Capítulo 4

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                                    JIN 

“Realmente acho que você devia cantar a última nota em mi maior”, insiste Nayeon. Parece um disco arranhado, repetindo a mesma sugestão absurda toda vez que terminamos de repassar nosso dueto.

Considero-me um pacifista. Não acredito em resolver problemas na base da violência. Para mim, lutas organizadas são uma verdadeira barbárie, e a ideia de uma guerra me dá náuseas.

No entanto, estou a um passo de dar um murro na cara de Im Nayeon.

“A nota é baixa demais para mim”, digo, com firmeza, mas é impossível esconder a irritação.

Frustrada, Nayeon ajeita o cabelo escuro ondulado com uma das mãos e se vira para Chaeyoung, que está inquieta, pouco à vontade, na banqueta do piano. “Você sabe que tenho razão, Chae.”, implora a ela. “Vamos criar muito mais impacto se terminarmos na mesma nota, em vez de seguir a harmonização.”

“Pelo contrário, o impacto vai ser muito maior com a harmonização”, argumento.

Estou prestes a arrancar os cabelos. Sei exatamente o que Nayeon está tramando. Quer que a música termine na nota dela. Desde que a gente resolveu se juntar para o festival de inverno, ela tem aprontado esse tipo de coisa, fazendo o possível para ressaltar a própria voz e me colocar de escanteio.

Se eu soubesse a diva que o garota é, teria corrido desse dueto como o diabo foge da cruz, mas a filha da mãe resolveu só mostrar a que veio depois que começamos os ensaios, e agora é tarde demais para pular fora. Investi muito neste número e, para falar a verdade, sou completamente apaixonado pela música.

 Chaeyoung escreveu uma canção fantástica, e parte de mim não está com a menor vontade de decepcioná-la. Além do mais, tenho provas concretas de que a faculdade prefere duetos a solos, porque as últimas quatro apresentações dignas de bolsa foram duetos. Os juízes ficam loucos com harmonias complexas, o que essa composição tem de sobra.

“Chae.?”, insiste a Im.

“Hmm…”

Dá para ver a morena praticamente se derretendo sob o olhar magnético de Nayeon. A rapariga tem esse poder sobre as pessoas. É bonita de doer, além de ter uma voz fenomenal. Infelizmente, tem total consciência de ambas as qualidades e nenhum escrúpulo em usá-las a seu favor.

“Talvez Nayeon tenha razão”, murmura Chae, evitando meus olhos ao me trair. 

“Por que a gente não tenta o mi maior, Jin? Só uma vez, para ver qual dos dois funciona melhor.”

Até tu, Brutus?!, tenho vontade de gritar, mas mordo a língua. Como eu, faz semanas que Chae. tem sido forçada a lidar com as exigências absurdas de Nayeon e suas ideias “geniais”, e ela não tem culpa de se esforçar para encontrar uma solução.

“Certo”, resmungo. “Vamos tentar.”

O triunfo brilha nos olhos de Nayeon, mas não se demora por ali, porque quando terminamos a música, fica óbvio que a sugestão dela é uma bela porcaria. A nota é baixa demais para mim e, em vez de realçar a deslumbrante voz grave do meu par, me faz soar tão desafinada que desvia a atenção dela.

“Acho melhor Jin continuar na nota original.” 

Chaeyoung ergue o olhar para Nayeon e morde o lábio inferior, como se temesse a reação dela.

Embora seja arrogante, Nayeon não é burra. 

“Tudo bem”, retruca. “A gente faz do seu jeito, Jin.”

O AcordoOnde histórias criam vida. Descubra agora