[POV Sue]
Hoje não teve despertador me acordando, nem sol entrando pela janela (obrigada cortina), nem Jane sonâmbula. Foi uma noite comum, o dormitório até tava mais silencioso que o normal, mas de alguma maneira, mesmo cumprindo minhas oito horas de sono diárias, eu tava exausta. Literalmente, não queria levantar da cama — ok, nenhuma novidade, mas comparado a esses últimos dias, é uma novidade. Desisto de tentar dormir, solto um suspiro alto e pego meu celular embaixo do travesseiro. Observo de canto se Jane não acordou — sinceramente, a garota dormia que era uma pedra, ela não ia acordar com um suspiro, mas enfim, hábitos. Ligo a tela do aparelho e vejo o chat de Ben e Emily — as únicas pessoas com quem eu conversava, além da minha terapeuta. A última mensagem foi da Em, era uma figurinha de um gatinho e diversos coraçõezinhos envolta dele, muito fofa, ela me enviou depois de confirmar que tinha chegado bem em casa. Chegado bem em casa depois de sair do campus e sair do campus depois de eu abraçar ela absolutamente do nada e eu abraçar ela absolutamente do nada porque não consegui me segurar depois que ela me deu um poema da maneira mais fofa e adorável possível. Ok, respira Susan. O poema. O poema que eu atravessei o campus correndo, em direção ao meu quarto, só porque queria ler ele sem nenhum tipo de interrupção. Os versos de Emily, assim como ela, preencheram meus pulmões com ar e meu corpo inteiro com esperança. Sim, a mais pura e genuína esperança, que eu não sentia há tanto tempo — esperança de que ficaria tudo bem. Além disso, eu me senti extremamente especial por ela compartilhar algo tão pessoal comigo, Emi sempre comentava sobre a sua escrita e sempre de maneira muito intensa, pessoal e até... cuidadosa. E ela escreve tão geniosamente bem, é surreal o que um poema conseguiu despertar em mim. Inconscientemente, me pego sorrindo e olhando pro teto, com meu celular em cima do meu peito. Pisco algumas vezes, pego o aparelho e desejo bom dia pra Emily, em seguida mando mensagem pro Ben, pra ver se ele já tá acordado (acho difícil).
[06:53, 23/07/2021] Você: Bom dia
[06:53, 23/07/2021] Você: Pra quem?
[06:54, 23/07/2021] Ben: Pra absolutamente ninguém
[06:55, 23/07/2021] Ben: Vem, vamo tomar café
[06:56, 23/07/2021] Você: Já vou, preciso levantar
Solto uma risada baixinha com a resposta do Ben, é engraçado quando nós dois estamos no mesmo mood de manhã. Da maneira mais silenciosa possível, pego minhas roupas no guarda-roupa e vou pro banheiro me trocar — pela segunda vez no dia, checo se Jane ainda tá dormindo. Fico apresentável e saio do quarto apenas com meu celular no bolso e as chaves na mão. Mando mensagem pro Ben, mas o elevador não para no andar dele. Quando saio do prédio e caminho pro refeitório, consigo ver a silhueta do garoto de longe, sentado em um banco perto da entrada.
- Adorei a escolha da roupa - ele diz, assim que eu me aproximo. - Não existe nada mais "por favor não tente contato, pois já desisti do dia de hoje" do que um conjunto de moletom, ainda mais usando o capuz - pisca debochado, expressando uma fachada com as mãos.
- Alguém já te mandou pra aquele lugar hoje, Newton? - pergunto, puxando a camisa dele pelo ombro como quem diz "levanta, caminha!!", sinceramente só queria tomar um cafézinho logo.
- Ainda não, tá muito cedo - ele diz, se levantando e caminhando pro refeitório.
- É, tá mesmo - espio Ben de canto, ele parecia cansado, caminhava olhando pro chão e suas olheiras estavam enormes. - Ben? - chamo, parando ele na entrada do refeitório - Tu não dormiu essa noite né? - ele acenou negativamente, murmurando um "h-hm". - Quer falar sobre alguma coisa?
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900 segundos de tensão
FanficEmily Dickinson é uma jovem universitária da cidade de Amherst, que no auge dos seus 21 anos se encontra entediada. Certa noite, Emily marca de ir ao cinema com seu irmão mais velho, mas o que não esperava era conhecer uma das pessoas mais inspirado...