"Pobre coitada... Viúva!"
"Sua partida foi inesperada, Jo. E agora? Como será sua vida?"
"Ao menos, lhe sobrou sua herança."O violino ressoava de modo melancólico pelo enorme jardim.
O ar estava gélido, havia muitas pessoas por ali, vagando de um lado para o outro. Um cachorro de raça Golden Retriever estava deitado no chão, tão abatido quanto todos que se encontravam naquele local.O sol já não dava suas caras, a verdade é que desde ontem não há sol, não há músicas alegres, não há sorrisos, não há conversas com mais de um minuto de duração.
— É... Pegue isso. — Arthur, um homem loiro, aproximou-se com um lenço nas mãos de uma senhora com seus cabelos grisalhos.Uma brisa passou por entre cada ente familiar, arrepiando suas peles e fazendo-os olhar para o céu agora com poucas nuvens, era fim de tarde. Uma lágrima escorreu pelo rosto, seu coração apertou, seus dedos magros ficaram trêmulos.
— Iremos sair agora com o corpo, meu amor... — Carla a abraçou de lado, enxugando suas lágrimas — Quer um copo de água?
— Queria que ele não tivesse ido. — Suspirou pesadamente.
— Tudo bem, eu a entendo — Seus braços a envolveram outra vez, em um abraço mais apertado — Deixei a Clarinha com mamãe, ela estava perguntando muito por você.
— Perdão interromper — Um senhor de meia idade apertou suas mãos nervosamente — Ainda deseja fazer alguma despedida?
A loira apenas assentiu fungando.
— Sarah, nós vamos esperar você aqui. Ok? — Arthur tocou suavemente em seu ombro, recebendo um aceno.
Ali, na frente de seus sogros, cunhados e amigos próximos, uma rosa vermelha foi depositada em suas mãos ásperas e agora fechada para sempre. Retirando o véu branco de cima de seu rosto, antes vívido e sorridente, olhou aquele nariz tampado por algodão e seus olhos fechados. Os traços da velhice aparecendo e seu corpo definitivamente imóvel para sempre.
O cheiro de formol era presente em seu corpo e isso irritava seu nariz. Mas por incrível que pareça, Andrade não conseguia sair dali. No entanto, pior que o cheiro forte que emanava do corpo, era o cheio de suas lembranças frescas que rondavam sua mente desde ontem à tarde.
Não é possível voltar no tempo, assim como não é possível reviver memórias idênticas ao que se passou. O tempo, a vida e a morte.
O tempo é rápido, a vida é breve e a morte é certeira.
Não haverá mais o beijo de boa noite antes de dormir, nem mesmo sua voz contagiante ecoando pelo local enquanto ele contava histórias para sua filha. Não haverá flores todo fim de tarde, não haverá piadas no jantar, não haverá mais o "amor" todos os dias.
A última coisa que ele disse antes de partir foi exatamente isso:
"Amor, eu volto logo. Que tal uma partida de dominó hoje à noite? Amo você!"
É.
Não haverá mais partida de dominó, nem viagem de casal, tão pouco noites longas de amor. Acabou, certamente esse é o fim do que um dia se foi Família Andrade Viana.Agora, a terra era jogada em cima do caixão.
Agora, aplausos ressoavam por todo o ambiente.
Agora, a última lágrima descia e o vazio fazia-se muito mais presente naquele lugar que um dia foi ocupado: o coração.Sim, agora era o fim de uma história.
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Reinício | Sariette
Fanfiction"O tempo é rápido, a vida é breve e a morte é certeira. Agora, a última lágrima descia e o vazio fazia-se muito mais presente naquele lugar que um dia foi ocupado: o coração. Sim, agora era o fim de uma história. " Quando tudo estiver dando errado...