Solstício Secreto (Em Andamento)

24. Adrenalina

Engoli o chá fumegante sentindo-o queimar garganta abaixo. A sensação era maravilhosa, minha garganta estava cada vez mais dolorida e o chá aliviou o desconforto.

Ainda fazia frio. A janela ao meu lado estava embaçada. Era por isso que estar dentro da cafeteria era tão aconchegante. O cheiro do vapor de café, a música ambiente que era apenas um sussurro entre nós, o design do local. Era meu lugar favorito.

Fitei Edward a minha frente ainda bebericando seu chá e um sorriso surgiu em meu rosto. Já estava em sua terceira xícara, degustando cada sabor e descobrindo qual gostava mais. Ele havia acabado de descobrir que dentre todas as refeições, ㅡ se é que poderia chamar assim ㅡ, um chá era a menos estranha ao seu paladar.

ㅡ Acho que vou viver de chá. ㅡ Disse ele parecendo ler meus pensamentos.

ㅡ É compreensível você preferir coisas líquidas. ㅡ Visto que antes ele só queria beber sangue, mas evitei dizer isso onde estávamos. Ele assentiu, entendendo o que eu quis dizer.

ㅡ É difícil me acostumar a comer comida ㅡ falou quase sussurrando. ㅡ Tem uma textura estranha, apesar de nem sempre ter um gosto ruim, principalmente quando estou com fome.

ㅡ Vai se acostumar ㅡ digo levando a xícara aos meus lábios novamente. 

ㅡ Mas não estou reclamando, é claro. Eu prefiro mil vezes isso, que a opção anterior.

ㅡ Jamais reclama, ㅡ gracejei para provocá-loㅡ só costuma se queixar umas dez vezes por dia que não consegue se adaptar a comer comida humana normal.

ㅡ Você adora isso ㅡ ele balança a cabeça com um meio sorriso.

ㅡ O que?

ㅡ Me zombar por eu não ter mais os meus privilégios... ㅡ ele se aproxima por cima da mesa para dizer a última parte. ㅡ vampirescos. 

ㅡ Como não zombaria? Você adorava ressaltar o quão horrível era ser um... ㅡ olho ao redor checando se poderia falar, mas havia uma pessoa prestes a passar por nós, então resolvi ser mais discreta. ㅡ ser como antes.

Ele riu antes de tomar mais um gole do próprio chá.

ㅡ Em minha defesa, meu lado humano só está enferrujado. É disso que me queixo.

Novamente, outra risada me escapa.

ㅡ Admita que você sente falta do bônus.

ㅡ É, eu sinto. ㅡ Confessou olhando na direção da janela. ㅡ Mas eu me contento com o que tenho agora, pelo menos, não estou sob tortura por estar dentro de um lugar pequeno e quente com diversos corpos humanos ao meu redor.

ㅡ Você tem um ponto.

ㅡ Finalmente você concordou com algo que eu disse. ㅡ Ele ergue as sobrancelhas e me lança um sorriso malicioso. ㅡ Não sabia que conseguia.

Rolei os olhos para o alto e voltei a me distrair com os detalhes artísticos da cafeteria.

O local mais se assemelhava a uma casa de chá,  contudo era muito charmoso. Havia  mesinhas arredondadas e delicadas cadeiras brancas distribuídas pela área onde os clientes se sentavam. As xícaras e o pires eram de porcelana, assim como o bule e o açucareiro. As peças de louças eram todas graciosas, num tom azul-bebe com desenhos de flores cor rosa-claro. Além disso, o papel de parede verde pastel com delicadas folhas douradas estampadas, davam um ar delicado e aconchegante para o estabelecimento. Nitidamente, todo o design era inspirado no tema inglês.

Estar ali, era como voltar no tempo uns oitenta anos, se não mais.

Edward seguiu meu olhar curiosamente e então disse: