Solstício Secreto (Em Andamento)

15. Transformação

Edward estava em transe. Inacessível.

Meu sangue fluía através do corte, na parte interna do meu lábio inferior, direto para seus lábios. Era uma cena estranha e aflitiva. Seus músculos não se moviam. O máximo de movimento que percebi, foram suas mãos deslizarem em direção a parte torácica da minha coluna, me impedindo de me afastar de sua mordida. No entanto, ele não parecia estar me atacando. De certa forma, parecia comedido. Porém ainda assim, meu sangue continuava sendo tragado escorrendo para fora, deixando uma leve ardência na região em que o pequeno corte se mantinha aberto.

Agarrei o ombro direito de Edward com força.

O pânico se alastrava, como um inseto peçonhento rastejando pela minha pele, tomando conta de qualquer emoção positiva que poderia ter sentido há instantes atrás. Não pude deixar de considerar o fato de estar entre os dentes de um vampiro faminto. Será que ele havia entrado em frenesi? Ou poderia estar apenas... degustando? Seria possível um vampiro provar sangue sem perder o controle?

Embora os livros de Crepúsculo sempre mostraram que isso seria improvável, talvez não fosse tão absurdo cogitar que ele pudesse estar mais controlado. Afinal, Edward não estava mais se enquadrando nos parâmetros propostos pelos livros de Stephenie Meyer.

E então, num supetão ele parou.

Seu rosto já estava longe do meu, mas meu corpo permanecia encaixado sobre o dele. Sua mão segurava a lateral do meu braço esquerdo, ao passo que a outra se mantinha espalmada em minhas costas, impedindo-me de aumentar o espaço entre nós.

ㅡ Edward? ㅡ Debilmente o chamei. Sentindo o gosto do meu próprio sangue em meus lábios.

ㅡ Você... ㅡ Sua íris negra se ergue, varrendo meu rosto diante do seu, até pararem na direção dos meus olhos. Seu olhar era intenso e assustador. Como se eu fosse um alvo que ele quisesse acertar. ㅡ Eu não consigo, Bianca.

Arregalo os olhos.

ㅡ O que quer dizer? ㅡ Minha voz saiu esganiçada.

Contudo o que se seguiu, não só me fez gritar em pavor, como também me fez agitar meu corpo, debatendo meus braços e pernas, a fim de me livrar de seu abraço mortal.

Com uma rapidez habilidosa, Edward cercou meu queixo com sua mão, virando meu rosto para o lado direito com tanta rapidez que não pude reagir. E logo depois, afundou suas presas no meu pescoço.

O sangue, ㅡ o meu sangue ㅡ, escorreu para baixo, deslizando por minha pele, umidificando a gola da camiseta, me fazendo estremecer. Edward me apertou contra seu corpo, me prendendo contra si, deixando-me completamente imobilizada, através de sua força sobre-humana.

ㅡ Edward, por favor. ㅡ Supliquei horrorizada, sentindo a intensidade com que sorvia meu sangue.

Usei toda a força em meus dois braços para tentar afastá-lo, empurrando seus ombros para longe, mas isso não provocou nem uma mínima oscilação no vampiro. Sedento, ele prosseguia engolindo sem se refrear. ㅡ Se você não parar... ㅡ Ofego, sentindo o ar fugir dos meus pulmões. A cada segundo minha energia vital se aproximava de um poço vazio.

Eu deveria gritar. Ele iria me martar!

Puxo o ar, enchendo os meus pulmões com violência. A sirene na minha garganta se rompeu. Meu grito sai agudo e sufocado.

ㅡ Me solte! ㅡ Bradei ao sentir o instinto de sobrevivência me dominar. Edward não se mexeu.

Uma sonolência familiar, semelhante a que me visitou recentemente, voltou a nebular meus pensamentos. Minhas forças agora eram apenas uma fumaça inofensiva, se dissipando pelos últimos instantes que me restavam de consciência.