C A P Í T U L O 2 9

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MELINDA

Enquanto Bela fala sem parar a minha frente, eu me pego chamando a mim mesma de idiota e assumo que fico completamente envergonhada quando lembro que movida a uma onda de ciúmes, eu joguei suas roupas no lixo e desprezei seu perfume doce e delicado, como se o mesmo fosse uma substância que cheirava a podridão.

Solto um resmungo quando Devil me aperta de forma exagerada em seus braços, por alguns momentos, impedindo que eu respire. Estapeio seus braços fortes, lançando um olhar sério para ele enquanto tudo o que Bela faz, é soltar uma gargalhada alto diante das gracinhas que Devil faz.

Assumo que estou amando conhecer esse seu lado divertido, que creio eu ser mais direcionado a sua irmã do que para qualquer outra pessoa. Ao ver o amor que Devil e Bela mostram a todo momento sentir um pelo o outro, eu sinto meu coração se apertar dentro do peito e lágrimas de saudade querem brotar em meus olhos quando lembro de Diego, meu único irmão, a única família que tinha me restado após a morte dos meus pais em um acidente de carro e como se minha cota de sofrimento não fosse o bastante, meu irmão também se foi e me deixou aqui, vivendo a dor da saudade.

É um sentimento cruel, que sempre dói, as vezes poucos e nos piores dias dói tanto que a única coisa que quero fazer é chorar enquanto olho para suas fotos, sussurrando para o silêncio o quanto eu o amava e o quanto sinto sua falta sempre que acordo e não tenho mais uma mensagem de áudio em meu celular pra ouvir sua voz me desejar um  bom dia.

A verdade é que sempre irá doer e essa dor só irá passar quando eu for para o mesmo lugar que ele e meus pais foram.

— Está tudo bem? — Devil sussurra em meu ouvido, me fazendo piscar rapidamente os olhos, só agora percebendo que mesmo sem minha permissão, algumas lágrimas teimosas rolaram.

— Sim eu... Estava pensando no meu irmão, você e Bela me fizeram lembrar dele — Sorrio triste, fechando os olhos quando ganho um beijo carinhoso na testa — Às vezes não consigo suportar a dor da saudade.

— Sinto muito, tenho certeza que ele está muito orgulhoso de você, Melinda, você é uma mulher incrível.

— Obrigada, é bom ouvir palavras como essa. — Fico alguns minutos em silêncio, olhando para a chuva que ainda cair forte lá fora, até que três palavras fogem da minha boca e vão até Devil — Eu te amo. — sorrio, sentindo cada vez mais familiaridade com essas palavras.

A resposta de Devil e a sua forma de dizer que também me ama é me puxar para mais perto de si e trazer seus lábios até os meus, iniciando um beijo lento e carinhoso mas que com o passar dos minutos vai se tornando algo feroz. Ao ter a língua de Devil invadindo minha boca eu fico entorpecida e dominada pelas sensações que ele desperta em meu corpo, tanto é que deixo um gemido choroso escapar e quase me derreto aqui mesmo em seus braços.

Um barulho suave chama nossa atenção e quando paramos o beijo, vemos Bela saindo de fininho. A vergonha me chicoteia e com as bochechas quentes eu olho para Devil, mostrando para ele que o culpado disso é apenas ele.

Deus, ele não poderia ter me beijado desse jeito na frente da sua irmã, uma adolescente que está iniciando agora um caminho de descobertas. Nós esquecemos completamente da sua presença e quase fomos protagonistas de um show erótico.

Eu vou matar Devil!

— Você é um cretino que adora jogar sujo e me fazer passar vergonha. — saio do seu colo, arrumando meus cabelos de forma apressada — Sua irmã deve estar traumatizada.

— Não é pra tanto, Bela não é uma mocinha tão inocente assim. Obviamente ela já deve ter beijado alguém.

— Que seja, mas sua mãe podia ter visto e isso sem dúvidas seria ainda mais constrangedor.

— Pelo amor de deus, Melinda, foi só um beijo, um pouco indecente, com alguns gemidos, mas não deixa de ser um beijo — Me lança uma piscadela, agarrando minha cintura e me puxando novamente para o seu colo. Um arrepio gostoso atravessa meu corpo quando seus lábios quentes beijam meu pescoço e depois colam em meu ouvido, sussurrando para mim palavras roucas, que mostram o quanto Devil é um cretino — Eu sei que você gostou, seu corpo não deixa mentir, princesa.

— Cala a boca, Devil. Você fica melhor me beijando, então o que está esperando?

(...)

Com a mão de Devil entrelaçada na minha, eu atravesso o portão do cemitério onde meus pais e irmão estão enterrados. Por ironia ou não, eu estou visitando eles justamente hoje, em um dia cinzento e chuvoso, a representatividade perfeita de como me senti no dia em que os perdi para Sempre.

Me afasto de Devil e da proteção do guarda chuva após me ajoelhar diante da lápide dos meus pais. Passo lentamente meus dedos sobre seus nomes e fecho os olhos, não me importando de ter minha roupa encharcada pela chuva. Tudo o que me importa agora é falar para eles que eu finalmente consegui cumprir minha missão, não necessariamente sozinha e obviamente da pior forma possível, mas eu sinto que também a cumpri e vinguei a morte de Diego, por algum motivo eu prometi isso a eles também.

Deixo um buquê de lírios brancos para eles e sorrio, me apegando apenas às boas lembranças, são elas que me fazem forte e eu sou grata por isso, porque são esses tipos de lembranças que fazem com que as pessoas sejam eternizadas em nossos corações.

— A saudade que sinto de vocês é enorme, tem dias que dói demais, mas eu sempre lembro do sorriso de vocês e fica tudo bem. Ela ameniza e eu consigo seguir em frente.

A mão de Devil toca meu ombro esquerdo, me fazendo levantar, pegar o buquê de rosas brancas das mãos dele e vou até a lápide do meu irmão, um pouco mais a frente da lápide dos meus pais.

Me ajoelho sobre a grama, também passando meus dedos sobre seu nome, sua data de nascimento e infelizmente o dia em que ele morreu. Deposito as rosas ali, que ficam com as pétalas pesadas pelos grossos pingos de chuva. Silenciosamente  faço uma oração e ao final dela me levanto, mas ainda olho para sua pequena foto em preto e branco e como eu bem imaginava, a saudade chega de forma cruel, me fazendo chorar um choro silencioso.

Devil não interfere, ele deixa que eu viva minha dor e eu agradeço mentalmente por isso, porque querendo ou não, eu preciso desse momento, creio que isso é crucial para todos nós em alguma etapa das nossas vidas.

— Eu consegui irmão e eu finalmente estou livre para viver minha vida e eu prometo que irei aproveitar cada segundo, até porque eu encontrei o amor e estou disposta a viver tudo de bom que ele pode me proporcionar. Um ciclo termina para o outro começar e eu estou pronta para recebê-lo de braços abertos.

𝐴𝐺𝐸𝑁𝑇𝐸 𝑆𝐸𝐶𝑅𝐸𝑇𝐴 - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora