Capítulo 3 - 3 em 1

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     Marcela sabia que algumas coisas muito ruins poderiam acontecer ao mudar de escola. Dentre todas as opções as piores para ela eram, sem dúvidas, ficar totalmente sozinha na escola ou se meter com as pessoas erradas da escola.

A primeira opção não aconteceu.

A segunda ainda é uma grande incógnita.

Marcela acha que seria melhor se a primeira opção tivesse acontecido. Ela não se sente nada bem assistindo Lisbete bolar seu cigarro de maconha enquanto ela acoberta a colega de quarto na porta do banheiro.

— 3 em 1! — Uma voz masculina, e conhecida, fala alto enquanto ele vai chegando perto da guarda magrela e anêmica. — Eu tava te procurando.

Marcela tenta fingir que Victor não está falando com ela. Primeiro porque a irmã dele está fumando no banheiro e segundo porque "3 em 1" foi o apelido que ele colocou nela. Marcela está fazendo o trabalho de 3 estudantes? Sim. De forma bem-feita? Nem de longe.

Vamos aos fatos: faz duas semanas que as aulas começaram e Marcela não escolheu um grupo de extensão. A Lisbete não estava brincando quando contou o que acontece quando não se escolhe um lado. Marcela, com seu 7 suado em matemática, está no grupo de robótica. O Lucas riu, muito, e o Sérgio até tentou dar uma moral, mas era impossível. O Carlos ficou preocupado e a Marcela acha tudo tão fora da realidade que não entendeu metade das coisas que aconteceram até aqui. O que se sabe, entretanto, é que ela é péssima em exatas em um grupo cheio de pessoas de exatas.

Tem aqueles que, assim como a Marcela, foram empurrados à força para o grupo, mas eles já se habituaram tanto a não existir que Marcela nem decorou seus rostos. Ela poderia fazer o mesmo, mas iria contra a sua natureza abandonar o barco que se enfiou. Juan, o filho do prefeito e que já se formou, é o coordenador oficial do grupo, mas ele vai só uma vez por mês verificar os 'projetos e durante os dias é o Victor quem cuida de tudo.

Victor, o irmão gêmeo da Lisbete e que ela odeia ser comparada. Marcela acha que ele tem olhos bonitos, como os da irmã, mas o quanto também é escorregadio é o que assusta Marcela. Lisbete e Victor são daquele tipo de pessoas que conseguem absolutamente tudo o que quiserem apenas pela lábia. Muito bom na política, muito estranho na vida real.

— Não te esquece de levar os papeis e cartuchos — Victor fala, está se referindo ao que Marcela disse que faria quando deixou o subsolo até o térreo, mas que foi impedida pela voz fofa e um pouco incisiva de Lisbete. Agora já não tem mais tempo, eles têm aula de história em 5 minutos.

— Vou depois da aula — tenta argumentar, Victor franze o cenho.

Os cabelos são pretos, como os de Lisbete, mas eles se vestem bem diferente. Victor tem mais costume de usar camisetas brancas e calça jeans, quase nunca se vê ele de preto.

Lisbete empurra a porta do banheiro, Marcela vai abrindo espaço para que ela passe. Victor cruza os braços, a guarda engole em seco.

— Aqui em cima? — pergunta Victor, Lisbete bufa. Ele olha para Marcela. — Pode se ferrar muito se pegarem ela.

— Nunca me pegam, piá — argumenta guardando o isqueiro na saia. — Te apressa e deixa esse chato pra trás! — sussurra, passando por Marcela enquanto sorri.

Marcela se coloca do lado do rapaz mais alto e cruza os braços como se fosse uma cópia, um pouco mais estranha, dele. Ambos observam Lisbete caminhando até a sala como se não estivesse levemente alterada e Marcela aproveita para perguntar:

⚢ Não Mate Borboletas Por Ela ⚢ [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora