CAP 22

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Any Gabrielly

Me preparo psicologicamente para o que vou dizer, não contei nem para minhas amigas sobre isso, presenciei essa cena poucos meses antes dos meus pais se separarem e isso me destruiu por dentro.

-Um pouco antes dos meus pais se separarem acabaram discutindo na sala enquanto eu e minha irmã estávamos em nossos quartos, já se passava das duas da manhã, levantei para beber água e acabei ouvindo a conversa deles na sala. Meu pai começou a se exaltar e acabou...

Dou uma pausa encarando o copo em minhas mãos.

-Batendo na sua mãe.

Completa e assinto.

-Depois disso foi a gota d'água, minha mãe entrou com o pedido de divórcio e ficou tóxico morar na mesma casa que os dois. Contava os dias para nos mudarmos pois três dias depois disso tudo acontecer minha mãe recebeu uma proposta de emprego aqui e viu nisso um recomeço não só para ela mas também para nós.

Respiro fundo processando todas as memórias que surgiram enquanto contava meus problemas.

-Eu sinto muito, já vi meu pai bater na minha mãe quando bebia demais, isso me deixa furioso de lembrar e me dá raiva pois fiquei como ele: Dependente de álcool para enxotar meus problemas para longe por algumas horas e o resultado é aquele.

Ele aponta para sua parede com arranhões e marcas indicando que objetos já se quebraram ali.

-Você não se tornou o seu pai, eu não o conheço mas pelo que me descreveu ele não tem um coração, você tem.

Digo e ele me encara.

-Pessoas com coração são capazes de amar Any, eu não sou capaz.

De alguma forma seu sofrimento me afetou.

-Todos temos capacidade de amar mas poucos são amados de tal forma.

Digo na intenção de anima-lo.

-Você já foi amada?

Pergunta e nego com a cabeça.

-Eu acredito no amor, só não acho que ele se opõe a mim. Nem tudo serve para todos, talvez eu seja incapaz de amar ou de ser amada mas está tudo bem. Não é o fim do mundo, não precisa ter em seu formulário de inscrição um relacionamento ou algo assim.

Deito minha cabeça sobre o encosto do sofá e respiro fundo.

-As vezes me sinto sozinho, não por falta de sexo ou algo assim, falta de afeto, carinho e atenção. Eu gosto de morar sozinho mas isso as vezes me faz ficar deprimente, parece que serei aqueles velhos rabugentos e infelizes que tem uma cara nada boa e tem suas vidas amargas pelo gim que bebe todas as manhãs

Ele bebe mais um gole de sua bebida a finalizando.

-Saiu meio estranho pois você tem um armário repleto de garrafas de gim de diferentes marcas e tamanhos.

Digo e ele ri.

-Agora vendo o que falei parece mesmo.

Ele ri olhando para a janela.

-Desculpa ter feito você vir tão tarde e acabar presa aqui com um cara com uma vida fodida e com lamentações chatas.

Se desculpa ao apoiar os cotovelos sobre os joelhos.

-Não se desculpe, você também ouviu meus problemas, está tudo certo.

Afirmo e o mesmo sorri.

-Eu não estou com sono, queria dormir mas virar de um lado para o outro em cima da cama não dá.

Explico e Josh concorda.

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