Capítulo 16

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                            NAMJOON

Estou trabalhando na bancada da cozinha esta noite, superfrustrado à medida que leio a redação que Jin “corrigiu” hoje cedo. Ele saiu da minha casa com ordens para refazer o texto, mas é tão difícil. A resposta é simples, droga! Se alguém te manda assassinar milhões de pessoas, você diz “Não, obrigado, vou deixar passar”. Só que, pelos critérios estabelecidos nessa porcaria de teoria, há prós e contras em ambos os lados, e não consigo dar conta disso. Acho que sou péssimo em me colocar no lugar de outra pessoa, e isso é um tanto desanimador.

“Pergunta”, anuncio, enquanto Yon caminha até a cozinha.

“Resposta”, devolve ele, na mesma hora.

“Não fiz a pergunta ainda, idiota.”

Sorrindo, ele lava as mãos na pia e amarra um avental rosa-choque na cintura. A aberração cheia de babados foi um presente de aniversário que Jackson, Taemin e eu demos a ele de brincadeira, dizendo que se ia ser a mãe da casa, deveria se vestir para o papel. Yoongi rebateu insistindo que rosa é a cor do ano e que achava babados conceituais, e agora usa o maldito avental como um distintivo de honra.

“Tudo bem, vou responder”, diz, a caminho da geladeira. “Qual é a pergunta?”

“Certo, você é um nazista…”

“Nazista o caralho”, exclama ele.

“Deixa eu terminar, tá legal? Você é um nazista, e Hitler acabou de mandar você fazer uma coisa que vai contra tudo o que acredita. Você diz ‘Legal, chefe, vou matar todas essas pessoas para você’ ou diz ‘Vá se ferrar’, correndo risco de morrer?”

“Mando ele se ferrar.” Yon faz uma pausa. “Na verdade, não. Meto uma bala na cabeça dele. Problema resolvido.”

Solto um gemido. “Exatamente, né? Mas esse babaca aqui…”, aponto para o livro na bancada, “acredita que o governo existe por uma razão, e os cidadãos precisam confiar em seu líder e obedecer às suas ordens para o bem da sociedade. Portanto, em teoria, existe um argumento a favor do genocídio.”

Yon tira uma bandeja de coxas de frango do congelador. “Besteira.”

“Não estou dizendo que concordo com essa linha de raciocínio, mas tenho que argumentar segundo o ponto de vista desse cara.” Frustrado, corro a mão pelo couro cabeludo. “Odeio essa aula, cara.”

Yon desembrulha a bandeja e a coloca no micro-ondas. “A segunda chamada é sexta-feira, né?”

“É”, respondo, com tristeza.

Ele hesita. “Você vai jogar contra o Trinity?”

Eu me alegro por um instante, porque hoje de manhã recebi a confirmação oficial do treinador de que definitivamente estarei no rinque na sexta-feira. Aparentemente, as notas só vão ser computadas na próxima segunda-feira, por isso, no momento, minha média ainda é o que precisa ser.

Na segunda-feira, se minha nota em ética for cinco ou menos, vou ficar no banco até contornar as coisas.

No banco. Puta merda. Só de pensar fico enjoado. Tudo o que quero é ganhar o Frozen Four para o meu time de novo e virar profissional. Melhor, quero estourar como profissional. Quero provar a todos que cheguei lá por mérito próprio e não porque por acaso sou filho de um jogador de hóquei famoso. É tudo o que sempre quis, e fico doente de saber que meus objetivos, para os quais me dediquei tanto, estão em perigo por causa de uma matéria idiota.

“O treinador disse sim”, digo a Yon, que comemora batendo na palma da minha mão com tanta força que chega a arder.

“Assim que eu gosto!”, exclama.

Jackson entra na cozinha, um cigarro apagado pendurado no canto da boca.

“Melhor não fumar aqui dentro”, adverte Yoongi. 

“Sunha vai acabar com a sua raça.”

“Estou indo lá para os fundos”, promete Jackson, porque sabe que é melhor não criar problemas com a proprietária da casa. “Só queria avisar a vocês que, hoje à noite, Birdie e os caras vão vir assistir ao jogo do Kiha aqui em casa.”

Estreito os olhos. “Que caras?”

Jackson pisca com inocência. “Você sabe, Birdie,Jongup,Jongdae, Minseok — se parar de frescura e sair daquele alojamento. Hmm… 

Kyong e Hyo. Hanbin Ah, e Liang também, e…”

“O time inteiro, você quer dizer”, eu o interrompo, secamente, antes que liste todos os outros jogadores.

“E as namoradas, os que têm.” Ele olha para Yon e para mim. “Tudo bem, né? Não vamos virar a noite nem nada assim.”

“Contanto que cada um traga a própria bebida, por mim tudo bem”, responde Yon. “E se Hyo vier, melhor trancar o armário de bebidas.”

“A gente pode colocar no quarto do Nam.”, diz Jackson, com um riso de escárnio. “Aposto que não vai beber uma gota.”

Yon me olha com um sorriso. “Tadinho. Quando vai aprender a beber que nem homem?”

“Ei, sei beber muito bem. O problema é o dia seguinte.” Sorrio para meus colegas de time. 

“Além do mais, sou o capitão. Alguém tem que ficar sóbrio para manter esse bando de loucos na linha.”

“Valeu, mãe.” Jackson faz uma pausa, depois balança a cabeça. “Na verdade, não, você é a mãe”, diz para Yoongi, sorrindo para o avental dele, antes de se voltar para mim. “Acho que isso faz de você o pai. Vocês dois são mesmo bem ‘família’.”

Ambos mostramos o dedo do meio para ele.

“Ah, mamãe e papai tão bravos comigo?” Ele solta um suspiro fingido. “Vocês vão se separar?”

“Não enche”, diz Yon, mas está rindo.

O forno apita, e Yoongi tira o frango descongelado e começa a preparar nosso jantar enquanto faço meu dever de casa na bancada. E não é que a cena toda é família pra caramba?

O AcordoOnde histórias criam vida. Descubra agora