21. Humano

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Embora já fosse tarde da noite e o chuveiro não aquecesse a água, suas gotas colidiam mornas contra o meu rosto. Provavelmente, estava ali há quinze minutos ou há uma hora. Era difícil me nortear sendo assombrada por meus pensamentos que insistiam em me arrastar para o passado.

Se pudesse, teria feito tudo diferente.

Eu nunca havia enfrentado uma situação tão complexa e angustiante, era tão estranho imaginar tudo o que enfrentei nos últimos dias. E a dor parecia me perseguir, onde quer que eu fosse. O vazio, tão familiar, era uma maldição.

De olhos fechados, inclinei meu rosto para cima, sentindo o frescor da água me acalmar. Permaneceria em tal condição por dias se pudesse.

Me sentia especialmente mais relaxada por estar finalmente sozinha. E em vez de me desmanchar em mais lágrimas como pensei que faria, percebi que estava estranhamente mais serena.

Talvez fosse por causa da discussão com Loki. Sua franqueza foi um tremendo choque, e, mesmo assim, conseguia enxergar um lado bom nisso. Agora não tinha mais nada a esconder e isso pareceu me livrar de um enorme peso nos ombros.

Talvez fosse graças às palavras reconfortantes de Edward. Elas agiiram feito uma cura, ou, pelo menos, como um remédio, neutralizando todas as emoções nocivas que sentia.

Havia, também, uma terceira opção: o cansaço.

Não sabia quem ou que me deixou sob essa espécie de torpor, mas acho que também não me importava.

Ao fechar o registro, meu rosto se aqueceu instantaneamente com a ausência da água. Nunca imaginei que um lugar pudesse ser tão úmido e quente, porém o Amazonas vinha me mostrando que dentre tantas características seu clima era a mais marcante.

Peguei o vestido que Jade separou, sentindo a textura macia e leve, como viscose branca estampada de borboletas azuis.

O vesti cuidadosamente, sentindo um leve desconforto com os hematomas distribuídos pelo meu corpo. Se havia algo que estava se tornando bem comum eram feridas abertas e hematomas.

Quando me olhei no grande espelho do banheiro, notei que o vestido havia se ajustado perfeitamente ao meu corpo. Isso me deixou um pouco mais confiante.

Era um traje casual, de alças finas, com um leve decote em "V" no busto, envolvendo minha cintura e se findando através de um caimento evasê alguns centímetros acima do joelho. Não fazia o meu estilo, mas me senti confortável ao colocá-lo, o que bastava.

Por fim, calcei as sandálias que tambem haviam sido deixadas ali para mim e girei a maçaneta, inspirando o ar úmido do banheiro uma última vez antes de sair.

E logo de cara, me deparei com Jade na parede oposta segurando uma toalha sobre o ombro. Seu cabelo estava preso numa trança lateral e ela ainda trajava um short de linho e uma regata que havia usado durante a cremação do corpo de Helena.

Com um sorriso amoroso, ela veio até mim e subitamente me abraçou.

— Você está bem? — Perguntou se afastando para ver meu rosto.

— Já tive dias melhores. — Dou de ombros.

— Imagino que sim, mas confie que tudo irá melhorar. — Garantiu, apertando a lateral do meu braço.

— Eu sei que vai. — Concordei, com uma expressão impassível.

Jade afagou meu ombro. E então seu semblante que até o momento expunha a preocupação que sentia, subitamente se transformou em um sorriso. Um sorriso bem estranho, por sinal.

— Queria lhe perguntar uma coisa, — falou ela em voz baixa. — Se importaria em dormir no mesmo quarto que Edward? Loki gostaria de dormir sozinho hoje.

Solstício Secreto (Em Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora