Reinício | Sariette

Convite

Pov Sarah

Ouço três batidas suaves na porta. Quem é, afinal? Por que logo agora que eu finalmente consegui me concentrar após dias?

— Entre. — Minha voz sai o mais desanimada possível.

Aquele cheiro me era familiar.
Na verdade, minhas narinas conseguiriam identificar esse mesmo perfume há milhas de distância. Mesmo se eu viajasse daqui ao Monte Everest, ainda assim, lembraria e sentiria o seu cheiro doce.

Não quero olhar para cima, eu sei exatamente quem é.

É a dona dos meus pensamentos mais constantes, de minha dor mais aguda, do meu coração dilacerado, da minha contínua solidão.

Sei que ela está me olhando, sei que está linda. Eu sei. Porque meus olhos sempre estarão voltados para ela.

Não quero olhar em seu rosto, porque sei que posso chorar a qualquer momento. Meus olhos estão lacrimejando e meu coração acelerado, apertado por sua causa.

Não!
Que não seja sua carta de demissão, mesmo sabendo que é melhor assim. Mas que não o seja, porque eu não suportaria ficar sem vê-la.

Em um ato de coragem, ouso olhar para o seu rosto. Meu amor, diz-me quando se tornastes tão fria?

Lembro-me de você entrando por essa mesma porta e sua voz doce me chamava de amor. Não havia o porquê entrar, se os seus lábios não fossem se tocar nos meus. Não tinha o porquê vim me ver, se não arrancasse um sorriso meu.

Sua presença me conforta, mas me destrói na mesma intensidade.

Diz-me o porquê, então, não me olhas com os mesmos olhos de um tempo atrás? Afinal, onde nós nos perdemos?

Vi um convite da cor vinho ser estendido bem na minha frente, sua mão tremia. Afinal, o que é isso? O convite do seu casamento?

Ela insistiu ao ver que não conseguia pegar de primeira. Eu estava com tanto medo de perdê-la para sempre que desejei morrer no mesmo instante.

Abri com cuidado, ainda sob seu olhar atento e possivelmente, de compaixão por minha mísera situação.

Naquele cartão branco, metade era azul e a outra metade, rosa. Cinco da tarde, na residência dos Freires.

— Achei que... A Clara quisesse ir.

Foi tudo o que ela me disse naquela sala minúscula demais para nós duas.

A verdade, é que muito mais que a Clara, eu quem desejo ir. E eu queria ter organizado tudo com você, queria partilhar disso junto a você.

— Ela com certeza vai querer ir. — Afirmei, achando engraçado o tom equilibrado da minha voz.

Sem mais, ela saiu da sala.
Deixando-me mais vazia do que antes. Porque agora, eu a tinha sentido entre meus dedos. Mas como um bom grão de areia, ela se foi.

Mais uma vez, ela se foi. E sabíamos perfeitamente que isso não tinha mais volta.