ONZE

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HARRY POV
RESSACA


Durante o tempo que Pansy ficou fora descobri que eu não preciso tocar Malfoy diretamente. Meu braço ficou dormente e tive que me desencostar dele, ele não se mexeu nem resmungou de dor, mas quando tentei me afastar sim. Eu também, me senti tonto e enjoado, e molhado, como quando vamos à praia e começa a chover antes que você consiga sentar na areia, e você fica com aquela sensação nojenta de água te molhando por cima da roupa. Me sentei ao lado dele e a sensação parou, e a febre de Malfoy baixou quase no mesmo instante.

Pansy voltou quando já passava da meia noite, parecia renovada. Me virei para ela e ela arregalou os olhos, depois pareceu surpresa.

— Sem queimação? — perguntou, mais como uma observação.

— Descobri isso hoje de manhã — falei. — Aparentemente tenho que ficar perto dele, e isso já é o suficiente.

— Ótimo — falou. — Pode significar que ele tá melhorando.

Madame Pomfrey não soube me explicar isso quando perguntei a ela. E quando Dumbledore veio nos visitar com a mãe de Draco, Narcissa, eles pareceram surpresos de não me verem grudado nele. Eu só podia agradecer.

— Como é a sensação? — Pansy perguntou, me tirando dos meus pensamentos. Ela olhava para Malfoy com carinho, um pouco triste.

— Do quê? — perguntei.

— De ter fogo — respondeu.

Pensei por um minuto, nunca tinha parado para refletir sobre isso, o que eu sentia?

— Sabe quando tomamos algo muito quente, e sentimos o calor descendo pelo corpo? Nos queimando por dentro? — Ela assentiu. — Pense nisso, mas o tempo todo, e não de uma forma que machuca, mas que é boa, familiar, e ao invés de queimar só a garganta, é o corpo todo, cada parte do seu corpo ferve com um calor bom.

— O tempo todo? — perguntou.

— Às vezes mais forte, mais fraco, mas sempre tá lá — respondi. — Muda um pouco para cada pessoa, mas o fogo é igual sempre. Uma fogueira é só um pedaço maior ou menor do fogo inicial, ele não morre porque alguém sempre tem fogo.

— Isso parece estranho — disse. — Com a água não é assim — concluiu, depois de pensar um pouco.

Me ajeitei na cadeira, cruzando as pernas. Ela se arrumou para ficar de frente para mim.

— Como é? — perguntei.

— Muda de pessoa para pessoa — ela disse.

— Então como é pra você?

Ela pensou, mordendo a bochecha.

— Lembra da sensação que temos quando entramos na água muito gelada, e o choque térmico te atinge de uma vez? — Assenti. — É assim na maior parte do tempo — falou. — Mas quando eu fico brava é como se eu fosse as ondas de um mar muito agitado, salgado e escuro numa noite de tempestades. Ou, quando eu conjuro água, é como se eu estivesse bebendo água de um rio, doce e sereno.

Isso deve ser legal, pensei.

Em todos os anos que estudei em Hogwarts eu observei as pessoas da Sonserina, eu quase fui para lá, afinal, queria saber o que eu tinha em comum com eles. Algumas pessoas eram tranquilas, andavam com tanta leveza que era impossível ouvir seus passos. Outras tão agitadas que faziam o ar ter cheiro de maresia. Não tinha um padrão, cada um era de um jeito diferente, mas pareciam se compreender mesmo assim. Olhei para Malfoy, o que ele sentia?

So Close To Magic - DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora