Capítulo 25 - Beijo fatal

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O motorista fica parado pensando no que fazer e então nos diz para nos prepararmos, pois estávamos cercados e  por fim ele comenta que tentará seguir viagem, mas provável que não consigamos. 

Miguel segura minha mão e diz que tudo irá ficar bem, mas eu sei que é mentira. Ele abre um compartimento no chão do carro e pede para que eu faça o mesmo do meu lado, encontro uma bolsa e uma mochila, um kit de primeiros socorros que já coloco na bolsa, pego uma manta, algumas latas de comida, uma faca e duas garrafas d'água. A bolsa já está pesada, então não coloco mais nada, passo a mochila para Miguel que a enche de munição e armas, além de um cobertor e capas de chuva. 

Tudo é muito rápido, silencioso e apavorante.

O motorista explica que aquele grupo é muito violento, por isso ele vai encostar o carro perto das árvores e eu devo descer com a bolsa e a mochila e me esconder em silêncio até que eles me encontrem. E caso eu ouça algum disparo ou algo do tipo devo correr o mais rápido possível em direção ao norte, subir o morro, passar o pequeno riacho e ir em direção leste até uma grande árvore com o tronco repleto de líquen e com uma estrela gravada e devo esperar os dois lá, porém a qualquer sinal de perigo, devo andar mais um pouco na direção sul até encontrar outra arvore grande, com uma flor desenhada e aguardar que me encontrem.

Fico brava, eu era uma oficial ( ok em treinamento, mas ainda sim era), por acaso eles acham que lidariam melhor por serem homens? Miguel percebe minha indignação.

- Claro que não te achamos incapaz ou melhores por sermos homens. A questão é que nós já sabemos como lidar com eles e talvez possamos sair ilesos, mas você ainda não foi treinada para combatê-los e eu não vou colocar a sua vida em risco.

- Eu já enfrentei eles uma vez.

- E quase morreu! Você acha que eles não sabem quem você é? Que não vão querer se vingar pelo o que aconteceu com os amiguinhos deles? Clari, por favor eu preciso que você espere, sei que é uma grande guerreira, mas preciso de você viva. Todo o Reino precisa.

- É verdade senhorita. - O motorista diz  e aponta em direção ao grupo que está se aproximando.

- Se alguma acontecer comigo...

- Não vai acontecer Miguel. - Seguro forte em sua mão.

- Mas se acontecer, fale com Mag sobre o baú embaixo da minha cama e peça a ela que abra. Me promete?

- Não vai acontecer nada...

- Prometa, por favor...

- Eu prometo.

- Ótimo, agora segure essa arma e se ver qualquer coisa te seguindo atire. Ok?

O motorista diz que está na hora, quero dar pelo menos um abraço no meu amigo, mas não há tempo. Saio imediatamente do carro e me escondo no meio da Mata.

O plano já começa a dar errado quando os homens mascarados usando azul chegam no carro.

- Senhores. - Meu amigo diz

- Olha, olha Touro, se não é um carro do Palácio.

- Senhores não queremos problemas com vocês, só estamos cumprindo ordens...

- Ordens de que? Vão levar armamento para nos dizimar?

- De maneira alguma. Estamos apenas levando livros ordens para um projeto que ajuda as pessoas do Clã feridas.

- Até parece! Vocês nos matam por algo que é nosso e agora estão querendo nos ajudar? Muito engraçado... Aposto que os borrões da guarda da rosa estão envolvido nisso! Eles acham que isso pode ser vencido sem tanta violência, mas sabemos que é mentira.

- Touro! - um homem grita, bem próximo de onde eu me escondo.

- O que foi rato?

- Tem uma menina escondida aqui!

Ele se aproxima e me preparo para correr.

- Uma menina? 

Ele abre um sorriso nojento e dois homens me agarram e me levam para o meio da estrada, tento chutar eles, ou usar algum golpe que aprendi nos Oficiais, mas o vestido me atrapalha. Penso em talvez pegar a faca da bolsa, mas ela ficou no meio da Mata no chão e a arma também.

- Olha o que temos aqui...

- Solta ela! - Miguel grita, mas alguns homens seguram ele e o motorista.

- Não vai gritar gracinha?

- Eu não tenho medo de você! - Vocifero e ele cai na gargalhada.

- Que gracinha! 

O homem dá a volta e observa melhor a minha roupa. 

- Pelas roupas só pode ser uma princesa. Rapazes tiramos a sorte grande!

Os homens começam a rir e a me olhar com olhos maldosos e eu cuspo na cara daquele ser desprezível. Ele segura em minha boca e aperta bastante.

- Corajosa queridinha! Eu poderia acabar com você agora, mas como você é bonita tenho outros planos para você.

- Por favor não! Ela não é uma princesa, deixem ela ir! Eu imploro! - Meu amigo grita.

- O que foi bonitão você gosta dela? Ah mas ela já tem dono.

- Eu não sou objeto para ter dono! Seu nojento! 

Eu vocifero e ele me dá um tapa.

- Por favor! Não façam nada a ela!

- E porque atenderíamos a um pedido seu?

- Porque ela é minha noiva! Por favor não machuquem minha futura esposa.

Os homens param por um segundo e eu não consigo entender.

- O casamento é algo sagrado para nós e você parece saber muito bem disso.

- Eu estou dizendo a verdade! 

Um homem lhe dá um soco na barriga e mais outro e mais outro.

- Chega sapo. Vamos ver se é real esse amor dos dois... 

Ele vem em minha direção. 

- Se tentar fugir ou atacar um de nossos homens, ele morre. Agora vá lá ver como está o seu amado.

Preciso entrar no jogo, porque pelo o que parece é isso que vai nos salvar. 

Os homens me soltam e eu vou correndo na direção de Miguel que está caído do chão.

- Ah querido! Como você está?

- Vou te dar um beijo e logo em seguida, vou atirar, preciso que saia correndo para a mata imediatamente e nos encontraremos lá. - ele sussurra.

Apesar de assustada com o plano eu acabo concordando.

- Por favor não façam mal ao meu noivo! Por favor!

- Sabe o que eu estou achando? Eu acho que tudo isso é conversa mole.

- Por acaso se eu não fosse noiva dele eu faria isso?

Seguro no rosto de Miguel e dou o beijo mais fervoroso que consigo, eu não sei se é o medo, a angústia, o desespero ou algo a mais, mas o beijo toma proporções inimagináveis e quando nos afastamos posso ver um pouco de dúvida nos olhos profundos de Miguel e logo em seguida ele pisca para mim e diz: Eu te amo querida. 

É o sinal.

O CLÃ - Série Crônicas do Reino Escondido - Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora