Capítulo 31 - Tudo bom é agridoce

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Abril

Giulia esqueceu de piscar pelos últimos 60 segundos.

- Hum... Muito obrigada - Ela olha a mulher de cima a baixo e para alguns minutos encarando a calça jeans que aperta todas as estranhas da mulher, a deixando com uma cintura fina demais para ser saudável.

Os óculos de Jaqueline são grandes, mas finos, e estão acima dos olhos redondos levemente puxados e escuros feito carvão. A professora tem centímetros a mais que Giulia, é até mais alta do que Marcela, e seria impossível que os ossos de sua clavícula estivesse mais expostos do que isso. Não deu nem um único sorriso desde que Giulia entrou, voando depois de perder a hora no banheiro com Marcela, para conversar com eles.

Hoje é quinta e Giulia veio conversar com Juan na sala de aula grande e vazia reservada exatamente para a orientação dele.

- Juan disse que você estava problemas para encontrar um professor para escrever a carta depois do... Problema. - Jaqueline tinha uma voz alta e potente, uma que indicava não ser a primeira vez que fazia aquilo. - Vai ser um prazer ajudar.

Depois de todo o ocorrido no refeitório o que mais irritou o diretor foi que Giulia começou a ser tratada como algum tipo de estrela desde então e ele não iria aceitar que rebeldia se tornasse algo admirável em seu colégio, o que Giulia acha que faz muito sentido. Entretanto ela segue acreditando que não precisaria ser contra as regras se ele fizesse o seu trabalho direito. Ela não disse isso para o diretor, já havia passado do limite de risco ser expulsa. Ela acreditou em Lisbete, um dia antes da revolta, que caso Giulia começasse algo público na escola e obtivesse apoio de outros estudantes, o diretor não teria opção que não abaixar a cabeça, e funcionou. Só que Lisbete também repetiu, logo depois disso e inúmeras vezes, que Giulia agora deveria agir como se estivesse arrependida. Ela não é a melhor atriz, mas com certeza sabe como ser cara de pau.

Giulia escutou tudo o que o diretor disse como se estivesse de importando e se desculpou por não consegui mudar as coisas, mas todos os alunos sabem que ela faria de novo e faria pior.

- E vou falar com o professor de português para escrever também. Getúlio não gosta de ir contra o diretor, mas ele gosta de você - Jaqueline fala, e as costas de Giulia relaxam no mesmo minuto.

A professora não tem mais de 27 anos. É a docente mais nova da escola, a única com menos de 40 anos com certeza, e foi uma aluna prodígio, como Juan e depois Mônica. Depois do doutorado ela decidiu, para o desespero de alguns e felicidade de outros, lecionar química. Giulia não teve muito tempo de conhecê-la, na verdade, Jaqueline só dá aula para as terceiras séries e ainda é o começo do ano. É certo que Giulia não é a aluna mais dedicada, mas ela sempre falou muito bem de Jaqueline nas costas dela. Nunca falou com a professora diretamente, mas notou que depois do ato de rebeldia os professores passaram a saber quem ela era. Isso não era exatamente uma boa coisa na maioria das vezes.

- Como estão as suas atividades? - Jaqueline cruzou os braços cobertos por um blazer preto aberto e olhou Giulia de cima abaixo. - Podemos conversar sobre as universidades que você vai aplicar?

Giulia tinha feito uma lista com Marcela, mas não trouxe. Ela fez uma careta e, por essa, Jaqueline já soube do que de tratava. Olhou Juan mais uma vez, como se conversassem entre si sem palavras. Giulia tentou lembrar quantos anos Juan tinha, algo entre 20 e 21 anos, mas o rosto sem um fio sequer o deixava bem parecido com os estudantes almoçando nesse exato minuto no refeitório.

- Não é organizada, já consigo ver. - Jaqueline disse e suspirou. Giulia abaixou a cabeça. O salto preto de Jaqueline brilhava como de ela tivesse limpado 5 minutos atrás. - Giulia? - Ergue a cabeça. - Já sabe qual delas vocês pode fazer a entrevista para ter mais chance?

⚢ Não Mate Borboletas Por Ela ⚢ [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora