Sessões

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Maratona 3/4.

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Pov Sarah

— Você não conseguiu deixá-la, mesmo após todas nossas sessões?

Essa era a pergunta que saía dos lábios de minha psicóloga, em meio a uma tarde chuvosa.

Sim, esse era o problema.
Eu nunca conseguirei deixá-la, porque em todo lugar que vou, eu a tenho comigo.

Vendo um casal apaixonado na rua, lembro-me quando corremos de mãos dadas na chuva e nos beijamos, sentindo a água que caía dos céus, nos lavar e abençoar nosso amor. Éramos como duas adolescentes apaixonadas.

Se entro em minha casa, vejo seus cabelos castanhos espalhados por meu sofá branco.

Se vou na cozinha, sinto o cheiro daquela refeição que ela tanto amava preparar para mim.

Se subo para o banheiro, sinto o cheiro de seus sabonetes e cremes de rosas que ela adorava.

Se deito em minha cama, a sinto me abraçar e dizer "eu te amo meu amor".

Eu a vejo, a sinto e me recordo dela em todos os lugares que eu vou. Principalmente, em meus próprios pensamentos.

Escrevo e paro. Percebo que estou escrevendo por ela e rapidamente amasso a folha, jogando-a no lixo. Penso e logo me repreendo. Por que só ela anda em minhas memórias?

Durmo e logo sonho com ela. Ela é a deusa dos meus mais íntimos sonhos.

Se acordo, me levanto e vivo algo monótono, começo a sentir pena de mim mesma por viver como um cão sem dono. Minhas lágrimas se misturam com a água que caí do chuveiro, meu coração parece que vai explodir de tão apertado que está.

Merda! Eu não suporto mais viver.
Eu quero morrer. Isso me assombra, porque esse pensamento se torna cada vez mais real.

— Aqui está o seu remédio, Sra.

Sim, são anti depressivos. Eu não consigo levantar da cama sem eles, tão pouco viver.

E é engraçado pensar, amor, que isso se assemelha muito a você. A única diferença entre eles e você é que um, me faz continuar a viver. Já você, me mata cada dia mais.

Olho para a aliança que você deixou aqui, em cima da minha cômoda, quando veio buscar suas coisas. Eu ainda me lembro do seu cheiro, sempre impregnado em minhas narinas.

Vejo minha própria aliança e choro. Nosso amor não existe mais.

Faço longas caminhadas, amor. No intuito de conhecer alguma pessoa, de me desvencilhar desse sentimento. Mas não.

Eu não consigo.
Porque todas as outras pessoas perderam a graça quando eu conheci você.

Sento-me em um banco de praça sozinha. O mesmo que costumamos vir naqueles fins de tarde ou a noite, sabe? Você abraçava meu braço e entrelaçava nossos dedos, deixando o silêncio confortável nos acolher.

Víamos os pássaros andando por aqui e ficávamos rindo quando os patos corriam atrás deles. Isso tudo era tão fantástico quando você estava aqui, amor.

Sabe... Isso dói.
Porque foi perdendo você que eu também me perdi e não sei mais como voltar.

Não consigo olhar para minha filha e não lembrar de você, pois a cada dois minutos ela fala seu nome.

Não consigo olhar para minha mãe que logo sou enquadrada com um se resolveu com ela?

Evito meu pai, que deseja o máximo que eu sempre vá lhe chamar.

Eu evito minha filha, minha mãe, meu pai, meus irmãos, meu trabalho...

Eu evito você amor, porque eu não posso continuar me matando por dentro. Eu sei que não voltarás mais para mim! Eu sei...

Reinício | SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora