900 segundos de tensão

Capítulo 4 - "Hope" is the thing with feathers

[POV Emily]

Acordei com o som estridente ressoando do meu celular, minha vontade era de jogar o aparelho na parede, mas só arrastei o dedo indicador na tela e o barulho imediatamente cessou. Quinta-feira, tenho prova hoje de manhã e da cadeira que eu mais abominei nesse semestre, a única que optei por fazer a prova semestral ao invés do trabalho. Me arrastei para fora da cama, esticando os lençóis logo em seguida, para que eu não caísse na tentação de me jogar e voltar a dormir. Depois de sentir, ou melhor, não sentir a brisa fresca da manhã, já imaginei que o dia seria absurdamente quente. Quando abri o guarda-roupa e o encarei como todas as manhãs, mesmo sabendo que iria me atrasar, optei pelo clássico e confortável: regata de alça fina preta por dentro de jeans claros e é óbvio, all star preto de cano alto nos pés. Desci as escadas com meus cabelos molhados do chuveiro e minha mochila nas costas e após três "bom dia" e um aviso para Maggie que não almoçaria em casa, eu estava atrás do volante do meu filho com minha mochila no banco do passageiro, onde uma maçã repousava. Peguei meu celular pela primeira vez depois de desativar o despertador e vi a notificação de Sue na tela de bloqueio.

[07:04, 22/07/2021] Sue: Bom dia flor do dia

E de novo, lá estava, aquela sensação, como se uma nuvem de borboletas, um enxame de abelhas ou um bando de pássaros voassem pela minha barriga. Eu tenho tentado nomear esse sentimento pelos últimos dias e sinceramente tem se tornado frustrante, enquanto poetisa, não conseguir descrever algo tão... intenso.

[07:21, 22/07/2021] Você: Boooom dia, Sue

[07:21, 22/07/2021] Você: Dormiu bem?

Jogo o celular para o lado da mochila e ligo o carro, saio da garagem e faço o mesmo trajeto de todos os dias. Quando chego no campus, caminho rápido para o prédio, torcendo para que o professor não esteja adiantado. Nos corredores, cumprimento alguns rostos conhecidos com um breve "bom dia." Quando chego na sala e vejo todos sentados e o professor distribuindo as provas, me apresso em direção a uma cadeira, colocando minha mochila ao meu lado e procurando meu estojo. A prova foi extensa, afinal, era o conteúdo de um semestre, mas quando terminei de revisar minhas respostas e entreguei as folhas para o professor, estava satisfeita. Sento em um banco logo em frente do prédio e absorvo um pouco do sol que inundava o campus, imediatamente esquentando toda minha pele. Eu estou cansada e sei que minhas olheiras não me ajudariam a disfarçar isso, ontem passei o dia no campus e quando cheguei em casa continuei trocando mensagens com Sue até tarde, o que me obrigou a estudar pra prova de hoje até mais tarde ainda, resultado: duas horas de sono. Sue. Meu Deus SUE, eu não respondi mais ela, deve tá achando que eu capotei o audi. Levanto minha cabeça recostada no banco em direção à minha mochila, que estava apoiada nas minhas pernas, no chão, à procura do meu celular.

- Bom dia, Dickinson - escuto uma voz familiar dizer. Quando olho para a outra extremidade do banco, lá está ela. Sue. Sue impecável com seus jeans rasgados e sua regata branca cavada. Sue com seu sorriso de canto e seus olhos cor de cacau direcionados para mim. Há quanto tempo ela tá sentada ali? Eu fechei os olhos literalmente por dois minutos.

- Bom dia, Gilbert - respondo, no mesmo tom. - Tá aí há quanto tempo?

- Tempo suficiente. - ela diz, aumentando seu sorriso. - Tava caminhando pelo campus e aproveitei pra ver se o audi tava no estacionamento e não capotado em alguma avenida de Amherst. - falou, apontando o queixo pra lataria vermelha estacionada ali perto.

- Que bonitinho, ela se preocupa - brinquei, mas era realmente adorável a preocupação de Sue pra saber se cheguei bem nos lugares. - Eu me atrasei e corri pra sala assim que cheguei. - falei enquanto procurava na minha mochila a maçã que não consegui comer mais cedo.