Culpa

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Maratona 1/4
Não... Eu nunca prometi coerência.

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Pov Sarah

Depois que brigamos, entendi que a vida nem sempre é justa ou dócil conosco. A vida costuma ser traiçoeira, desgastante, dolorosa e muitas das vezes, isenta de sentidos.

"Está tudo bem!"

Era a frase que eu repetia para quem me perguntava sobre como eu estava me sentindo. Seja lá na fila do supermercado, dentro de casa ou em meu trabalho.

"Está tudo bem!"

Era a frase acompanhada por um sorriso digno de Oscar, pois era uma cena teatral bem feita.

"Está tudo bem!"

Eu repetia para mim mesma, usava isso como um mantra. Mas todas as noites que tentava reforçar isso para mim mesma, em meio a crises intensas, eu chorava.

Não estava tudo bem. Nunca esteve tudo bem, afinal. E eu não sei se um dia, vai ficar mesmo tudo bem.

Um casamento sustentado por carência, uma morte, um verdadeiro amor que foi levado pelo vento e agora, deduzo que tudo não passou de minha morte.

Uma morte lenta e silenciosa. Uma morte que não exigiu apenas uma pancada certeira, mas que me deixou a mercê da vida, para que eu derramasse cada gota de sangue lentamente.

É difícil acreditar em mim mesma, por isso não a julguei quando a procurei após o ocorrido e ela olhou em meus olhos e disse "eu não acredito em você".

Tudo bem.
Quem lá acredita no outro mesmo? Faz um tempo que eu não sinto minha razão funcionar, nem meu coração dar sinais de que realmente ainda sente algo.

Sou como um cadáver ambulante, delirando com meus próprios pensamentos, sozinha mesmo rodeada de pessoas.

Forço um sorriso, entro na sala e encontro pilhas de papéis. Peço um café, por favor. E quando chega, viro-me de costas para olhar o mundo que vive através daqueles enormes edifícios.

"Reunião daqui a cinco minutos!"

É tudo o que me dizem. Saio quase que às pressas, com o olhar baixo e um enorme vazio no peito. Belas propostas! Mas por quê essas pessoas são tão gananciosas?

É uma rotina dolorosa.
Não há sabor, frescor, algo que me desperte outra vez.

Na mesa, a vejo. Está impecável! Um vestido azul solto, cabelos ondulados e a barriga marcando. Eu me lembro tão bem de quando a vi nesse dia. Afinal, eu já disse o quanto ela fica linda assim, grávida?

Ao contrário de mim, seus olhos continuam os mesmos. Seus lábios estão sempre chamativos. Sua atenção e paciência é a mesma. Parece que a dor só quis me pegar sorrateiramente quando eu estava sozinha e vulnerável. Tudo bem, eu entendo.

Há pessoas que superam mais rápido e eu certamente não sou uma delas.

Me pego a observando demais. Ela já deve ter notado! Me perdoe, eu não... Eu só queria você de volta, quem sabe meu mundo iria ter o mesmo sabor de antes.

Eu queria apenas que você olhasse outra vez em meus olhos, se sentasse ao meu lado e me ouvisse. Queria contar que não, amor. Eu nunca a trai. Eu nunca quis lhe trair.

Eu sei... Eu estava sob efeito de álcool, mas quando vi, ele me beijava. Eu tentava afastá-lo, mas não conseguia por conta da fraqueza que meu corpo assumiu.

Reinício | SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora