Capítulo 2.

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                     NAMJOON

Reprovei.

Não acredito que reprovei.

Por quinze anos, Kang Liyoung distribuiu notas dez como se fossem balas. Mas justo no ano em que eu faço a matéria, Kang bate as botas e tenho que me contentar com Yura Seohyung.

É oficial. A mulher é minha arqui-inimiga. Só de ver sua letrinha rebuscada — que preenche cada milímetro das margens da minha prova — quero dar uma de Incrível Hulk e destroçar o papel na minha mão.

Tirei dez em quase todas as outras matérias, mas, a partir deste exato instante, estou com zero em ética filosófica. O que, combinado com o seis em história da Espanha, faz minha média cair para cinco.

E preciso de média seis para jogar hóquei.

Em geral, não é difícil manter minhas notas lá em cima. Apesar do que muita gente imagina, não sou um atleta burro. Mas não me importo de deixar que as pessoas pensem isso. Principalmente as mulheres. Acho que elas gostam da ideia de ficar com um homem das cavernas musculoso que só sabe fazer uma coisa, e como não quero nada sério por enquanto, rolos com garotas que só querem sexo são muito bem-vindos. Sobra mais tempo para me concentrar no hóquei.

Mas se eu não melhorar a nota não vai mais ter hóquei. A pior coisa da Yonsei? O reitor exige excelência — tanto acadêmica quanto atlética. Diferente das outras faculdades, que são mais condescendentes com os atletas, a Briar tem uma política de tolerância zero.

Maldita Yura. Quando perguntei antes da aula se poderia fazer algum trabalho extra para melhorar a nota, ela me mandou, com aquela voz anasalada, participar das reuniões com a professora assistente e frequentar o grupo de estudos. Já faço as duas coisas. Então é isso aí, ou contrato algum garoto prodígio para usar uma máscara da minha cara e fazer a prova para mim… ou estou perdido.

Expresso minha frustração com um suspiro audível e, de canto de olho, vejo alguém levar um susto.

Também me assusto, porque achei que estivesse aqui com minha tristeza sozinho. Mas o menino que senta na última fileira continua no auditório e está descendo até a mesa de Yura.

Chunghee?

Chinhwa?

Não lembro o nome dele. Vai ver é porque nunca me dei ao trabalho de perguntar. Mas ele é interessante. Bem mais do que eu pensava. Rosto bonito, cabelo escuro, gostoso — cacete, como nunca prestei atenção nesse corpo antes?

Mas agora reparo. Calça justa acompanhando as curvas, a bunda arrebitada e implorando “me aperta”, o suéter de gola V abraçando uma comissão de frente de respeito. Porém, não tenho tempo de admirar nenhuma dessas qualidades, porque ele percebe meu olhar encarando-o, e seus lábios se franzem.

“Tudo bem?”, pergunta, com uma expressão mordaz.

Murmuro algo incompreensível. Não estou a fim de conversar com ninguém agora.

Ele ergue uma das sobrancelhas escuras para mim. “Desculpa, em que língua foi isso?”

Amasso a prova e empurro a cadeira de volta para o lugar. “Falei que tudo bem.”

“Então tá.” Dá de ombros e continua a descer os degraus.

Enquanto ele pega a prancheta com a escala da professora assistente, visto o casaco do time de hóquei, enfio a prova ridícula na mochila e fecho o zíper.

O menino de cabelos escuros volta até o corredor entre as cadeiras. Chungho? Chul? Acho que o C está certo, mas não tenho a menor ideia do restante. Traz sua prova na mão, mas nem perco tempo tentando ver a nota, porque imagino que tenha ido mal como todo mundo.

O AcordoOnde histórias criam vida. Descubra agora