13. Meu Livro Favorito

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Pov. Loki

O Doutor Otávio era um senhor simpático e também extremamente profissional, apesar de seu nome não me passar muita credibilidade. Com seus cabelos grisalhos, barba por fazer e olheiras fundas, ele me explicava sobre o quadro da acidentada Bianca.

— Os sinais vitais estão em perfeita normalidade. É provável que a anestesia e o trauma do acidente a mantenha desacordada até amanhã, mas não deve se preocupar com isso. O pior já passou. — Ele comunica tranquilamente. — A parada cardiorrespiratória aconteceu devido ao impacto da colisão, gerando o que chamamos de concussão cardíaca. É preciso agir rápido em situações como essa, ela teve sorte pelo rapaz ser tão eficaz.

— Graças a Deus — Comento aliviado, correndo os olhos por seu jaleco amassado.

E então o Doutor se aproxima da cama hospitalar que Bianca se encontrava, para observá-la mais de perto. Ele analisava a cabeça e os ombros enfaixados com gaze, com as costas voltadas na minha direção.

Sem tirar os olhos dela, ele volta a dizer.

— Achei extraordinário, o rapaz que salvou sua irmã. A colisão atingiu diretamente o lado que ele estava sentado, foi uma surpresa vê-lo conseguir sair do carro mesmo sob aquela circunstância. — O médico me olhou, torcendo seu corpo na minha direção, esperando que eu pudesse lhe dar alguma resposta. Mas eu simplesmente dou de ombros.

Resolvi apelar para o lado etéreo da situação.

— Um milagre. — Tento imitar os olhos crentes da mulher que me disse algo parecido na sala de espera, há uma hora atrás.

— De fato, um milagre. — Concorda resignado. — Os paramédicos disseram que ele recusou todos os atendimentos. Ou ele é um maluco ou o anjo da guarda de Bianca. — Diz desviando seus olhos dos meus, e alinhando seu corpo novamente para visualizar o monitor cardíaco ao lado da cama.

— Eu ia perguntar, justamente sobre isso Doutor, soube que ele não entrou na ambulância.

— Não. O pessoal comentou que foi como se tivesse sido uma ilusão, ele desapareceu assim que a colocaram no catre. — Ele repuxa os lábios numa linha tensa. — Se por acaso vê-lo, pode avisar que precisa fazer alguns exames para garantir que está realmente bem. Já vi muitos casos de pessoas que aparentemente não se feriram, mas logo depois foram a óbito por negligenciar a própria saúde. — Alerta com olhos censurativos.

— Se eu conseguir achá-lo, vou avisar. — Assenti, acompanhando seu movimento até a porta da sala branca, onde estávamos. O restante dos leitos estavam vazios.

— Faça isso. Não queremos que o nosso herói perca a vida por uma bobeira. — Sua voz sai mais suave dessa vez.

— Não queremos. — Respondo tentando ser o mais convincente o possível.

Talvez eu entenda porque Edward tenha desaparecido sem deixar pistas. A atenção que receberia por conta de seu ato, logo se tornaria curiosidade quando descobrissem que ele não está dentro dos padrões normais para ser classificado como um humano. O que seria dele a partir disso? No mínimo viraria um experimento de laboratório.

Mas ao olhar para o rosto da minha irmã, só pude torcer para que ele voltasse. Antes de ver o vídeo, não tinha ideia do quão conectados os dois estavam, mas o esforço e a expressão agoniada de Edward enquanto tentava trazê-la de volta, me mostrou o nível de amálgama entre ambos. Era impossível não dizer que para Edward, Bianca não representava mais do que apenas uma conhecida.

O mais incomum de tudo isso, é que os dois se conhecem apenas há dias. Seria possível que já pudessem ter despertado algum sentimento relevante um pelo outro?

Solstício Secreto (Em Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora