20 Tudo novo

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Ian

Eu mal conseguia dormir, já havia chateado Chad, o cara dormindo na cama de cima, por eu não conseguir parar de me mexer.

Pedi desculpas pela terceira vez e me levantei para me sentar no chão, onde eu não incomodaria ninguém.

Peguei meu envelope debaixo da cama para olhar outra vez todas as minhas correspondências naqueles três meses.

As meninas passaram muito tempo escrevendo bilhetinhos para mim. Mel desenhava um relóginho contando os dias para que eu voltasse para elas. Lis fazia Mari escrever com as palavras dela, sobre todas as fofocas da escola e dos ensaios. Meu coração estava apertado de saudade, mas não queria mesmo que elas me vissem daquela forma. Naquela situação. Preferia que elas pensassem em mim só como o professor delas, o amigo que as ensinava a dançar, e que estava longe, temporariamente.

Sully aparecia toda semana, disse que estava entrando para a academia de polícia, percebeu que queria usar seus dons a serviço do bem de agora em diante. Ter me ajudado a salvar Judy despertou uma coisa boa nele. Mas ele ainda não entrava em carros, pelo menos até onde ele.me contava.

Judy não me visitou, e nas últimas semanas quando já havia perdido as esperanças de que ela fosse dar um sinal, recebi um bilhetinho coberto de glitter com o cheio inconfundível dela e três palavras escritas.

Sinto sua falta.

Podia ser pouco, mas era meu bilhete favorito. Eu conseguia entender o motivo de ela não me visitar. Como também entendi seu desespero quando ela me perguntou se eu havia visto tudo aquilo. Não precisávamos de mais visões deprimentes para lembrar. Eu só queria saber se ela me veria depois de tudo.

Ela podia não ter ficado, mas estava bem. Era o que importava. Eu também ficaria. Todos nós...

Voltei para cama depois de reler cada bilhetinho, já estava morrendo de sono. Por incrível que pudesse parecer, estava sentindo falta da minha cabana, dos móveis doados, da minha cama, e claro, da minha rotina nada solitária, das meninas correndo e pulando... Sim, eu queria tudo aquilo de volta.

John me garantiu que o galpão estava sendo cuidado. Que nosso lugar de ensaios estava seguro e pronto para quando eu voltasse.

E que saudade da música ecoando por aquelas velhas paredes de madeira desgastadas, dos ventos que davam uma melodia a mais enquanto passavam pelas frestas do telhado... Saudade de casa.

Já quase amanhecia quando finalmente peguei no sono. A ansiedade sempre foi uma inimiga, mas daquela vez, seria impossível. O dia da minha volta a sociedade pela segunda vez... Um recomeço de verdade, uma vida de verdade agora.

***

Logo depois do café da manhã, fui chamado a sala do diretor da penitenciária, tinha alguns documentos para assinar, mas não esperava encontrar aquele juiz ali. Na mesma hora minhas pernas começaram a pesar uma tonelada. Será que ele havia arrumado outra coisa para me manter ali? Não... Por favor...

⸻ Sente-se, Béjart. ⸻ falou calmamente, apontando a cadeira diante da mesa.

Fiz o que ele mandou, mas tinha certeza que minha cara não estava das melhores.

⸻ Quero atualizar a sua situação. ⸻ falou calmamente.

Soltei o ar. ⸻ Por favor... Não me diga que isso ainda não acabou..

O homem riu estrondosamente. ⸻ Não, garoto. Está tudo certo. Só quero dizer que o senhor Gotti foi mandado para uma prisão do outro lado do país, de onde ele dificilmente sairá.

Se dessa vez Você Ficar Onde histórias criam vida. Descubra agora