Capítulo 7 - Como programar uma mentira part. 1

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Maio

Marcela juntou o material o mais rápido que conseguiu em uma tentativa bem sucedida de fugir de Lisbete. Ela não quer acobertar a amiga fumando maconha no banheiro mais uma vez.

Quando o elevador se abre no subsolo, Marcela caminha sem pressa pelo local que agora já não lhe dá medo. Quando tem tempo - dificilmente - ela até para e assiste um pouco do ensaio do pessoal do teatro, tentando fugir um pouco da saudade de Lucas enquanto imagina em qual papel ele se sairia melhor.

— Não consigo encontrar o erro — Mônica pragueja sem ao menos olhar para Marcela, mas está falando com ela porque não há mais ninguém dentro da sala de robótica. — Victor está falando com o Juan sobre o que precisamos fazer guardar as impressoras 3D. Ele odeia a parte burocrática tanto quanto eu, mas tive uma boa desculpa para ficar aqui.

Seus olhos nem piscam e Marcela vê os códigos pelo reflexo nos óculos da loira.

— E... - Mônica aperta o enter. — Erro. — Suspira e finalmente olha para Marcela parada atrás do computador. - Eu nunca vou sair daqui.

— Onde tá o resto do pessoal?

— Almoçando.

Claro que estão. Marcela se sente estranha ao pensar que nas últimas semanas se transformou em uma versão muito focada na extensão a ponto de esquecer de ir para a cantina depois da aula. Às vezes se sente uma versão menos branca e inteligente de Mônica, mas logo se dá conta de que está bem longe de ser como a menina que voltou a teclar loucamente em busca de um erro pequeno e bem escondido na série de códigos.

O cabelo de Mônica está preso em um rabo de cavalo que nem Hércules seria capaz de soltar e suas olheiras cresceram mais e mais no último mês, logo depois de mandarem o projeto. Aparentemente a espera a deixa mais cansada do que o trabalho de produzir um projeto.

— Quando ganharmos o dinheiro, vamos comprar um programa melhor para encontrar esses errinhos - sussurra Mônica quase para si mesma.

Marcela não sabe se a certeza de que vão ganhar o financiamento torna Mônica a pessoa mais confiante que conhece ou apenas a mais egocêntrica. Ela gosta da nerd, mesmo com toda a história entre Mônica e Lisbete. Isso porque, depois de passar mais e mais tempo com Mônica, toda a confusão lhe parece muito estranha.

Não sabe se Mônica mudou muito no último ano, mas para Marcela a loira fantasma não parece nem um pouco o tipo de pessoa que se importaria o com alguém além de si mesma para inventar uma fofoca. Mônica não fala nada sobre ninguém, nunca, nem mesmo sobre Victor. Ela está sempre 100% focada demais em trabalhar do que em qualquer outra coisa, inclusive olhar para Marcela quando essa está bem diante dela. Antes, Marcela pensou que seria difícil conviver com Mônica. Pensou que ela falaria mal de Lisbete tanto quanto essa fala mal dela, o que colocaria Marcela em uma posição muito difícil. Mônica nem fala do nome da Lisbete.

— Não quer tentar me ajudar? — Mônica está encarando Marcela, que estava viajando em sua própria cabeça enquanto se apoiava na mesa. — Eu preciso copiar e colar as partes que já sei que não tem erro para outra pasta. Pode fazer isso?

Marcela assentiu e se sentou no computador ao lado daquele usado por Mônica. Ela usa todos os seus neurônios para decorar os passos narrados por Mônica.

— Fácil, né?

Não.

Marcela arqueia as sobrancelhas e busca o nome da pasta no computador.

— O que vai fazer amanhã? — Mônica voltou a ignorar Marcela visualmente. - Vai pra casa?

— Sim. É aniversário de um amigo meu. Sérgio.

⚢ Não Mate Borboletas Por Ela ⚢ [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora