Reinício | Sariette

Arrependimento

O que vocês não me pedem sorrindo que eu não faço chorando, hein...

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O barulho do seu sapato social ecoava pelo corredor. Gilberto estava se dirigindo até o quarto de Sarah, para avisar que voltaria com ela.

Bateu na porta e chamou por ela, não recebendo resposta alguma. Depois, bateu outra vez, chamando por Juliette. E por fim, chamou por Clara.

Ele achou estranho. O mundo lá fora estava completamente inerte, a chuva os cercava de modo absoluto. Todo mundo sairia junto por quê?

Pensou em ir embora, mas havia uma tática antiga de sua prima que ele jamais esqueceu. Na sua adolescência, dividiram um apartamento juntos enquanto ambos faziam faculdade. Nem sempre estavam em casa para abrir a porta quando o outro chegava, por isso, deixavam uma chave embaixo do tapete ou no vaso de plantas ao lado.

Abaixou-se e bingo! Ali estava a chave.
Abriu a porta e encontrou Clara encolhida na cama, completamente sozinha.

— Clarinha? Está só, amor?

Ela não respondeu.

— Cadê a sua mãe?

— Saiu, titi.

— E deixou você sozinha? — Ergueu uma sobrancelha questionadora — Ok. O que aconteceu?

— A mamãe está com a tia Ju... Eu não quero ela como mamãe.

— Mentira que sua mãe está namorando com a Juliette! — Ele ficou boquiaberto, sorrindo largo — Que babado!

Vendo que a menina estava realmente triste, ele voltou a sua postura. Queria entender o porquê aquilo tudo.

— E por que você não quer ela como mamãe?

— Porque eu quero o papai. — Fungou, deixando lágrimas caírem.

— Ei... Vem aqui pro colo do titi Gil! Escuta bem, ok?

— Uhum...

— Bonecão, ou... Quero dizer, o seu papai, ele foi jogar xadrez com São Pedro. Entende? Uma viagem longa! Ele decidiu ficar por lá mesmo.

— Ele me deixou? — Seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar.

— Claro que não, Clara. Endoidou? — Finalmente a menina riu e ele ficou mais aliviado — Ele nunca deixaria você, linda. Ele ainda está com você! Só que aqui, ó. — Apontou para seu coração — Sempre que quiser falar com ele, você pode. Basta fechar os olhinhos e ele vai ouvir você.

— Mesmo, titi?

— Mesmo! O meu irmão também foi jogar xadrez e não voltou. Mas eu tenho ele comigo sempre! Sempre mesmo. E tenha certeza que seu pai ama você e sua mamãe. Sabe o porquê? — Ela negou com a cabeça — Porque não queria deixar vocês sozinhas. Aí apresentou a Ju pra sua mamãe.

— Ele apresentou a Ju?

— Aham! Ele quer que sua mãe seja feliz. E continua cuidando de você, mesmo de longe.

Gilberto enxugou as lágrimas de Clara, ainda abraçada fortemente ao seu corpo.

— A Ju é tudo de bom, Clarinha. Eu mesmo queria ter duas mães, sabe o porquê?

— Não, titi.

— Porque se uma já é boa, imagine duas. — Eles riram juntos e Clara se empolgou — Você recebe cafuné, abraço de mãe, colo de mãe. A Ju faz isso com você, não faz?

— Eu gosto do cheirinho dela quando ela me põe pra dormir...

— Então, bebê. Só vantagens! E ela ainda ama a sua mãe.