nós, elas apenas alteram o que já está ali. Quanto mais poderosa a bruxa, mais capacidade ela tem de interferir.

— Então, existem mais, além de vocês, entidades?

— Muito mais. Esse mundo guarda segredos que nem mesmo eu sou capaz de desvendar. Mas é lamentável que agora, no entanto, a maioria está extinta.

— Indo por essa lógica, por que não existem vampiros no nosso mundo?

— Quem disse que não? Nossos vampiros não são exatamente como Edward era. — Aponta ela. — Mas são vampiros.

— Então, por que Edward não alterou suas características para um vampiro, que é a espécie mais próxima do que ele costumava ser na onde ele vivia?

Jade sorriu.

— É um pouco mais complicado que isso, minha querida.

— Então me explique. Quero entender tudo.

Edward pigarreou à minha esquerda, lembrando-me que ele estava ali o tempo todo, ouvindo a nossa conversa.

— Acho que Jade não tem todas as respostas, Bianca. Acredito que algumas delas sejam apenas suposições. — Edward lançou um olhar fugaz na direção dela, antes de me olhar novamente.

O fato de Edward ter interferido na conversa, me deixou com uma leve sensação de que havia algo a mais, mas ignorei a ideia, eu confiava plenamente que se tivesse algo além do que eles estavam me contando, não manteriam segredo.

Solstício Secreto (Em Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora