C A P Í T U L O 1 6

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MELINDA

Ainda me encarando no espelho eu tento forçar minha mente a esquecer de tudo o que aconteceu, mas assumo que estou fracassando, a cada minuto imagens aleatórias de ontem chegam de forma assombrosa até mim, me fazendo mergulhar fundo em um mar de medo, o sentimento que mais odeio sentir nesse mundo.

Não posso e não devo em hipótese alguma ter medo, mas quando as mãos de Caio me tocaram, essa foi a primeira coisa que senti. É aterrorizante para uma mulher ter seu corpo tocado sem sua permissão e a impotência diante de tal circunstâncias acaba com qualquer pessoa.

Respiro fundo, levando meus dedos a tocarem com cuidado a grande marca roxa em meu rosto e como eu bem imaginava, revivo a cena de Tobias me dando um tapa e me desmascarando, dando minha missão como fracassada.

Estou em um beco sem saída, não posso mais me infiltrar e isso quer dizer que todo esses meses fingindo ser que não sou não valeram em nada e que Matias, nesse momento deve está me achando uma completa inútil por não ter conseguido nada de importante e por não ter dado o sinal para que ele pudesse invadir a boate com os outros agentes.

Droga! Eu deveria estar preocupada comigo, certo? Mas eu não consigo, não sabendo que estou prestes a falhar na promessa que fiz, apesar do que passei nas mãos de Caio eu escolho por deixar minhas lamentações para depois, não porque eu sou uma mulher forte, mas sim porque sou uma covarde, por estar me recusando a ter as reações normais que uma mulher teria em meu lugar.

— Continua linda — Meus olhos encontram os de Devil através do reflexo do espelho e tudo o que faço é encará-lo um pouco mais — Esse roxo não é páreo para você.

— Não preciso das suas mentiras para me fazer sentir melhor — me viro para ele, dando alguns passos e ficando bem próximo do homem que mesmo após ter sido rejeitado voltou para me buscar e por mais controverso que seja eu odeio que ele tenha feito isso.  Odeio que ele tenha me visto vulnerável — Eu realmente não preciso, então guarde elas para você.

— Então é isso? Eu salvo você e ganho em troca esse olhar de desgosto e palavras afiadas? — Me olha furioso e assumo que penso em  sair correndo daqui, mas por algum motivo me recuso a prestar esse papel.

— Eu não pedi para você voltar lá, então não espere por minha gratidão.— Sorrio amarga, indo calmamente até a cama, engolindo alguns grunhidos de dor quando meu corpo protesta  pelos meus motivos bruscos.

— Caio ia te estuprar, porra! Haja como uma pessoa  normal, Melinda, não como uma droga de carrasco e não tem nada de errado em ser normal.

— Eu estou agindo normal! — protesto sentindo minha garganta doer pelo esforço de engolir o choro.

— Não, não está Melinda — Devil vem até mim, pegando em meu braço e me puxando para ele, destruindo o resto das barreiras que construí para impedir que eu sinta qualquer coisa por ele — Eu sei que você é uma mulher extraordinária, mas até as mulheres assim tem seus medos e momentos de fraquezas, até elas permitem que seus sentimentos venham à tona, porque elas sabem que prender eles só pioram as coisas.

Suas palavras acertam em cheio algo dentro de mim e sim, eu estou prendendo meus sentimentos porque temo não consegui mais ter o controle deles caso eu permita senti-los como deveria. Só Deus sabe o quanto quero me encolher na cama e chorar até que minhas lágrimas sequem, o quanto quero entrar em uma banheira e esfregar minha pele até que eu finalmente volte a me sentir limpa outra vez.

Pisco rapidamente, espantando algumas lágrimas para longe. Devil me prende em um abraço, beijando o topo da minha cabeça enquanto meus braços continuam inertes e meus pensamentos me bombardeando com a realidade, onde eu estarei voltando para a sede do FBI e nunca mais irei ver Devil.

𝐴𝐺𝐸𝑁𝑇𝐸 𝑆𝐸𝐶𝑅𝐸𝑇𝐴 - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora