11. Impacto

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As lágrimas quentes rolavam pelas minhas bochechas e se mesclavam com a água fria da chuva. Quando atravessei a porta da casa, não pude mais conter os intensos soluços que estavam presos na minha garganta.

O vento jogava as gotas pesadas severamente contra a pele nua do meu braço, chegando ao ponto de deixar marcas vermelhas por onde colidiam, mas isso não me impediu de prosseguir com minha fuga para fora daquele lugar maldito. Cada centímetro percorrido em direção ao portão se transformava em um fragmento de alívio e ansiedade.

À medida que corria, sentia as pedras do jardim se tornarem mais lisas sob meus pés, deixando meu movimento completamente desajeitado. Mas não me importava, tudo o que eu queria era me distanciar de todos os espectadores desse momento de humilhação.

E que humilhação! Além de descobrir que fui feita de boba por toda minha vida, ainda fui expulsa da casa da mulher que se dizia amiga da minha mãe, como se fosse uma espécie de demônio. Nunca mais toleraria uma coisa dessas!

Assim que alcancei o portão, agradeci a todas as divindades existentes por ele estar aberto. Cruzei a passagem, parando na calçada diante do meu carro estacionado no meio fio. Abri a bolsa na lateral do meu corpo, pendurada pela alça diagonal que atravessa meu peito, procurando pelo sensor para destravar a tranca.

Precisava dirigir, acelerar meu carro para longe dessa rua maldita, nesse bairro maldito, dentro dessa cidade maldita. Nunca mais voltaria aqui, nunca mais!

Senti a raiva me incendiar quando recordo que a chave não estava comigo, mas sim com Edward. E me vejo ainda mais frustrada quando percebo que ele ainda estava dentro da casa.

E o que diabos ele estava fazendo lá dentro ainda?

Passo a mão pelo meu cabelo molhado, estremecendo por causa do frio, sentindo a aflição me dominar por completo. Minhas pernas começaram a tremer, me forçando a sentar no meio-fio e a ceder mais lágrimas quentes que insistiam em vir.

Enlacei meus joelhos com o braço e apoiei meu queixo sobre ambos, tentando me manter aquecida sob aquela tempestade gélida. O frio era torturante, percorria partes do meu corpo que ainda lutavam para recuperar a temperatura, mas as roupas molhadas impediam isso.

No entanto, ainda assim, se fosse preciso esperar Edward sob a chuva, eu o faria.

— Bia — a voz aveludada chama.

Ergui meu rosto na sua direção, ele estava agachado ao meu lado, molhado pela chuva. O cabelo levemente colado à testa, à água pingando de seus cílios e queixo. A camiseta se agarrava ao seu corpo de uma maneira que dava asas à minha imaginação, fazendo-me recordar do momento em que o lavei na minha banheira.

Balancei a cabeça bruscamente. Foco, Bia, foco!

— Por que demorou tanto? — questiono tentando soar irritada.

— Perdoe-me, precisava dizer algo a Érica antes de sair — ele conta, cerrando a mandíbula com força.

— O que v-você falou? — meus dentes começam a bater.

— Eu te conto tudo, mas primeiro, vamos te tirar dessa chuva — ele responde. Então seu corpo se aproxima do meu, envolvendo minha cintura e me puxando para cima.

Apesar de Edward carregar a maior parte do meu peso, meus músculos rangiam conforme se movimentavam. Seus braços fortes agarravam firmemente meu corpo, colando-me a ele para me manter equilibrada, até alcançarmos o carro.

Assim que ele se certifica que estou sentada no banco, fecha a porta e segue para o lado do motorista. Entretanto, antes que ele consiga abri-la, uma silhueta surge saindo do portão de madeira, era Martin.

Solstício Secreto (Em Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora