19. Esclarecimento

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Parei ao lado da minha tia, colocando a mão sobre a boca à medida que sentia meus ossos doerem com o choque da imagem a minha frente.

Ajoelhei ao lado dela, analisando cada aspecto danificado de seu rosto. Nitidamente o nariz estava quebrado, haviam dentes para fora de sua boca, e os olhos estavam tão inchados, que a tornou irreconhecível.

— Meu Deus. — Era simplesmente tudo o que eu conseguia pensar em dizer.

Meu coração se esmigalhou. Os soluços me escaparam, antes mesmo que eu me desse conta que eram meus.

— Helena acorde. Acorde, por favor. — Suplico, apertando seus ombros, enquanto minhas lágrimas escorriam pelo meu rosto. Não houve nenhuma resposta, apenas silêncio.

Levei meus dedos até a lateral de seu pescoço, com marcas das mãos de Clara que tentou afogá-la, e os pressionei buscando por sua pulsação. Não senti nada. Debrucei sobre ela, levando meu ouvido ao seu coração e, novamente, não ouvi nada. Nenhum sinal de vida. Nenhum movimento. Será que meus sentidos estavam certos? Eu estava surda? O coração devia estar batendo. O silêncio no peito dela parecia errado.

Com as mãos trêmulas, e os meus dedos tortos em posições estranhas juntei as palmas sobre o peito esquerdo de minha tia e passei a iniciar o que conhecia sobre ressuscitação. Após uma quantia infinita de compressões, levei minha boca até a sua, sentindo o gosto de seu sangue e soprei ar em seus pulmões. E apesar de ter repetido essa sequência, cinco ou seis vezes seguidas, Helena nem ao menos se mexeu.

— Não... não... por favor. Não vá Helena, por favor! — Implorei em meio aos soluços. — Pelo amor de Deus, não vá! — Puxei o ar, voltando minha face na direção de Edward que carregava a mulher odiosa para algum lugar. — Edward! — Gritei. — Precisamos levá-la a um hospital!

Sentei sobre meus tornozelos e ergui o corpo de Helena em meus braços, encostando minha testa na sua e apoiando seu peso sobre minhas coxas.

Eu não podia perdê-la. Não com as memórias dos últimos dias. Não sob o remorso das acusações que joguei em seus ombros. Nos últimos tempos, eu mal suportava sua presença e nem sequer olhava seu rosto. Como poderia conviver com isso? Como seria capaz de olhar nos olhos de Loki, depois de tudo o que fiz?

Loki, o que seria dele? Ele nunca seria capaz de me perdoar. Nunca.

— Me perdoe! — Vacilo buscando por ar. — Me perdoe, por tudo. — Peço enquanto me agarro ao seu corpo, como se fosse sua vida ali, em minhas mãos. — Eu não vou desistir. — Digo a ela, observando seu semblante irreconhecível.

— Bianca? — A voz de Edward repentinamente surge atrás de mim, e logo após, vejo-o se ajoelhando ao meu lado. Assim que viu minha expressão, ele entendeu perfeitamente do que se tratava. — Eu sinto muito mesmo. — Ele fala com compaixão.

Meneio o rosto rapidamente.

— Não podemos desistir. — Insisti. — Me ajude a levantá-la. Se formos rápido o bastante, se conseguirmos chegarmos até um hosp...

— Bia? — A voz que tanto temia ouvir agora, me congelou.

Edward automaticamente olha na direção da voz, atrás de mim.

As palavras travam minha garganta. Olhei para o rosto de Helena, antes de deitar delicadamente seu corpo inconsciente e tornar meu rosto na direção do garoto de cabelos negros e olhos verdes, que aguardava minha resposta.

— Loki. — Suspiro sem forças.

Seus olhos verdes não estavam na minha direção, mas obviamente, sobre a face que eu havia acabado de deixar no chão. 

Solstício Secreto (Em Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora