14. Momentos

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A cozinha ainda tinha cheiro de comida.

Me inclinei sobre a pedra escura de mármore à minha frente, apoiando meu cotovelo esquerdo sobre a superfície lisa e fria, descansando o meu rosto sobre minha mão espalmada. Observei Edward secar as mãos assim que terminou de lavar a louça.

Ele estava vestido com uma blusa cinza de tricô, que por sinal, ficou linda em seu corpo. Um dia aquela blusa pertencera a Loki, ele a ganhou de um amigo no natal passado, mas ele não gostava de lã, e por isso estava jogada as traças em seu guarda-roupa. Entretando, Edward estava muito bem nela, com seu corpo magro, definido e elegante.

Além da blusa, usava uma calça jogger preta, que havia comprado pela internet. Embora Edward repudiasse a ideia de eu estar gastando dinheiro com ele, simplesmente ignorava, porque amava lhe dar presentes, algo me dizia que ele não era tão acostumado a isso.

O filmei, mais uma vez, notando que sua aparência estava muito mais humana hoje, do que em qualquer outro dia.

Finalmente estávamos sozinhos livremente pela casa. Loki estava gritando com alguém em seu headset, dentro do quarto. Ele era viciado naqueles joguinhos online que eu nunca conseguia me lembrar do nome.

Já Helena, havia saído pela manhã. Deixando um recado por mensagem de texto, que dizia: "Volto no fim da tarde, ou talvez no início da noite. Fui visitar uma amiga. Deixei comida na geladeira. Se precisar, me liguem. Bjs."

Foi com alívio que ao descer para almoçar, encontrei Edward na cozinha à minha espera. Ele, perfeito como era, esquentou a comida no microondas e depois lavou toda louça suja, por mais que eu insistisse que pudesse fazê-lo.

O observei sentar ao meu lado. Determinada a insistir no assunto que havíamos iniciado durante meu almoço.

Fitei-o obstinada.

— Edward você precisa me dizer. — Digo seriamente. Ciente de que persuasão não era o meu forte. — Você sabe o quanto isso significa para mim.

Seu rosto se inclina para o lado, enquanto um sorriso surge em seu rosto. Era difícil me concentrar quando ele me olhava daquele jeito. Seu braço desliza pela pedra, com a palma da mão alisando o balcão.

— Nunca disse que não diria. — Ele começa. — Mas agora precisamos focar na sua recuperação. Você precisa descansar.

Arfei, me sentindo exasperada.

— Estou prestes a explodir. — Resmungo. — Tem ideia de como é difícil fingir que está tudo bem? Tenho vontade de arrancar Helena daqui a chutes. Ou pelo menos, amarrá-la numa cadeira e fazê-la confessar tudo o que me escondeu até hoje. — Desabafo.

Há alguns dias, havíamos conversado sobre exigir toda a verdade de Helena. Edward achava que ela estava incomodada por eu ter ido a Porto Alegre sem avisá-la, sua desconfiança era acentuada por minha indiferença e impassibilidade referente a qualquer palavra que ela dirigia a mim.

Helena, já imaginava que eu tinha descoberto sobre suas mentiras. Naquele dia, no quarto, quando interrompeu meu momento com Edward, ela chegou a me falar que se quisesse conversar, bastava apenas procurá-la. Não o fiz naquele momento, porque já era noite e eu estava com os pensamentos bastante agitados por causa das palavras que Edward me dissera instantes antes.

No dia seguinte, decidi que estava na hora de ter a conversa com Helena. No entanto, Edward me aconselhou a esperar mais um pouco, pois a cada dia Helena se torturava um pouco mais com a ideia de ter sido desmascarada. Seus pensamentos se expunham e Edward tirou proveito disso.

Ele pôde confirmar todas as informações que obtivemos. Helena é minha tia-avó e também uma mulher foragida. Suas lembranças mostraram que devido ao seu medo de ser pega, se submeteu a inúmeras cirurgias plásticas para mudar seu rosto e alterou tanto a cor de seu cabelo como o corte.

Solstício Secreto (Em Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora