4 Dando a mão e perdendo o braço

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Ian

⸻ Eu tenho que te contar uma coisa. ⸻ falei depois que fiz o jantar, ou, se é que se pode chamar um balde de pipocas de jantar.

⸻ O que? ⸻ perguntou colocando uma pipoca na boca despreocupadamente.

⸻ Meu amigo Sully disse que John vai mandar uma patrulha pra cá quando eu sair na sexta.

Ela parou de mastigar e se ajeitou melhor no sofá.

⸻ Ele sabe que estou aqui, então. ⸻ constatou.

Dei de ombros. ⸻ Sabe, ele disse que viu as pegadas na areia até minha casa, como eu te disse, ele não é burro.

⸻ Mas então, porque ele não insistiu? Quer dizer, eu estava a uma porta de distância.

Suspirei ⸻ Ele não quer me ferrar, se pegar você enquanto estou na delegacia eu tenho um álibi...

⸻ Ele é... Tipo um parente seu ou algo assim?

⸻ Tipo isso. ⸻ desconversei. ⸻ Você vai estar segura até sexta, mas temos que pensar num jeito de você fugir.

Me surpreendi quando ela pegou o balde de pipocas de mim e o colocou na mesa.

⸻ Por que está me ajudando? ⸻ perguntou olhando nos meus olhos.

⸻ Ah... É... Não gosto de ver gente se ferrando a toa. Aliás... Acho que ainda não ouvi um "obrigada".

Ela riu baixando os olhos de um jeito inocente. ⸻ Obrigada...⸻ me encarou ⸻ Nunca conheci ninguém que acreditasse em mim antes. ⸻ falou, e pude sentir a sinceridade em cada palavra.

⸻ Tenho esse problema também, embora eu seja mais sincero que a maioria das pessoas, elas já esperam que eu minta, então a verdade, para elas não significa muito.

⸻ Bom... Seja como for, não vou esquecer isso.

Me estiquei para pegar a pipoca de volta. ⸻ Vamos comer a isso então.

***

Eram quase onze horas quando vi seus olhos pesando e ainda lutando contra o cansaço, tentei não rir das várias vezes em que ela se virou para mim com a pergunta na ponta da língua, mas não teve coragem de pronúncia-la.

⸻ Você pode ficar com a cama.⸻ falei me levantando, e rindo de sua cara de espanto. ⸻ Não era isso que você queria me perguntar?

Ela suspirou e se levantou também. ⸻ Eu me contento com o chão, você já está me ajudando demais.

Não sabia se era o cansaço, ou uma coragem repentina, mas segurei seu queixo para falar bem perto dela. ⸻ Minha mãe puxaria meu pé se te deixasse dormir no chão.

Ela riu e não se afastou. ⸻Então é um bandido cavalheiro?

Dei de ombros, e apesar de tudo, eu tive que me afastar. ⸻ Durmo na minha cama todos os dias, você tem pouca chance de aproveita-la. Vai lá. ⸻ a encorajei ⸻ É toda sua.

Ela nem precisava dizer, eu conhecia aquela cara, a cara de quem precisa de ajuda, mas não sabe, ou odeia pedir. Eu já tive aquele mesmo ar de inocência, já implorei por ajuda com os olhos, gostaria que alguém tivesse percebido.

Ela se apoiou nos pés e me deu um beijo na bochecha. ⸻ Obrigada, eu...

Balancei a cabeça negativamente, quase em choque depois de um beijinho... ⸻ Tranquilo. ⸻ falei quase sem voz.

Foi a minha deixa pra sair de perto dela, a carência estava me matando, e a presença dela não ajudava em nada.

Me acomodei no sofá, que era, sem dúvida, pequeno demais para mim, enquanto a via se deitar na minha cama e colocar as cobertas até a altura do pescoço. Não por desconfiança, mas porque naquele lugar, tanto o sol escaldante do dia, quanto os ventos frios da noite eram traiçoeiros.

Se dessa vez Você Ficar Onde histórias criam vida. Descubra agora