Ian
Tá bom, foi maldade. Mas ela estava pedindo por aquilo. Praticamente ficou me olhando como se eu fosse um peru de ceia lá fora. O que, na verdade, era uma grande merda.
Eu não sou cego, a menina era uma gostosa, um tipo não muito comum para a região, pele perfeita demais para aquele sol escaldante, cabelo liso demais para ser natural, olhos grandes e depressivos de um castanho profundo, não era a toa que a primeira palavra para descrevê-la foi "boneca". Era o que parecia, uma boneca assustada.
Uma boneca ladra de carros, o que era imensamente mais interessante.
Por mais que eu odiasse admitir, até que era bom ter uma companhia, ainda mais naquela semana, a pior semana, nem eu entendi como meu humor melhorou tão rápido, talvez fosse a proposta indecente, não sabia como não tinha gargalhando na cara dela, eu estava um pouco desacostumado de lidar com pessoas, os únicos adultos que eu via eram John, com aquela carranca de sempre, Marisa eventualmente, e Sully aquele arrombado que sempre quebrava as regras para vir a minha casa.
Na verdade, eu nem sabia porque ele ainda fazia aquilo, talvez por culpa, mas mesmo assim era uma companhia breve quebrando o silêncio que eu mesmo me impunha fora do trabalho. Ele também me trazia todas as fofocas que nossa pequena cidade podia proporcionar.
Ouvi o chuveiro sendo ligado no quarto. Tentei ao máximo não deixar minha imaginação me guiar, estava sozinho há tempo demais, mas estava na cara que ela não estava interessada em uma aventura do tipo, apesar de oferecer me mostrar os peitos para que eu a escondesse. Fala sério, quem faz uma coisa dessas?
Despertei com batidas na porta e nem consegui disfarçar o susto. Dia agitado... Na verdade, semana agitada...
⸻ Bo!!!! Abre aí!
Me levantei do sofá e abri a porta dando de cara com Sully.
⸻ O que tá fazendo aqui? ⸻ perguntei rindo de seu cabelo empoeirado, sua marca registrada.
Ele pousou as mãos nos batentes da minha porta e cheirou a minha casa. Sim! Ele cheirou, segundo ele, seu nariz era o mais potente do mundo e a garantia... Era a palavra incontestável dele mesmo.
⸻ Tem uma mulher aqui!
Fiz cara de confuso ⸻ Quê? Claro que não. ⸻ desconversei.
Acho que a porra do nariz dele era potente mesmo.
⸻ Tem sim, John tá comentando lá na cidade.
Nariz é o caralho... O poder dele era a fofoca.
⸻ Não tem porra nenhuma aqui, dá o fora!
Tentei empurra-lo, mas o desgraçado se agarrou ao batente.
⸻ Não, não, não, irmãozinho, tô ouvindo o chuveiro. Já traçou, é?
⸻ Sully, eu te amo, cara, mas se não sumir daqui agora eu vou socar a sua cara.
Ele riu de lado me desafiando. ⸻ Eu contaria ao John e você iria ficar mais tempo com essa merda na bota.
Perdi a paciência e dei um empurrão nele. ⸻ E voltamos para a terceira série... ⸻ revirei os olhos. ⸻ Some logo daqui.
Ele desistiu finalmente de tentar invadir minha casa e me olhou se acalmando.
⸻ Qual é a da garota?
⸻ Nada... Só precisa de um lugar pra ficar.
Ele fez uma careta e apoiou uma das mãos em meu ombro.
⸻ Maninho... ⸻ falou usando seu tom sério. ⸻ Tem que parar com a mania de mamãe polvo... Não pode abraçar o mundo assim. ⸻ chegou mais perto para falar mais baixo. ⸻ John disse que ela tem mandado por roubo de carro e que assassinou o padrasto. E se ela matar você?
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Se dessa vez Você Ficar
RomanceHá dois anos Judy atravessa o país fugindo da polícia, depois de cair em uma grande armadilha arquitetada por seu padrasto. Encurralada no meio de uma estrada praticamente abandonada, ela encontra um antigo chalé de caça para se esconder... Ela só...